Ministério Público Federal repudia assassinato de trabalhadores sem-terra na Paraíba

Em nota, três órgãos do MPF também se solidarizam com MST e familiares das duas vítimas fatais

 

Por Daniela Stefano
Do Brasil de Fato 

 

A Procuradoria Geral da República (PGR), a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão na Paraíba (PRDC/PB), órgãos do Ministério Público Federal, manifestaram solidariedade aos familiares de José Bernardo da Silva e Rodrigo Celestino, brutalmente assassinados na noite deste sábado (8).

“Diante desse quadro, a PGR, a PFDC e a PRDC/PB reiteram o compromisso com a proteção dos direitos humanos dos assentados e envidarão todos os esforços perante os órgãos de investigação para que a autoria do duplo assassinato seja esclarecida e os responsáveis punidos conforme a lei”, afirma a nota, assinada por Raquel Dodge, Procuradora-Geral da República, Deborah Duprat, Procuradora Federal dos Direitos do Cidadão e José Godoy, Procurador Regional dos Direitos do Cidadão.

Em nota, os amigos do MST na Paraíba expressaram a solidariedade ao MST e aos familiares de Orlando e Rodrigo: “Consideramos que o assassinato covarde desses companheiros se inscreve como ato continuo da truculência exacerbada pelo cenário político vivido no país com a ascensão do ideário neofascista e de criminalização  das organizações e movimentos populares deste país.”

Por volta das 19h deste sábado (8), Rodrigo Celestino e José Bernardo da Silva – mais conhecido como Orlando – estavam jantando no acampamento Dom José Maria Pires, no município de Alhandra, litoral paraibano, quando quatro homens armados entraram na área e dispararam contra eles. O acampamento Dom José Maria Pires completou um ano em julho deste ano. Está na área da  antiga fazenda Garapu, vinculado ao Grupo Santa Tereza.

Paraíba: lutas e conflitos

A luta pela terra na Paraíba é antiga. As Ligas Camponesas, um dos movimentos mais importantes pela Reforma Agrária estava intensamente presente no estado entre as décadas de 1950 e 60, principalmente na região de Mari, no agreste paraibano. Até hoje, a região é marcada por conflitos, explica o professor e pesquisador da questão agrária Marco Antonio Mitidiero Júnior: “o acampamento Antas está na beira da estrada há 20 anos e fica a cerca de 500 metros da casa onde viveram João Pedro e Elisabeth Teixeira, das Ligas Camponesas”. João Pedro Teixeira foi assassinado em 1962. Décadas mais tarde, Maria Margarida Alves também seria assassinada na Paraíba, em 1983. 

De acordo com Mitidiero, no entanto, os conflitos são mais intensos na Zona da Mata e Brejo paraibano. Alhandra, local dos assassinatos deste sábado, fica na Zona da Mata e, segundo o professor, é uma área marcada pela violência no campo. O deputado e padre Luiz Couto, do PT, por exemplo, vive sob proteção da Polícia Federal há mais de 10 anos por ter denunciado a ação de pistoleiros no local. 

“É uma região violenta e muito cobiçada por conta da cana-de-açúcar e pelo minério de calcário”, afirma o professor. De acordo com ele, Alhandra está dentro da Zona da Mata, que se inicia no litoral alagoano e vai até o Rio Grande do Norte. “Há muitos conflitos e o registro de inúmeras ocorrências de violências e ameaças”, explica.

O professor ressalta, no entanto, que nos últimos anos o número de assassinatos caiu. Antes da mortes ocorridas ontem, o mais recente assassinato havia sido em 2016. Na ocasião, o assentado Ivanildo Francisco da Silva levou três tiros dentro da própria casa. Ele era presidente do PT local e apoiador da Comissão Pastoral da Terra. 

No total, 31 pessoas perderam a vida por defender os direitos das trabalhadoras e trabalhadores rurais entre 1962 e 2018 de acordo com o banco de dados de Mitidiero e da CPT Nacional.

Homenagem

Um ato político na tarde deste domingo (9) na cidade de Mari, na Paraíba, deve homenagear os trabalhadores rurais assassinados. Familiares, simpatizantes da luta pela terra e autoridades, como a presidenta do PT, Gleisi Hoffman, e o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB), devem participar do velório e ato, que ocorre na capela do assentamento Nossa Senhora Aparecida, no assentamento Zumbi dos Palmares. 

O corpo de Orlando deve ser velado na capela Nossa Senhora Aparecida, no assentamento Zumbi dos Palmares, em Mari. Era ali que ele vivia, com sua família. Rodrigo Celestino deve receber as últimas homenagens de maneira reservada, apenas com parentes e amigos, em João Pessoa.

 

*Edição Brasil de Fato