Crônica | Futebol e reforma agrária no centro das atenções
Final da 1ª Copa Estadual da Reforma Agrária tem um significado para além dos gramados cearenses

Por Celso Aquino
Do Site do Brasil de Fato
Maio de 2019, Fortaleza, Estádio Arena Castelão, 9h da manhã, os termômetros apontavam 32° quando a bola rolou nas finais da I Copa Estadual da Reforma Agrária. Parecia estar a 40°, na sombra. Para quem estava à beira do campo, na cobertura jornalística, os treinadores, reservas, os narradores e equipe técnica da competição, a sombra, aplacadora do calor, era uma possibilidade tentadora, ali, a alguns metros de distância, muito tentadora. No entanto era impossível ficar um centímetro distante daquela imagem: mulheres, homens, trabalhadores e trabalhadoras do campo cearense, ocupando aquele espaço, o centro das atenções.
Pra se ter uma ideia da dimensão que foi esse acontecimento, me vejo obrigado a recorrer aos números. Foram mais de dois mil atletas, divididos em 150 times, femininos e masculinos, com etapas municipais e regionais, lançada dia 15 de dezembro de 2018 e jogos em todas as regiões do estado desde dia 5 de janeiro de 2019. Um campeonato desse tamanho não teria lugar melhor para a final.
Os times saiam do vestiário carregando duas faixas, uma pedindo a liberdade do Presidente Lula e a outra, “Ganhando ou perdendo, mas sempre com democracia” frase erguida durante a fase da Democracia Corintiana. E nesse clima mais de celebração e luta do que competição, iniciou-se a final da categoria feminina, Barrado Leme (Pentecoste) e Novo Horizonte (Tururu) fizeram um jogo muito equilibrado, com muita qualidade técnica das atletas e com um ritmo acelerado do início ao fim. Empatados no tempo normal, as batedoras do Novo Horizonte demonstraram superioridade nos pênaltis, 3×0 e levantaram a taça.
Ao som de aplausos entraram em campo os times da final masculina, Acampamento 1º de Maio (Sobral) e Mulungu (Tururu). Muitos jogadores, maravilhados por estarem ali, não escondem a alegria no rosto, alegria essa, presente do início ao fim da competição festiva. Mais uma vez o equilíbrio e a garra dão a tônica na partida. O sol a pino não desanimou os lutadores do povo e da bola. Mais um empate ao final do segundo tempo. Os times reúnem-se ao meio do campo, momento de concentração e de esperança. Inicia-se as cobranças, destaque para o goleiro Aranha, do Mulungu, com duas defesas. Solidariedade com os companheiros de luta e elenco que não converteram as cobranças. 1° de Maio se consagra campeão masculino da I Copa Estadual da Reforma Agrária.
Entre as finais das categorias femininas e masculinas houve um jogo entre o “MST” e os “Amigos do MST”, essa partida foi marcada pela presença do ex-jogador da seleção brasileira, ídolo do Botafogo e colunista da revista Carta Capital, Afonsinho. Mesmo com esse reforço de peso, o time dos “Amigos do MST” sofreu uma derrota, saindo do campo reclamando das condições do gramado e do exemplar desempenho físico dos jogadores da equipe do “MST”.
Imagino que o maior símbolo da I Copa Estadual da Reforma Agrária não tenha sido a final em si, importantíssima, claro, é a coroação de todo um esforço de centenas de pessoas. O maior triunfo foi a mobilização coletiva, assentados, assentadas e acampados construíram o evento em reuniões de base. Quando se debatia crédito, acesso à terra, educação, também se debatia o esporte. Mostrar à sociedade que a reforma agrária é muito além de terra e produção, é cultura, educação, é saúde e lazer foi a maior conquista.
Edição: Monyse Ravena/ Brasil de Fato