Encruzilhada Natalino: Início da longa caminhada

Nesta última quarta-feira (3), celebramos os 37 anos da Encruzilhada Natalino que segue sendo símbolo de resistência na luta pela terra
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Foto: Arquivo MST 

 

 

Por Augusto Silva da Frente Palavras Rebeldes
Da Página do MST
 
 

No final da década de 1970, quando as contradições do modelo agrícola se tornam mais intensas, ressurgem as ocupações de terra no Brasil. Em setembro de 1979, centenas de agricultores ocupam as granjas Macali e Brilhante, no Rio Grande do Sul. Em 1981, um novo acampamento surge no mesmo estado e próximo dessas áreas: a Encruzilhada Natalino, que se tornou símbolo da luta de resistência à ditadura militar, agregando em torno de si a sociedade civil que exigia um regime democrático.

Nesta última quarta-feira, 3 de outubro, 37 anos depois, a Encruzilhada Natalino segue sendo símbolo de resistência na luta pela Reforma Agrária Popular e por uma sociedade mais justa e igualitária.  
 

Veja abaixo a crônica preparada pela Frente Palavras Rebeldes: 

 
Caminhos que viram encruzilhadas, que viram trincheiras, que viram do povo sentinela avançada. Farol pra novo passo da caminhada. 
Rodopiando por altas rondas, em passos fundos no chão, chegaram foices e enxadas. Chegaram trouxas, chegaram trapos, e tantas diferentes fomes. Chegaram crianças, mulheres, e homens, olhando o futuro e deixando pra trás tantos amargos ontens. 

O medo que havia dissipou-se na rebeldia. Há tempo não se via tamanha ousadia. Canta curió, canta! Curió acéfalo sem garganta, que teus males não nos espanta. Trazemos coragem tanta!

As vidas que eram em seiscentas, de dignidades sedentas, logo eram barracos de lona, pele preta cobrindo gente, couraças contra o sol ardente e proteção pra chuva inclemente. Mas a natureza, por mais dura que seja, é amiga da gente. Não sendo amiga, a natureza desse lugar-tenente! Major, sei lá, quantas estúpidas patentes.

Enquanto a cruz dessa revolucionária romaria subia, e gente morria, mais fervor de luta o peito nutria! Não havia choro, não havia chororô, era só o dedo apontado pra cara daquele senhor. Que de pássaro nada tinha, nem as penas da humana dor. Vinha com um chicote de balas, nos retornar para o pelourinho de outro senhor. Venha! Resistiremos com amor!

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Foto: Arquivo MST 

As coisas têm nomes e por nomes são chamadas. A encruzilhada, sendo sentinela avançada, de natalino nome foi tratada. Se era natal não importava.Pra quem tinha sua fé, era a boa nova que se anunciava. Luta pra terra a ser ocupada.

Foram caminhos que viraram encruzilhadas, que viraram trincheiras, que viraram terras conquistadas!

Esse foi do povo Sem Terra o incio de toda sua longa caminhada.