Ato marca solidariedade à ocupação de latifúndio de João de “Deus”

Em defesa das mulheres, ações foram realizadas na ocupação Marielle em Anápolis, GO

 

Por Jossier Boleão/MCP
Especial para Página do MST

 

Aconteceu nesta quinta-feira (14), em Anápolis, no estado de Goiás, um ato político em defesa das mulheres na ocupação Marielle, realizada na fazenda Agropastoril Dom Inácio, um dos latifúndios de João de “Deus”. O ato, que teve a presença de dezenas de organizações sociais, sindicatos, partidos políticos, comitês e fóruns diversos, entre outros, levou solidariedade às 800 mulheres do MST e Movimento Camponês Popular (MCP), que denunciam as violências contra as mulheres e pautam que haja Reforma Agrária nas terras do abusador.

O ato também lembrou aniversário de um ano do assassinato de Marielle Franco. A mística de abertura incluiu o questionamento de “Quem mandou matar Marielle” e reafirmava que “Seremos resistência nesse período que fere a vida das mulheres!”, anunciou a coordenação do ato.

Para Flaviana Alves, presidente do Sindicato dos Servidores da Saúde de Goiás – Sindisaúde –, são homens e mulheres que, juntos, podem transformar esta sociedade. “Hoje, reforçamos a luta contra a Reforma da Previdência”, afirmou.

Kelly Gonçalves, da Articulação de Mulheres Brasileiras, afirmou que a ocupação Marielle é um fundamental espaço de resistência. “Não é mais tolerável aceitar com naturalidade a violência contra as mulheres”, denunciou Gonçalves.

“Toda forma de luta é positiva” sintetizou Nonó, do Bloco “Ele Não” e integrante da Comissão de Justiça e Verdade.

Frei Marcos, da Comissão Dominicana de Justiça e Paz, defendeu que a igreja deve estar junto ao povo. “Deus está na luta com todas as mulheres”, lembrou.

Para Lucilene Vitória, do Conselho Estadual de Mulheres do Goiás e da Coordenação de Entidades Negras, afirmou que “a carne mais barata do mercado sempre foi a carne negra. É também por isso que Marielle foi assassinada”.

Sandra Alves, da coordenação nacional do MCP, afirmou que essa luta é uma denúncia contra a violência e pauta a reforma agrária, enquanto Amélia Franz, da coordenação nacional do MST, ressaltou que o governo não conseguirá impedir a luta. “Movimentos do campo e da cidade vão continuar lutando. Essa ocupação tem o sentido de reafirmar que não nos calaremos diante de violência. Não somos comportadas nem princesas, somos guerreiras e lutadoras”.

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Foto: Janelson Ferreira

Ocupação em latifúndio de João de “Deus”

Desde a última quarta-feira (13), mulheres do MST e do MCP (Movimento Camponês Popular) ocupam a fazenda Agropastoril Dom Inácio, em Anápolis, entre os distritos de Interlândia e Souzânia, no interior de Goiás. A área que está sub judice tem em torno de 600 hectares e fica próxima à rodovia GO-433.

A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra, que começou na última semana com mobilizações em todo país e deve se estender por todo o mês de Março.
João Teixeira de Farias, conhecido como João de “Deus”, ficou famoso no país e no mundo por oferecer desde 1976 supostos tratamentos mediúnicos. Em dezembro de 2018 ele foi acusado publicamente de abuso e violência sexual e, desde então, mais de 500 mulheres procuraram a polícia e o Ministério Público de Goiás para relatar sobre abusos sexuais e morais.

Na região, João de “Deus” também é conhecido por concentrar lotes, terras improdutivas e terrenos na cidade. Um levantamento realizado pela Folha de São Paulo no cartório do município de Abadiânia apresenta 27 registos de imóveis em nome de “João curador”, totalizando quase 20 mil m². Desse total, 23 se encontram na área urbana e quatro são fazendas da área rural, com 703 hectares, o equivalente a 985 campos de futebol.

Dos imóveis urbanos de João de “Deus” destaca-se a Casa Dom Inácio de Loyola, onde eram realizadas as supostas cirurgias e curas espirituais e local  aonde, segundo as acusações, ocorreram os abusos sexuais praticadosJoão de “Deus”. O MST reivindica a  fazenda Agropastoril Dom Inácio, em Anápolis, interior de Goiás, para fins de Reforma Agrária.

 

*Editado por Fernanda Alcântara