Candidato à presidência da Zâmbia defende liberdade para Lula
Por Pedro Carrano
Do Brasil de Fato
A Vigília Lula Livre, localizada na frente da superintendência da Polícia Federal, em Curitiba, onde o ex-presidente Lula encontra-se em caráter de prisão política, recebeu nesta segunda-feira (13) a visita de Fred Mmembe, pré-candidato à presidência da Zâmbia nas eleições de 2021, e de Ngenda (Chris) Mwikisa, ambos integram o Partido Socialista da Zâmbia. Os dois vieram de Lusaka, capital da Zâmbia, país localizado no Sul da África.
No início da roda de conversa realizada com a militância local, Mmembe criticou a chamada “democracia burguesa” e o pouco espaço para essa democracia em vários países, mas avalia que no caso da Zâmbia também há avanços, uma vez que trabalhadores e camponeses não podiam votar em seu país e hoje estão disputando as eleições. O Zâmbia, desde sua independência da Inglaterra, em 1964, teve ao longo dos anos uma democracia fechada à participação dos trabalhadores. “Mas o capitalismo tem crescido tanto, ainda mais em países como os nossos, que agora conquistamos o poder de votar e de ser eleitos, ainda que o trabalhador muitas vezes vote nos interesses dos capitalistas”, explica.
Ele avalia também que o continente africano enfrentou golpes sempre que algum país empossou um governo de esquerda ou progressista. Em Gana, por exemplo, em 1957, o candidato em questão apoiava uma agenda socialista e foi vítima de golpe de estado organizado pela Agência de Inteligência dos EUA (CIA). Também no Congo, em 1960, quando o então presidente, Patrice Lumumba, venceu as eleições e queria apoiar uma agenda socialista. Neste caso, também houve um golpe chefiado pela CIA e o assassinato do líder político. “Seu corpo foi derretido em ácido sulfúrico”, descreve.
O continente também é marcado, de acordo com Mmembe, pelas lutas de libertação nacional ocorridas em território africano nos anos 1960 e 1970, ainda que tenha havido derrotas, com a implantação o neoliberalismo e a tentativa de privatização de serviços públicos. “Nossos países se voltaram &”39;neo-colônias&”39;, hoje há grupos marxistas-leninistas (em Angola e Moçambique) que não podem ser reconhecidos assim hoje, temos tido uma aula de neoliberalismo em todo o continente africano. A África no dia de hoje está avançando numa agenda neoliberal”, lamenta Mmembe.
Diante desse quadro, considera importante uma rearticulação no continente e a retomada da solidariedade internacional. “Entendemos as limitações da democracia burguesa, mas todas as opções de luta estão abertas para nós. A luta que estamos fazendo aqui, companheiros, lutas progressistas, são as nossas lutas. Uma luta só contra um inimigo comum, nosso inimigo é o capitalismo, que não conhece fronteiras”, afirma. Para eles, o controle do Estado por parte dos trabalhadores é fundamental. Isso porque, muitas vezes a burguesia pode controlar o Estado, mesmo sem o governo, fato que ocorreu durante o governo, por exemplo, de Dilma Rousseff, derrubada no golpe de 2016.
Lula Livre, uma luta sem fronteiras
A luta pela liberdade de Lula é vista como uma luta prioritária pelos militantes da Zâmbia, assim como a luta pela demanda por territórios do povo Palestino, e todas as lutas no marco da solidariedade internacional.
Ngenda (Chris) Mwikisa, economista, defende a necessidade de fortalecer a luta no marco internacional. “Nossa luta não é isolada, vamos encontrar as lutas de diferentes formas, mas é a mesma luta, o capital está pronto para fazer qualquer coisa para manter seu poder”, afirma. Integrante do Partido Socialista, afirma que se trata de uma experiência nova, com dois anos de existência, que nunca participou de eleições. “Portanto, temos muito a aprender com vocês. Uma vitória na Zâmbia para os socialistas”, defende.
Com isso, estão retomando a luta racial como fundamental, assumida pela humanidade, junto à articulação dos povos e um pensamento de unidade, direitos e soberania para toda a África, o chamado pan africanismo. “Decidimos que a África tem que participar das lutas ao redor do mundo, lançando novamente uma agenda socialista no continente africano. Um pan africanismo que reconhece todos os revolucionários do mundo, que reconhece Che Guevara, Fidel, Hugo Chávez como pan-africanistas, que reconhece Lula como pan africanista”, complementa afirma Mmembe.
MST e a construção do socialismo internacionalista
“O trabalho que o MST está fazendo vai além do que caracteriza um movimento social. Vocês estão construindo o socialismo nos acampamentos e assentamentos. Não há ninguém que está construindo o socialismo no mundo que não deva reconhecer isso”. A afirmação de Fred Mmembe se dirigiu aos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que acompanhavam a roda de conversa, vindos dos municípios de Pinhão e Rio Bonito no Iguaçu, região Centro do Estado. A cada 15 dias, uma brigada de aproximadamente 40 militante do Movimento se reveza no apoio à Vigília.
Adriana Oliveira, integrante da direção estadual do MST, frisou a compreensão do Movimento sobre a luta internacional. “Nós, como classe trabalhadora, sabemos que o capital se organiza no âmbito internacional. Por isso acreditamos que devemos ter o internacionalismo como princípio”. De acordo com a militante, o MST mantém brigadas de solidariedade na Venezuela, Cuba, Zâmbia, Moçambique e Haiti.
Edição: Laís Melo/ Ednubia Ghisi