Titânio no Sul; zinco, chumbo, cobre e fosfato na Campanha
Por Ayrton Centeno
Do Brasil de Fato RS
“Isso aí vai contaminar tudo”, reage o agricultor João Varlei Luiz ao ser perguntado sobre os planos da Nexa Resources, Votorantim e lamgold de minerar cobre, chumbo, zinco, prata e, quem sabe, ouro em Caçapava do Sul. Na sua memória estão bem vivos os acontecimentos de 1981. Naquele ano, vazou mercúrio das instalações da Companhia Brasileira de Cobre (CBC) no mesmo município. “Não dava nem pra chegar perto do Camaquã pelo cheiro que tinha a água do rio. Morriam os peixes e o gado não podia beber”, relembra Luiz, conhecido como “Dedé” na comunidade em que vive, o quilombo Tio Dô, no município vizinho de Santana da Boa Vista.
A ideia das empresas é minerar 36 mil toneladas de chumbo, 16 mil de zinco e cinco mil de cobre. O prefeito local, Giovanni Amestoy (PDT), apoia. Mas no quilombo do Tio Dô, onde moram 150 quilombolas, há inquietação. Lá, cultivam arroz e muitas hortaliças e criam vacas, ovelhas, porcos, cabras e galinhas. “Temos vida boa aqui, a gente planta e colhe”. O receio de Dedé e seus vizinhos é que a novidade destrua seu modo de vida.
Um município partido
Em Lavras do Sul, a proposta da Águia Resources envolve a extração de fosfato à céu aberto. Novamente, o prefeito, Sávio Prestes (PTB), joga no time da mineração. A psicopedagoga e educadora ambiental Alinne Severo acha que o município está dividido. “Os moradores da cidade apoiam a instalação da mina. Os moradores e produtores da área visada pelo empreendimento, não aceitam a mineração”.
Morando na zona rural, Alinne pertence ao segundo grupo. “Sempre quis investir na agricultura orgânica”, diz. Junto com um grupo de amigos, ela fundou a Ecolavras e passou a questionar a mineradora, uma ameaça, na sua visão, às comunidades e ao Bioma Pampa, único no Brasil, com 500 espécies de aves e três mil de plantas. A partir de então, teve problemas. “Fui muito hostilizada por pessoas que querem a mineração”. Na disputa virtual, teve sua página denunciada e ficou 30 dias sem poder publicar nada. Optou por outras plataformas e redes e voltou à arena. “Não iria ficar calada ou ser calada”, explica.
Em defesa de seu modo de viver
Em São José do Norte, a comunidade tem se manifestado em atos e caminhadas contra a intenção da Rio Grande Mineração de extrair titânio e outros metais de uma faixa de 30 quilômetros de extensão, tendo a lagoa dos Patos de um lado e o Atlântico de outro. Pescadores artesanais e plantadores de cebola – São José do Norte é o maior produtor do Estado – que ocupam a região há muitas gerações não aceitam abandoná-la ou ter comprometido seu modo de viver e trabalhar. Em 2017, o Ibama emitiu uma licença prévia ao empreendimento, mas os nortenses – como são chamados os locais – continuam na briga.
A corrida pelas concessões de lavra
Além dos quatro projetos mais avançados e presentes no mapa, as mineradoras tem planos adiantados de extração dos mais diversos minerais em 166 municípios gaúchos. É o que demonstram as planilhas do Departamento Nacional de Produção Mineral (DPNM) pesquisadas pelo MAM, o Movimento pela Soberania Popular na Mineração. Porém, ao contrário dos quatro megaprojetos, considerados ameaçadores para a saúde humana e do ambiente, nem todos os demais são de médio ou grande porte ou necessariamente representam risco. Apenas demonstram o interesse econômico que o subsolo do Rio Grande do Sul representa.
Triunfo, na região metropolitana, é o campeão de concessões de lavra no DNPM. No final do ano passado, possuía 42. O segundo lugar ficou com Pantano Grande, área carbonífera, com 29 concessões. Seguem-se Caçapava do Sul (20), Cachoeira do Sul (17), Candiota (15), Butiá (12), General Câmara (11), São Gabriel (10), Viamão (9) e São Jerônimo (8). Todos municípios situados na Metade Sul do Estado.
Em termos de requerimentos de autorização de pesquisa, Viamão possui 188, enquanto Rio Pardo surge com 121. A seguir, aparecem Santo Antonio da Patrulha (105), Caçapava do Sul (92), Dom Pedrito (76), Encruzilhada do Sul (75), Cachoeira do Sul (70), Eldorado do Sul (68), Lavras do Sul (64), São José do Norte (61) e Pantano Grande (52).
Alemanha fechou a última mina de carvão
Foi uma cena solene: o presidente da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, cercado por dois operários segurou o último bloco de carvão extraído de solo alemão. Aconteceu no dia 21 de dezembro de 2018, quando foi fechada a última mina, na cidade de Bottrop. O carvão ajudou a construir a prosperidade alemã, mas deixou um passivo alto: 220 milhões de euros (R$ 994,4 milhões) serão gastos a cada ano para impedir que a água contaminada com metais pesados atinja os lençóis freáticos.
Na Grã-Bretanha, a última mina de carvão subterrânea foi fechada em 2015. Onze anos antes, a França encerrou a extração do minério. Um último lote simbólico foi retirado da mina de Le Houve, situada na fronteira com a Alemanha.
Envolvida em um grande esforço para reduzir o papel do carvão na sua produção de energia, a China derrubou seu investimento em usinas termelétricas em 30% no primeiro trimestre de 2019 na comparação com o mesmo período de 2018. E ampliou seus gastos em projetos de energia hidrelétrica (mais 48%) e eólica (30%).