Um milhão de pessoas são atingidas por conflitos no campo, em 2018

Os dados dos Conflitos no Campo de 2018, registrados pela CPT, evidenciam um aumento de quase 36% de pessoas envolvidas em conflitos, em relação ao ano anterior
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Solange Engelmann
Da Página do MST

Atualmente, são vários os ataques às conquistas dos trabalhadores e trabalhadoras brasileiros, como a ameaça da reforma da previdência, a privatização do petróleo, o ataque à educação pública e às universidade públicas e o incentivo ao ódio e opressão contra as populações pobres.

Diante deste cenário, o governo de Bolsonaro promove diariamente a violência e repressão contra os trabalhadores do campo, que se concretizada e avança de forma assustadora pelos rincões do país. Ao todo, cerca de um milhão de pessoas foram atingidas por conflitos no campo brasileiro no ano passado. Os dados são da Comissão Pastoral da Terra (CPT), publicados no caderno de Conflitos do Campo de 2018.

Em 2018, cerca de 960.630 pessoas foram atingidas, contra 708.520 pessoas em 2017. Isso evidencia um aumento de quase 36% de pessoas envolvidas em conflitos do campo, em relação ao ano anterior. No caso específico dos conflitos que envolvem a questão da terra, observa-se que em 2018 houve um crescimento de 11% em relação ao ano anterior.

Os registros da CPT também denunciam que no período entre 1985 e 2018, 1.938 trabalhadores e trabalhadoras foram assassinados em conflitos no campo, gerando um total de 1.466 ocorrências. Desse total, somente 117 responsáveis pelos assassinatos foram julgados, tendo sido condenados apenas 101 executores e 33 mandantes.

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Para Alexandre Conceição, da coordenação nacional do MST, a luta pela terra no Brasil encontra-se em um momento muito difícil, que somente poderá ser modificada com a derrubada desse governo.
“O discurso de Bolsonaro é um discurso violento, de ódio contra os Sem Terra, os indígenas, os camponeses, contra a agricultura familiar, os ribeirinhos, o povo da floresta. Precisamos seguir fazendo a resistência ativa e continuar ocupando”, explica Conceição.

Desde o início da sua campanha presidencial no Brasil, o governo atual tem disseminado um discurso de ódio e  criminalização contra a luta social e luta pela terra, o que teve o efeito de estopim para ampliar a violência no campo e o assassinato de trabalhadores rurais.

Porém, a tendência é que essa violência se agrave. Em declarações à imprensa na última quinta-feira (29), Bolsonaro anunciou que irá enviar um projeto de Lei à Câmara Federal para permitir o uso de armas por fazendeiros no campo e liberar o ataque armado contra os trabalhadores Sem Terra.

A diretoria e coordenação nacional da CPT se manifestou em nota à imprensa sobre o assunto, demonstrando seu repúdio às declarações recentes do presidente Bolsonaro, sobre a liberação de armas para os fazendeiros no campo. Segundo a Comissão, o projeto dá carta branca para atuação de milícias armadas no campo.

Conforme a nota da CPT, Bolsonaro tenta culpar as próprias populações do campo pela violência que enfrentam historicamente dos latifúndios, como os Sem Terra, os indígenas e quilombolas que buscam defender ou reaver territórios dos quais foram expulsos.

A CPT ressaltou ainda que a fala do presidente reafirma que a propriedade é sagrada, “sem se atentar para a &”39;função social da propriedade&”39;, como determina a Constituição Federal (arts. 185 e 186). Deixa de lado, também, a forma como foram constituídas tais &”39;propriedades&”39;, muitas delas frutos de esbulho e violências contra os povos tradicionalmente ocupantes dessas terras, e outras tantas oriundas de grilagem”, denuncia a nota.

Uma das principais causas do discurso violento contra os trabalhadores do campo ocorre porque o projeto do governo de Bolsonaro defende as empresas de armamento, as empresas do agronegócio e o latifúndio, que concentram terra e se utilizam da violência para atacar trabalhadores rurais.

O discurso do governo também procura desviar a atenção da população para perguntas que permanecem sem respostas como: os casos de corrupções de seu governo e de crimes não esclarecidos, como da ex-vereadora do Rio de Janeiro (PSOL), Marielle Franco.

“O Bolsonaro tem que responder ao povo brasileiro, aonde está o Queiroz? Quem são seus amigos da milícia no Rio de Janeiro? E quem mandou matar Marielle? É isso que ele tem que responder pra sociedade, e não incentivar mais violência no campo”, alertou Conceição.
 

Confira o relatório completo aqui: https://www.cptnacional.org.br/publicacoes-2/destaque/4687-conflitos-no-campo-brasil-2018

Editado por Fernanda Alcântara