Vera Lúcia Barbosa: “Devemos ter coragem”

Durante 31º Encontro Estadual do MST na Bahia, militante Sem Terra aponta os desafios diante do aumento da violência no campo
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Para Lucinha, debater o aumento de assassinatos no campo é urgente. Foto: Adelvan Bantu

 

Por Joseane Sampaio e Rarielle Rodrigues
Da Página do MST

A luta pela terra no estado da Bahia é marcada por um processo histórico de resistência. Em entrevista para Página do MST, durante o 31º Encontro Estadual do MST na Bahia, a militante Sem Terra e assentada de Reforma Agrária, Vera Lúcia Barbosa, popularmente conhecida como Lucinha, fala sobre a violência, as ocupações e mobilizações realizadas nestes 31 anos em que o Movimento está organizado no estado.

O Encontro, que iniciou suas atividades nesta sexta-feira (14), no Parque de Exposições de Salvador, e terá seu encerramento na próxima segunda-feira (17), tem debatido a Reforma Agrária Popular e homenageado Márcio Matos, dirigente Sem Terra assassinado no mês de janeiro.

Para Lucinha, debater as questões relacionadas ao aumento de assassinatos no campo precisa ser tratado com cuidado e prioridade para o MST, mas também com toda sociedade. “Isso exige da gente reflexão e muito cuidado, porque é uma sinalização de que o grande latifúndio está ocupando mais espaço diante da nossa luta”, enfatiza.

Confira a entrevista na íntegra: 

Como se dá a questão agrária na Bahia, levando em consideração a organicidade do Movimento nas dez regionais?

A Bahia é um estado extenso e o Movimento Sem Terra é um dos maiores no Brasil em termos de expansão geográfica e também em quantidade de famílias acampadas e assentadas, mas apesar disso acredito que com todo esse avanço feito nesses 31 anos, aqui no estado, ainda precisamos nos comunicar com a população.

Geograficamente, pela expansão e diversidade que a Bahia tem, as especificidades de solo, de cultura, deixam nítido que o povo é diferente, assim como, a forma de produzir tanto da pequena quanto da grande agricultura também. Diante disso, o MST e a pequena agricultura têm seu modo de se defender, que nesse caso é a agricultura familiar, que é pensar no ser humano e também focar na moradia, na preservação das sementes, na pequena produção para a sobrevivência e o cultivo do alimento saudável, visando a preservação das gerações futuras. Essas questões são práticas e maneiras que fazem um enfrentamento belíssimo contra os monocultivos na Bahia.

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou dados em que mostram que a violência no campo cresceu 22%. Como isso se reflete na luta pela terra no estado da Bahia?

A CPT, além de ajudar a construir as lutas, faz esses estudos que subsidiam as nossas organizações e as nossas análises. Estudos esses que precisam estar presentes nas nossas ações e atitudes, principalmente da militância que está à frente da nossa organização.

São dados que nos remete preocupações, pois vivemos um tempo em que pensávamos já ter superado a pistolagem e esse jeito sorrateiro do latifúndio de ceifar a vida das pessoas, principalmente dos lutadores em defesa do meio ambiente e da terra.

A gente vê isso crescendo de um tempo pra cá. Os dados da CPT mostram o aumento do número de assassinatos e ameaças as lideranças rurais. Aqui na Bahia vivemos isso com o recente assassinato do companheiro Márcio Matos, que é um exemplo do que acontece. São assassinatos que acontecem sem nenhuma justificativa e que não tem explicação nenhuma do sistema judiciário. Isso exige da gente reflexão e muito cuidado, porque é uma sinalização de que o grande latifúndio está ocupando mais espaço diante da nossa luta.

Quais são os caminhos que devemos seguir diante dessa situação?

Devemos ter cuidado, fazer estudos e reflexões sobre a conjuntura, pois é um momento difícil e com muitos obstáculos. O nosso caminhar, o da sociedade civil, dos governos, do parlamento e do judiciário também vai moldando uma futura conjuntura e precisamos estar atentos a essas alterações, então a militância precisa estar acompanhando de perto. Devemos ter coragem, temos que seguir em frente fazendo ocupações, mobilizações, mais encontros estaduais com as mulheres e com a nossa base assentada e acampada.

Isso faria com que a nossa base se mantenha organizada e mobilizada para que a nossa militância continue na linha de frente, conquistando novos territórios. Só isso possibilita que a nossa base se mantenha organizada e mobilizada. 

 

*Editado por Wesley Lima.