“A fala do Bolsonaro vem de um desconhecimento total sobre o que é a realidade do campo”

Em entrevista, Débora Nunes, da coordenação do MST, comenta as declarações de Jair Bolsonaro contra os direitos dos trabalhadores do campo.

 

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“A população tem tido a oportunidade de conhecer quem é a figura, sua falta de compromisso e de percepção das questões sociais tão cruciais são notáveis.”

 

Por Gustavo Marinho
Da Página do MST

Na defesa da diminuição dos direitos aos trabalhadores e trabalhadora do campo, o candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro (PSL), chegou a declarar que “no campo a CLT tinha que ser diferente. O homem do campo não pode parar no Carnaval, sábado, domingo e feriado. A planta vai estragar, ele tem que colher”.

A declaração foi feita durante sabatina na TV Cultura, no Programa Roda Viva, ainda no mês de julho, onde o candidato apresentou suas propostas para o campo, sobretudo no que diz respeito ao desemprego, onde atacou os direitos garantidos pela legislação trabalhista. De acordo com o candidato “é melhor menos direitos e emprego do que todos os direitos e desemprego”.

Em entrevista à Página do MST, Débora Nunes, da coordenação nacional do Movimento Sem Terra, comentou as declarações do presidenciável que ataca os direitos dos povos do campo, além de reforçar o papel dos/as trabalhadores/as do campo e da cidade nas eleições presidenciais de 2018 e a posição do movimento frente aos ataques aos direitos ameaçados nas candidaturas do pleito.

“Temos a certeza de que o nosso projeto é o melhor para o Brasil e precisamos fazer o corpo a corpo com o povo. Nós precisamos reafirmar que a esperança de retomar o país para o povo brasileiro depende do resultado dessas eleições”, destacou a dirigente Sem Terra.

Confira abaixo a entrevista na íntegra.

As declarações do candidato Jair Bolsonaro atacam diretamente os direitos dos trabalhadores do campo. Como você enxerga essa posição do presidenciável?

O conjunto da população tem tido a oportunidade de conhecer quem é a figura Jair Bolsonaro a partir das suas posições e falas, sua falta de compromisso e de percepção das questões sociais tão cruciais em nossa sociedade são notáveis. Inclusive a sua incoerência com aquilo que fez toda a vida, fez do Legislativo, na condição de Deputado Federal, um meio de vida dele e de sua família, sem trazer efetivamente retorno para a sociedade brasileira.

Essas declarações devem servir como ferramentas de mostrar à sociedade o perfil da pessoa que quer governar o país, que são reflexos daquilo que Bolsonaro é: um sujeito bancado pelo Estado brasileiro, que recebe altos salários e, de forma incoerente recebe auxílio moradia, que utiliza verbas de gabinete dizendo que é ‘para comer gente’, que paga com recurso público funcionárias para lhe servir de forma particular.

Uma pessoa que tem isso como histórico e isso como prática não tem condição nenhuma de falar sobre questões relacionadas aos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras que foram conquistados historicamente.

Qual é o reflexo desse tipo de posicionamento de um presidenciável a menos de uma semana para o primeiro turno ? 

A fala do Bolsonaro vem de uma condição de um desconhecimento total do que é a realidade do campo, do cotidiano da vida dos camponeses e camponesas e reafirma seu posicionamento preconceituoso que ele tem com os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra, um posicionamento de classe que criminaliza o processo de luta pela terra, os movimentos populares e que faz disso uma retórica para fomentar e estimular o discurso de ódio que ele prega.

De fato o campo tem especificidades e particularidades. As atividades agrícolas e agropecuárias exigem de quem lida com a terra, do camponês e da camponesa, condições que com certeza são diferentes do trabalho urbano. No entanto essas condições demandam particularidades que possam assegurar o trabalho e os direitos desses povos, mas não no sentido da diminuição dos direitos ou dizer que o trabalho no campo é um trabalho menos importante.

Se nós fossemos pegar ao pé da letra, o trabalho do agricultor/a deveria ser uma atividade que, não só deveria ter o reconhecimento, mas a garantia de que seus direitos seriam assegurados, pois é quem está no campo que produz a condição de existência material para quem está na cidade, que é a produção de alimentos. Porém, isso é algo que está distante da possibilidade de reflexão do candidato Jair Bolsonaro.

Qual a posição do MST frente aos ataques e reformas que atingem os direitos dos camponeses e camponesas?

Temos nos posicionado desde quando o governo golpista de Temer pautou a Reforma Trabalhista contrários à proposta.

Independente do trabalhador/a estar no campo ou na cidade, devem ter seus direitos assegurados. Direitos que são frutos de muita luta e organização da classe trabalhadora no combate à exploração promovida pelos patrões.

A Reforma da Previdência, por exemplo, talvez seja algo que afete muito mais os trabalhadores e trabalhadoras do campo, onde quer retirar a condição de assegurado especial da Previdência dos camponeses, atualmente arquivada como fruto da luta da classe trabalhadora, mas que tende a voltar pós eleições.

Seguimos mobilizados e atentos a qualquer ameaça aos direitos que conquistamos historicamente e que precisam ser defendidos pelos trabalhadores/as do campo e da cidade.

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Mobilização contra Bolsonaro puxada pelas mulheres em todo país no
 último sábado, 29.

Nesse cenário, o que representa hoje a candidatura de Fernando Haddad e Manuela D’Ávila para os trabalhadores e trabalhadoras?

A candidatura de Haddad e Manuela, frente a mais um capítulo do Golpe de inviabilizar a candidatura de Lula, é a expressão da possibilidade de ser aquilo que Lula seria nessas eleições, que é a retomada da democracia no Brasil, sobretudo garantindo que o próximo presidente do país seja eleito pelo voto popular, uma vez que o Golpe que vivemos arrancou isso do povo brasileiro.

Com a retomada do caminho e do fortalecimento da democracia é a possibilidade de termos no horizonte a possibilidade de revogar tudo aquilo que foi feito nesses dois últimos anos no que diz respeito à retirada de direitos, aos retrocessos das conquistas da classe trabalhadora. 

É a retomada da possibilidade da redistribuição de renda, de que a educação não seja exclusivo de uma parcela da sociedade, é a possibilidade de que a gente possa ter escolas técnicas esparramadas pelo país, retomada de investimentos em saúde, mas acima de tudo, a candidatura e eleição de Haddad e Manuela é a de devolver ao povo brasileiro a possibilidade de sonhar.

É possível sim termos uma sociedade justa, que a riqueza produzida em nosso país possa ser socializada com quem de fato produz essa riqueza. É a possibilidade real da gente diminuir a distância entre aqueles que comem e os que não comem.

Sem sombra de dúvidas é a reafirmação da necessidade de um processo de organização e de luta da classe trabalhadora e do povo brasileiro. Mesmo com a vitória que a sociedade tem demonstrado, por mais que tentem maquiar com as pesquisas, a eleição é um passo importante para retomarmos a democracia, mas ela é sobretudo um passo para reorganização da classe para nos próximos anos recolocarmos o Brasil no caminho que precisamos.

Estamos há poucos dias do primeiro turno das eleições. Quais seriam então as principais tarefas da militância popular nessa reta final?

O maior desafio é fazermos aquilo que a gente aprendeu ao longo da nossa história, ir para o povo. Devemos continuar fazendo a disputa das ideias e de projeto.

Temos a certeza de que o nosso projeto é o melhor para o Brasil e precisamos fazer o corpo a corpo com o povo, enquanto muitos estão na compra de votos, na barganha através dos currais eleitorais, do medo e da ameaça, nós precisamos reafirmar que a esperança de retomar o país para o povo brasileiro depende do resultado dessas eleições.

Vamos fazer uma campanha com muita mística, com muito entusiasmo e muita disposição, pois a vitória é nossa! 

*Editado por Iris Pacheco