Assentamento inaugura Centro Cultural e comemora 20 anos de luta

Localizada na Lapa, a 70 quilômetros de Curitiba (PR), a comunidade é referência na produção agroecológica
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Assentado mostra frutos de cultivos agroecológicos do Assentamento. Foto: Leandro Taques

Da Página do MST
Imagem de capa: Michele Torinelli

 

O assentamento Contestado, no município da Lapa (PR), comemora neste sábado (22), 20 anos de luta e resistência com uma grande festa da colheita. 

O evento também terá a inauguração do Centro Cultural Casarão, com participação do grupo Mandicuera de Fandango Caiçara e exposição de ensaio um fotográfico: “Olhar ancestral: memória e cultura quilombola”, da fotógrafa Izabelle Neri Vicentini.

A festa conta com um ato ecumênico, almoço com churrasco, apresentações culturais, fogueira e baile. 

A área do Assentamento tem pouco mais de três mil hectares, e está localizada a 70 quilômetros de Curitiba, capital do Paraná. É uma comunidade rural que conjuga produção diversificada e preservação da mata. Atualmente, 160 famílias vivem no local, sendo 108 assentadas e outras 52 que compartilham o espaço, entre filhos e parentes dos assentados.

O assentamento é sede da Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), abriga também um colégio estadual, uma escola municipal, uma creche (chamada pelos assentados de Ciranda Infantil) e Unidade Básica de Saúde. 

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Estufa com produção de morango agroecológico. Foto: Leandro Taques

 

Produção sem agrotóxico

Quando o assunto é produção de alimentos saudáveis, a comunidade é reconhecida como referência em produção agroecológica. A cooperativa Terra Livre, criada pelo assentamento, organiza e escoa a produção de 210 sócios – agricultores da própria comunidade e também de Campo Largo, Lapa, Antônio Olinto, São Mateus do Sul, Palmeira, Teixeira Soares e Antonina. Toda semana são entregues pela cooperativa 8 toneladas de verduras, frutas, legumes e temperos agroecológicos em 104 escolas, via Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). 

Antes de servir como território de vida e moradia para mais de 530 pessoas, a área estava improdutiva e acumulava dívidas com a União. As terras foram desapropriadas e destinadas à Reforma Agrária em 1999, após terem sido ocupadas por famílias do MST.

Do total de 3.228 hectares, 1.240 são de área de proteção ambiental – como reserva legal ou preservação permanente. Todo o território integra os limites da Área de Proteção Ambiental da Escarpa Devoniana.

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Cultivo de morangos sem agrotóxicos. Foto: Leandro Taques

Histórico do Assentamento

Em fevereiro de 1999, no período de repressão do Governo Jaime Lerner, 40 famílias ocuparam a área que pertencia a Incepa – empresa de Cerâmica, que acumulava dívidas trabalhista com a União. Como forma de compensar os débitos com o Estado, o local foi destinado para a Reforma Agrária, com o assentamento das famílias acampadas. 

No período monárquico, essas terras pertenceram ao Barão dos Campos Gerais, que além de ser um grande proprietário de terras da região mantinha pessoas negras escravizadas em suas terras. Na antiga casa do barão e sua família, será inaugurado o Centro Cultural Casarão, espaço no assentamento destinado às manifestações artísticas e culturais, reuniões e encontros de grupos.

O assentamento tornou-se oposto ao histórico da área. Hoje é caracterizado pela sua diversidade. Para além da produção agroecológica, traço marcante das famílias assentadas é possível ainda ter acesso a saúde popular com tratamentos homeopáticos, benzedeiras, escolas que atendem as crianças até o nível superior e o Centro Cultural com diversas atividades culturais e artísticas.

 

*Editado por Solange Engelmann