Encontro cria rede de comunicação popular no Paraná
Por Janelson Ferreira
Da página do MST
Na última terça-feira (13) diversos comunicadores e comunicadoras populares se reuniram na Vigília Lula Livre, em Curitiba, PR. O encontro deu início a uma articulação entre diversas experiências em comunicação na região Sul, tendo como foco a constituição de uma rede de comunicação entre movimentos sociais, universidades, organizações sociais, partidos políticos e coletivos.
A proposta da rede surge diante do cenário político atual, em que setores conservadores da sociedade se utilizam dos meios de comunicação para construir narrativas que descredibilizam pautas progressistas. A articulação pretende promover a troca de experiências entre as organizações que a compõe, criando condições para a realização de ações concretas.
Lizely Borges, da Terra de Direitos, aponta como a utilização dos meios de comunicação por setores reacionários contribuíram para a alteração do cenário político. “O impeachment da presidenta Dilma, a prisão do presidente Lula, a eleição de Bolsonaro, todos estes fatos foram fortemente influenciados pela utilização dos meios de comunicação pela direita”, afirma Lizely.
“Precisamos nos organizar, a direita foi cirúrgica na sua ação, eles definiram com exatidão, quais seriam seus pontos de ataque na esquerda”, analisa Elson Faxina, coordenador do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do Paraná.
Iris Pacheco, da direção nacional do MST, destaca a possibilidade de unidade entre as organizações que esta rede aponta. “Deve haver a compreensão, a partir de agora, de que o risco, por exemplo, de o MST ser tipificado como organização terrorista não é somente um problema dos Sem Terra, mas de toda classe trabalhadora. A mesma situação se repete, por exemplo, com indígenas e quilombolas”, argumenta.
“A comunicação popular precisa criar mecanismos de enfrentamento à concentração midiática”, é o que afirma Amaro Rabelo, membro da Associação de Estudos, Orientação e Assistência Rural (ASSESOAR).
Para a comunicadora Lizely, é fundamental pensar qual a postura que a comunicação popular precisa adotar neste período. “Não podemos somente ser uma comunicação reativa, que responde a ataques, temos que anunciar nosso projeto político”, ressalta.
Além deste combate, Rabelo ressalta um outro desafio, considerado central pela ASSESOAR. “Para nós, a comunicação popular é estratégica, principalmente se considerarmos que hoje está posto o desafio de termos que alcançar um público imenso o qual ainda não tem acesso à internet”.
“Temos a necessidade de constituir uma rede de meios, que pense a estratégia de utilização dos meios de comunicação e, principalmente, das mídias sociais”, aponta Faxina.
“Como fazer comunicação hoje?”, questiona o professor. “Precisamos contar nossa história, a vida de luta de nosso povo. A nossa história é importante arma de combate à direita”, lembra.
Pacheco também relembra o papel dos meios de comunicação nas eleições deste ano. “A esquerda como um todo, não debateu politicamente o impacto das mídias sociais na sua base e o resultado disto foi sentido nas eleições”, afirma a Sem Terra.
Sobre a rede, a dirigente sinaliza uma das suas principais tarefas. “Devemos nos atentar para a difusão de conteúdo, preocupando-se sobre como a rede pode mobilizar também as pessoas, alcançando as pessoas de mais difícil acesso”.
Curso de Comunicação do MST Ulisses Manaças
Cerca de 30 militantes participam do Curso de Comunicação do MST “Ulisses Manaças”. Com duração de 15 dias, o curso buscou preparar a militância para as tarefas relacionadas à comunicação, com uma formação técnica, em diversas linguagens, e política, atentando-se para o cenário político atual.
Conta com a realização de oficinas de audiovisual, fotografia, redes sociais, etc, além de debates sobre segurança nas redes, comunicação popular e hegemonia, entre outros.
O Curso homenageia em seu nome o Sem Terra Ulisses Manaças. Falecido em agosto deste ano, o militante do Pará foi uma das principais referências do Setor de Comunicação do MST no Estado.
*Editado por Solange Engelmann.