Auto-organizar para formar e transformar
Da Página do MST
Os espaços levaram o nome de assembleias e foram realizadas com a participação massiva das mulheres, da juventude e das LGBT Sem Terra. Já para os homens, os debates tiveram como objetivo principal provocar uma reflexão acerca das posturas machistas que interferem na construção coletiva da Reforma Agrária Popular.
O método dos debates auto-organizados está sendo experimentado no estado há cerca de três anos nos encontros estaduais. Essa dinâmica tem garantido retornos importantes para o conjunto do Movimento. De acordo com a direção estadual, esses espaços têm proporcionado avanços importantes na participação das mulheres, da juventude e das LGBT Sem Terra na luta contra o agronegócio. Além disso, no fortalecimento da luta contra a violência.
Elaine Fritz, da direção estadual do MST, participou da &”39;Assembleia das Mulheres&”39; e ela afirma que o processo tem qualificado a formação e incidido na transformação social.
Fritz explica também que o espaço é muito importante, “porque não é apenas para fazer um desabafo ou se posicionar contra o machismo e o patriarcado, mas encontrar nas companheiras histórias em comuns, como se fosse a gente se olhando no espelho. De saber que por detrás de cada mulher Sem Terra existe uma história de resistência, que nos motiva a seguir em luta permanente”, enfatiza.
Com a juventude, a assembleia centralizou-se no “ouvir”, segundo Jobson Passos, do coletivo de Juventude do MST. “Como a Bahia é muito extensa temos uma variedade de juventude e a assembleia possibilitou isso: ouvir uma parcela da juventude e saber como é a vivência nas áreas”.
Ele comenta também que ao ouvir os relatos, “a gente consegue entender, minimamente, como são as lutas da juventude na base [assentamentos e acampamentos], como é que essa juventude se insere e cresce dentro do Movimento. A gente precisa entender essa realidade para que possamos procurar reivindicar os direitos da própria juventude”.
E continua: “ter esse espaço, onde a juventude pode falar dos anseios, medos e o que esperam para o futuro é primordial para luta do MST”.
Ingrid Assunção, lésbica e moradora do assentamento Terra Vista, localizado em Arataca, no Sul da Bahia, participou pela primeira vez de um espaço auto-organizado com as LGBT Sem Terra e acredita que esse método precisa ser construído nos assentamentos e acampamentos, ou seja, extrapolando as estruturas dos encontros estaduais.
Assunção fala também que discutir o que é ser LGBT Sem Terra tem contribuído na formação e inserção desses sujeitos na luta política do MST. Ao relembrar sobre os debates e as místicas realizadas durante a Assembleia das LGBT, comenta: “Eu chorei do início até o final. Me senti acolhida”.
“É muito difícil ser LGBT no campo, ainda temos pessoas que não entendem e muitos com um discurso fundamentalista não se propõe aceitar a diversidade que envolve nossas relações. Porém, temos também pessoas mais engajadas, que perguntam sobre e querem entender”, explica e continua: “é muito importante esses sujeitos estarem ocupando esses espaços. É uma visibilidade maior para gente e pretendo ver daqui para frente a gente estar ocupando o máximo de espaços possíveis, dando a cara a tapa. Estamos em luta constante, inclusive, com nós mesmos”, finaliza.