Vindos da agricultura familiar, bolos artesanais fazem sucesso no Armazém do Campo
Por Vanessa Gonzaga
Do Brasil de Fato
Em festas, casamentos, lanches e no café da manhã o bolo é, sem dúvidas, um dos alimentos mais comuns. Com diversidade de sabores, recheios e texturas, o alimento pode ser produzido de diversas formas para várias ocasiões. Com o objetivo de aliar sabor, qualidade, durabilidade e valorizar a produção da agricultura familiar, o grupo de boleiras do Assentamento Normandia, em Caruaru, no Agreste pernambucano, surgiu em 2014.
O Assentamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) é um dos grandes beneficiadores da produção de alimentos dos assentamentos e acampamentos em todo o estado. Para as seis mulheres que compõem o grupo de boleiras, a oportunidade de escoar a produção e garantir renda para as famílias veio inicialmente através do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que oferece alimentação escolar e ações de educação alimentar e nutricional a estudantes de todas as etapas da educação básica pública. Foi a partir desse programa que os bolos foram incluídos na merenda escolar de mais de 40 mil estudantes.
Para garantir que os alimentos tenham um bom valor nutricional, o grupo é orientado pelo Setor de Saúde do MST e também pela equipe de profissionais de nutrição da Prefeitura de Caruaru. Além disso, os insumos para a produção vêm de assentamentos, acampamentos e outras áreas de produção familiar e agroecológica, o que contribui para fomentar em vários níveis a agricultura familiar. Para Mauriceia Matias, integrante do grupo de boleiras, a questão nutricional é um dos diferenciais “Chegamos a uma receita que atendesse aos pré-requisitos de qualidade. A equipe de nutrição sempre veio nos acompanhando para garantir o paladar, a aparência e, principalmente, a durabilidade, porque o bolo não tem conservantes”, ressalta.
Com o crescimento da demanda, veio também a diversificação dos produtos. Os bolos de macaxeira e laranja agora dividem espaço com a produção de bolos de banana, cenoura, pães integrais, de jerimum, beterraba, leite, milho, biscoitos, patês, pudim, empadas e um mix de ervas e temperos com baixo teor de sódio. A produtividade do grupo oscila de acordo com a necessidade da prefeitura da cidade e a disponibilidade das matérias primas. Só de bolos, a produção semanal varia de sete a 10.500 kg por semana.
Além das escolas beneficiadas com o PNAE, a produção do grupo é destinada para a merenda escolar do IF Caruaru e escoada para a cidade através da Feira da Agricultura Familiar e da Feira do Shopping Caruaru. Os produtos também podem ser encontrados na capital, com a Feira da Reforma Agrária da Unicap e o Armazém do Campo, um espaço de comercialização de produtos vindos da agricultura familiar de todo o país, aberto recentemente no Recife e coordenado pelo MST. Os preços variam de acordo com o sabor de cada produto, mas os pães e bolos têm valores que variam de R$ 7,50 a R$ 25,00, calculado a partir do preço das matérias primas, o transporte dos produtos e principalmente a valorização do trabalho das famílias envolvidas desde a produção até a comercialização.
O que diferencia o produto das boleiras em relação aos produzidos industrialmente não é apenas o valor nutricional, mas toda a cadeia de produção desses alimentos, o que possibilita que o consumidor saiba exatamente o que está consumindo e quem o produz, como Mauriceia ressalta “O grande diferencial dos produtos do Grupo de Boleiras do Assentamento Normandia e de vários outros grupos e companheiros e companheiras é o valor atribuído ao produto. Nas feiras as pessoas perguntam a receita, e a relação é direta entre quem produz e quem consome, acho que o bacana é isso. Pode até ser que alguém nesse mundo afora produza coisas melhores e diferentes, mas a relação entre as pessoas é o que tem de mais fantástico”, conclui.
Edição: Monyse Ravenna/ Brasil de Fato