Em SP, fazenda ocupada pelo MST pertence a família investigada por sonegação de impostos

Para o MST, é inadmissível que os órgãos competentes fechem os olhos diante das irregularidades
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Foto: Divulgação MST

 

Por Coletivo de Comunicação MST – SP
Da Página do MST

 

Na última sexta-feira (7), o MST ocupou, com cerca de 150 famílias, a fazenda Rio Vermelho, no município de Gália (SP). Improdutiva e abandonada, a área é registrada como sede da empresa RV – Assessoria e Administração Ltda-me e pertence a Charles Emanuel Peixoto Teodoro de Campos e Lina Luíza Peixoto Teodoro de Campos.

Além da RV, os nomes de Charles, Lina e de outros familiares aparecem como sócios em pelo menos outras cinco empresas de capital social pequeno, como a Monarka Administração e Empreendimentos Ltda, Pontual Assessoria e Administração Ltda e a Lgc Brasil – Empreendimentos e Participações Ltda.

A maioria das empresas citadas declaram realizar atividades econômicas relacionadas a pecuária, prestação de serviços e consultorias administrativas com endereço no estado do Mato Grosso do Sul (MS). 

Familiaridade

Charles e Lina são filhos de Euclides Teodoro de Campos, ex auditor fiscal e pecuarista com propriedades nos estados de SP e MS. Em 2016, Euclides se candidatou pelo PMDB à prefeitura de Inocência, município de aproximadamente 7.669 habitantes, que endereça alguns dos empreendimentos da família.

Durante a campanha, o Ministério Público Federal realizou investigações para apurar suspeitas de enriquecimento ilícito do candidato, percebendo grandes variações entre o patrimônio líquido declarado e a real movimentação financeira familiar.

De acordo com os dados de patrimônio informados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em face da candidatura de Euclides, os bens declarados somam R$7.620.100,00, conforme consta na Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, sendo R$5.200.000,00 referentes a uma única propriedade rural, quando a família possui um número próximo a 13 fazendas, além da Rio Vermelho.

Na época, diversos jornais regionais trouxeram a tona as suspeitas. Em reportagem de 15/09/2016, o Portal Campo Grande News cita que a Receita Federal “ao consultar as declarações do Imposto de Renda, localizou diversos empréstimos entre os familiares do candidato e suas empresas, com objetivo de justificar os supostos rendimentos”.

A matéria acusa ainda que “no ano-calendário de 2012, Euclides teve total de R$ 1.425.997,81 de créditos em suas contas bancárias sem justificativa“ e que a Receita Federal investiga o núcleo familiar por sonegar o Imposto Territorial Rural (ITR) sobre suas propriedades rurais, declarando valor de R$ 28,4 milhões aos imóveis quando o valor de mercado estaria em R$ 74,5 milhões.

Ainda na campanha, Euclides fez a maioria das doações dos recursos para concorrer, correspondendo a 96,46% do valor arrecadado, sendo que nos relatórios de gastos constam receitas pagas à LGC BRASIL – Empreendimentos e participações Ltda e Campos & Santos Ltda, empresas de seus filhos Lina e Charles, levantando suspeitas de lavagem de dinheiro.

Escândalo

Investigando as diversas irregularidades, no último dia 30, dois dias antes do pleito, a Justiça Eleitoral emitiu três mandatos de busca e apreensão para Euclides Teodoro de Campos e próximos, chegando a recuperar cerca de 100 mil reais em uma das fazendas do candidato. o dinheiro estava em posse de uma cunhada de Euclides que alegou ter recebido de Charles. A suspeita divulgada na época era de compra de votos, mas ambos os processos seguem em sigilo no Ministério Público Federal (MPF) e no TSE.

Fazenda Rio Vermelho

A fazenda Rio Vermelho se tornou alvo da ação de trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra por apresentar muitas contradições, desde o envolvimento dos proprietários em esquemas ilícitos de acumulação de dinheiro, como enunciado, até a situação de abandono em que se encontram os mais de mil hectares que compõe a propriedade.

Para o MST, é inadmissível que os órgãos públicos não cumpram com seus papeis frente a situação, que é de transformar a área em assentamento de Reforma Agrária. 

A ocupação tem a função de pressionar e chamar a atenção, pois desde 2015, o Movimento tem solicitado ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a realização de vistorias na área, mas não obteve respostas.

Situada ao lado de um assentamento já consolidado e próxima a uma reserva ecológica, um assentamento na fazenda Rio Vermelho fica em uma posição bastante propicia ao cultivo de alimentos saudáveis em modelos agroecológicos, num viés de produção que coloque a saúde e o meio ambiente como prioridades a serem respeitadas. 

Assim, as famílias acampadas decidiram permanecer na fazenda, reivindicando a conquista da área como garantia do direito à moradia, trabalho e alimentação saudável. Ao mesmo tempo cobram da justiça brasileira agilidade na investigação dos crimes da família Teodoro de Campos. 

 

*Editado por Wesley Lima