Seminário debate os próximos passos da produção de café agroecológico na Bahia
O café produzido é um grande laboratório experimental, onde se desenvolve diversas técnicas
Da Página do MST
Nos últimos dias 29 e 30 de novembro, trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra se reuniram na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no Prado, no Extremo Sul da Bahia, para debater a cadeia produtiva do café com a realização do Seminário da Unidade Demonstrativa da Cadeia Produtiva do Café.
O Seminário contou com a participação do estado da Bahia e do Espírito Santo.
Com a socialização do estudo da produção de café na região, os camponeses avaliaram as últimas ações feitas pela Cadeia Produtiva do Café e debateram o próximo período, com o objetivo de o subsidiar e realiza um planejamento de transição agroecológica do café, coordenada pela própria Cadeia Produtiva.
A área conta com aproximadamente 2,2 milhões de pés de café, onde residem cerca de 120 famílias, garante também a produção familiar nos quintais para consumo próprio, além de plantarem roça branca- feijão, milho, mandioca- e cuidarem dos pés de café. Está unidade pretende ser referência de transição agroecológica para os assentamentos e acampamentos da Bahia, mas também para os demais estados onde existem assentamentos que produzem café, como Minas Gerais, Espirito Santo, São Paulo, Rondônia e Paraná.
O café produzido é um grande laboratório experimental, já que as famílias e a Escola Popular trabalham conjuntamente na área, além de contar com o Setor de Produção e o acúmulo de experiência de outros lugares do país. A Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (ESALQ-USP) e a Universidade Federal do Espirito Santo (UFES) também contribuem com o projeto.
Para Ailton Nunes, do Setor de Produção do MST, “os acampados começaram a desenvolver e cuidar de uma parte e nós achamos importante que o movimento começasse a se organizar para cuidar de uma área experimental, onde você estaria realmente discutindo e propondo novas tecnologias para os acampados da reforma agrária”.
Uma parte dessa área foi dividida a partir de três experiências distintas no processo de transição agroecológica do café. Não foi uma experiência que começou do zero, foi um processo de recuperação dos pés que estavam abandonados para que possam produzir café agroecológico.
Desde que as famílias ocuparam a área não se produz mais com veneno. Agora é experimentar técnicas para o aumento da produção, desconstruindo algumas falácias, por exemplo, que a produção agroecológica só pode ser feita em pequena escala.
Histórico da área
O Pré-assentamento Egídio Brunetto, localizado no município de Prado, no extremo-sul da Bahia foi ocupado em julho de 2015 e conta com 120 famílias. A área é uma antiga fazenda de Café que abandonou a produção em 2013, sendo ocupada dois anos mais tarde. O café, por ser uma árvore frutífera que dura quase 100 anos, permaneceu vivo e pode agora continuar produzindo.
Antes da ocupação, a fazenda produzia através com método convencional, utilizando a terra exposta, adubos químicos além de agrotóxico, que segundo ex-funcionários que hoje são acampados, eram aplicados na área através de pequenos aviões.
Os ex-funcionários ficaram desempregados após o abandono da área, e através da ocupação puderam finalmente trabalhar com aquilo que gostam sem serem explorados, controlando a sua própria produção e podendo produzir coletivamente com outras pessoas.
Jaqueline, que é acampada na área e ajuda a coordenar a Unidade Demonstrativa, conta como é o envolvimento das famílias que trabalham na área. “Agora que eles viram o trabalho da gente, que é um trabalho cansativo, um trabalho bom, porém cansativo, porque requer muitos cuidados, que a gente tem que tá ali dentro diariamente. Aí vê a brotação nova bonita, isso aí para gente é bom demais!”.
Além da área coletiva, cada família possui 5 mil pés de café. Como muitos ali nunca tiveram experiência com a produção de café, a parceria com a Escola Popular Egídio Brunetto é fundamental para o processo produtivo.
As áreas coletivas servem de laboratório. A partir da ciência somada aos saberes populares constroem experiências para aumentar a produção, provando que pode-se produzir agroecologicamente.
A unidade demonstrativa de transição agroecológica foi criada em fevereiro de 2018, e neste um ano cumpre papel fundamental para a agroecologia, no desenvolvimento da ciência e provando que a organização popular é o caminho para a liberdade no campo.
*Editado por Wesley Lima.