Experiência com produção de alimentos saudáveis aproxima campo e cidade, no DF
Por Janelson Ferreira
Da Página do MST
Fotos: Thomas Freitas
Uma das principais formas do capitalismo aprofundar sua dominação se dá pelo distanciamento cada vez maior entre o campo e a cidade. Por diversas formas, o meio rural e o urbano são pensados de forma separados, gerando, consequentemente, um distanciamento entre as pessoas que vivem nestes espaços.
Buscando romper este tipo de separação, o MST do Distrito Federal e Entorno realizou no último dia 23 (sábado) um dia de visita de campo, com os grupos de consumo responsáveis pela aquisição de cestas agroecológicas da Reforma Agrária.
A visita ocorreu no Centro de Educação Popular e Agroecologia Gabriela Monteiro, na região de Brazilândia, DF. Buscou-se proporcionar a troca de experiências entre famílias que moram no espaço urbano do Distrito Federal e aquelas assentadas pela Reforma Agrária na mesma região.
Segundo o integrante da direção estadual do MST, Francis Rocha, com o dia de visita busca-se aproximar produtores e consumidores, possibilitando que conheçam o processo produtivo dos alimentos que consomem. “Queremos romper com a lógica que separa quem produz e quem consome, que é uma lógica do capital. Aqui, existem agricultoras, agricultores, co-agricultoras e co-agricultores, sendo que há solidariedade, troca de experiências, cooperação entre eles”, explica o dirigente.
De acordo com Rocha, o trabalho cooperado está presente na produção, comercialização e no consumo. “O co-agricultor faz parte da cooperação, não só consumindo e comprando, mas na construção do processo produtivo e de comercialização, em uma via de mão dupla, construindo uma nova sociabilidade pra além de vendedor e comprador”, ressalta.
A visita teve início com um debate sobre a importância da aproximação entre campo e cidade. Trabalhadores do MST apresentaram às famílias o que é a Reforma Agrária Popular e a importância da contribuição da sociedade nesse projeto.
Em seguida, as famílias conheceram o Sistema Agroflorestal do Centro e a produção de Agostinho Reis e Neuda Ferreira. De ambos os locais saem os produtos que abastecem as cestas agroecológicas. Por fim, foi realizado um debate sobre como melhorar os dias de visitas e as cestas. Durante a visita, toda a alimentação (café-da-manhã, lanches, almoços) foram elaborados com alimentos produzidos pelas famílias do MST.
As cestas agroecológicas são uma forma das famílias que moram na cidade contribuírem com a luta do Movimento. “Por meio da melhoria dos hábitos alimentares, estas pessoas se tornam parceiras da luta pela Reforma Agrária e adquirem alimentos produzidos de forma agroecológica em assentamentos e acampamentos do MST na região”, explica Rocha.
De acordo com uma das co-agricultoras das cestas agroecológicas, Juliana Acosta, “é muito bom poder comprar direto de quem produz, e de alguma forma contribuir para a permanência de famílias no campo e a organização do movimento”.
Para Acosta, ainda há a dificuldade de encontrar produtos saudáveis a um preço acessível nos supermercados. “O nosso hábito alimentar mudou bastante em casa. Somos apenas um casal e um bebê e fazemos de tudo pra não ter desperdício, então preparamos nossas refeições sempre com bastante verduras e legumes variados”, afirma a co-agricultora.
Cestas agroecológicas mostram a viabilidade da Reforma Agrária Popular
Ao longo da história humana, a agricultura camponesa se desenvolveu baseada na diversidade e harmonia entre todos os seres vivos da natureza. Atualmente, a defesa deste modelo se dá por meio da luta pelo acesso à terra e aos meios de produção, do desenvolvimento da agroecologia e busca por uma comercialização justa de seus produtos.
“O sistema alimentar atual é concentrado pelo grande varejo e pelas indústrias de processamento, que incentivam uma cultura alimentar com produtos ultraprocessados”, argumenta Francis Rocha.
O dirigente explica que a Reforma Agrária Popular questiona este modelo industrial e injusto de agricultura. “A Reforma Agrária Popular é a estratégia do Movimento Sem Terra para a produção no campo e demonstra que é possível produzir alimento saudável para alimentar a classe trabalhadora”, afirma.
“Quando trazemos para o DF a experiência das cestas e as visitas nos assentamentos produtores, demonstramos que nossa estratégia é possível, viável e necessária”, ressalta Rocha.
Para Juliana Acosta, nesse as famílias assentadas necessitam de muito apoio para seguir na luta pelo projeto de Reforma Agrária. “Com este governo, a luta pela terra e pelos direitos dos sujeitos do campo, floresta e águas estão ainda mais em disputa e precisando de muita solidariedade”, finaliza Juliana Acosta.
A próxima edição do Dia de Visita acontece no assentamento Pequeno Willian, região de Planaltina, DF, em data a ser confirmada.
*Editado por Solange Engelmann