João de “Deus” é acusado de vários crimes desde a década de 1980
Da Página do MST
A lista de denúncias contra João Teixeira de Faria, 76 anos, conhecido como João de “Deus”, transformou a cidade de Abadiânia, no interior de Goiás. Polo de peregrinação religiosa, a cidade ganhou os holofotes da imprensa por ser o local das supostas cirurgias e curas espirituais, e o número de acusações de abusos sexuais praticados João de “Deus” não para de crescer.
As primeiras denúncias
Preso no dia 16 de dezembro do ano passado, acusado de abuso sexual e venda de pedras falsas, ele se entregou à polícia após dois dias foragidos, e em suas casas foram apreendidos cerca de R$ 1,6 milhões em dinheiro, seis armas de fogo e pedras supostamente preciosas. Além da longa lista de fiéis que atraia à cidade, João de “Deus” é conhecido por um extenso número de propriedades que estão sendo investigadas pela polícia.
As denúncia vieram a público quando dez mulheres o acusaram de abuso sexual no final de 2018. Mas não era a primeira vez que ele era acusado por este mesmo crime. Há mais de dez anos, a advogada Camila Correia Ribeiro foi uma das primeiras mulheres a denunciá-lo por abuso sexual. Com a alegação de que a menina estava acompanhada do pai e, assim sendo, poderia ter pedido ajuda, a juíza o absolveu e o processo foi arquivado.
Em 1980, João de “Deus” chegou a ser processado por crime de sedução contra a adolescente S.F.S., na época com 16 anos. O processo foi extinto em 1986 porque a família não levou a denúncia adiante. Na reportagem do Fantástico, exibida em dezembro do ano passado, a sua própria filha acusou-o de estuprá-la.
As várias propriedades de João de “Deus”
Um levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo no cartório do município de Abadiânia apresenta 27 registos de imóveis em nome de “João curador”, totalizando quase 20 mil m². Desse total, 23 se encontram na área urbana e quatro são fazendas da área rural, com 703 hectares, o equivalente a 985 campos de futebol.
Em Abadiânia, a maior propriedade de João de “Deus” é a fazenda Mocó, Soares e Tabocussú que, unificadas ao longo dos anos, somam 439 hectares. Levantamentos demonstram que o valor do alqueire na região está estimado em até 100 mil reais.
Durante seu depoimento à polícia, João de “Deus” disse que tem outras seis fazendas em Goiás, nos municípios de Crixás, Itapaci, Anápolis, São Miguel e Pirenópolis. Há hipóteses de que ele também possua ao menos cinco terrenos vazios cercados por muros.
Dos imóveis urbanos de João de “Deus” destaca-se a Casa Dom Inácio de Loyola, onde eram realizados os atendimentos. O local foi construído há mais de 42 anos e não cobra pelas consultas, embora venda remédios para o tratamento, fitoterápicos e pedras preciosas, grande parte de origem no garimpo.
A amizade com João Vieira
Reportagens apontam que João Américo França Vieira, piloto de avião, garimpeiro e fazendeiro, atuava como braço direito de João de “Deus”. Segundo a Folha de S. Paulo, Vieira é suspeito de ser o testa de ferro em um garimpo de ouro em Crixás (GO) que pertencia a João de “Deus”. Também foi acusado de cinco homicídios, embora absolvido por falta de provas.
João Vieira ainda é acusado de trocar as terras do garimpo por uma fazenda de 30 alqueires goiano à beira do Rio Araguaia, a Fazenda Vista Alegre, em São Miguel do Araguaia (GO). A ligação entre João de “Deus” e a exploração do garimpo, segundo amigos, rendeu muito dinheiro a ambos.
Em 1985, João de “Deus” preso em flagrante com 300 kg de autunita e minério com alto teor de urânio (elemento químico do qual se produz combustível para usinas nucleares). Na época ele alegou que não sabia o que transportava e foi absolvido. Pesa sobre ele também uma acusação de homicídio de um taxista, ocorrido em 1980, que também foi finalizado por falta de provas.
Ontem (13), foi concedido o habeas corpus em favor de João de “Deus” e de seu filho, Sandro Teixeira, mas ele não será absolvido, pois existem outros mandados de prisão contra ele.
Na manhã desta quarta-feira (13), mulheres do MST e do MCP (Movimento Camponês Popular) ocuparam a fazenda Agropastoril Dom Inácio, em Anápolis, de João de “Deus”, localizada entre os distritos de Interlândia e Souzânia, no interior de Goiás, em denúncia as mais de 500 acusações de abuso sexual e por Reforma Agrária.