Militante LGBT Sem Terra atua na organização de jovens do campo

“Organizar a Juventude Sem Terra é organizar também as e os LGBT”, afirma militante na Paraíba
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Segundo Alan, a Agroecologia é uma forma de produzir comida saudável e romper com o latifúndio. Foto: Divulgação MST

 

Por Luana Rêgo
Da Página do MST

 

Alan Kilson tem 24 anos e mora no assentamento Oziel Pereira, em Remígio, na Paraíba.

Com o papel de fortalecer a juventude, cultura e a comunicação, a luta pela terra, para Alan, vai além de ocupar o território, mas precisa romper com as correntes que prendem mentes e corações. 

O militante LGBT Sem Terra atua na direção do MST a partir do Coletivo da Juventude desde 2016, contribuindo na organização dos jovens nas áreas de assentamento e acampamento. A partir desse período também integra o coletivo da direção estadual do estado. 

Alan é filho de assentados da Reforma Agrária. Seus pais Adilma e Arnóbio conquistaram a terra no ano 2000. 

Em 2016, através do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), Alan ingressou na Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), aonde cursa graduação em Agroecologia. Ele entende que por meio da Agroecologia é possível romper com o latifúndio, que pratica monocultivos e produz com veneno.

“O que a gente come é tudo contaminado. Temos um papel importante enquanto militantes para pautar a Agroecologia, que rompe com o agronegócio que mata, destrói, envenena e nos alimenta com carne podre. Para isso, nós produzimos comida de verdade”, explica Alan. 

As lutas e formas de resistência têm surgido. Uma delas é a Reforma Agrária Popular, que é um projeto que propõe como solução para o campo um modelo de agricultura mais humano e em equilíbrio com o meio ambiente, atendendo às necessidades dos povos. 

Alan diz também, que as políticas do governo Bolsonaro atingem os LGBT Sem Terra, pois intimida e coloca em risco o direito de existência desses grupos na sociedade e na luta pela terra. A liberdade e demonstrações de amor e afetos em espaços públicos precisam ser garantidos enquanto direito. “O movimento me acolhe, me fortalece enquanto jovem gay. Eu posso ser quem eu sou e escolhi ser. No nosso movimento não há correntes, que nos impedem de amar e existir”, afirma.

 

Governo estimula intolerância

Na sua visão, o governo Bolsonaro tem cumprido o prometido, impondo uma agenda neoliberal que ataca os direitos e a liberdade das “minorias sociais”. 

“Para todo retrocesso do atual governo, nós temos uma saída: a Reforma Agrária Popular. Desde a primeira vez que pautamos a Reforma Agrária, pautamos porque acreditamos que é o caminho para justiça social”, argumenta Alan.

Com a ascensão do neoliberalismo no Brasil, onde a marca da intolerância se tornou comum por parte das classes dominantes, a juventude LGBT Sem Terra foi colocada em condição de vulnerabilidade diante dos acontecimentos. É nesse cenário que perpassam as contradições e a correlação de forças e organização dos movimentos LGBTI+ na luta pelo combate à homofobia. 

“Criaram uma espécie de ideia que classifica a homossexualidade como se fosse algo ruim e contagioso. Não há nada de mal em amar. Amor é o que somos. Então que seja contagioso”, conclui Alan.

No último dia 13 de junho, o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou que a discriminação por orientação sexual e identidade de gênero passe a ser considerada crime. 

Os ministros determinaram que a LGBTfobia, seja punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito por “raça, cor, etnia, religião e procedência nacional”.

Equiparado ao racismo, a LGBTfobia passa a ser um crime inafiançável e imprescritível, segundo o texto da Constituição Federal e pode ser punido de 1 a 5 anos de prisão e, em alguns casos, com multa.

 

*Editado por Solange Engelmann