“Marielle era uma de nós”
Por Tassi Barreto
Da Página do MST
Com o sonho de produzir alimentos, Rose e Tina vivem há mais de 1 ano no acampamento Marielle Vive!, em Valinhos (SP). Juntas na luta pela terra, o casal mora atualmente com outras mil famílias, vendo na reforma agrária a possibilidade de uma vida digna, com trabalho, moradia e respeito a todos e todas.
Quando se conheceram, há mais de 9 anos, Tina estava grávida de 3 meses e hoje, casadas no papel, constituem uma família com o filho registrado pelas duas. Além da luta pela terra, entre organização do acampamento, bloqueio de pista e marchas, o casal relata a importância da luta pela questão LGBT no acampamento e na sociedade.
Elas sofreram na pele muito preconceito ao longo da vida, principalmente Rose ,que já foi barrada de lojas e vítima de violência física por ser homem trans. Também relatam a dificuldade que passaram em outros casamentos, nos quais sofreram as mazelas que muitas mulheres passam com seus maridos, como a violência doméstica e a tripla jornada de trabalho.
“Eu me sinto como homem, macho mesmo. Mas homem que sabe tratar uma mulher então é completamente diferente. A gente tem que saber como tratar uma mulher porque, querendo ou não, eu lá trás já fui uma mulher eu sei como elas são tratadas. Então eu vou tratar minha companheirada como gostaria ter sido tratada” conta Rose ao relatar sobre sua definição e sua história.
Juntas, consideram uma das tarefas mostrar que são felizes, pois o fato de formarem uma família desconstrói preconceitos que, muitas vezes, são nutridos pela ignorância. Atualmente, são uma referência na comunidade no tema da sexualidade, inclusive de pais e mães com filhos LGBTs, que procuram o casal para pedir conselhos. Tina conta sobre a satisfação que sente ao poder ajudar nesse processo, principalmente porque o apoio da família é fundamental.
Segundo Rose, no início do acampamento, que completou um ano em abril de 2019, era comum ouvir piadinhas sobre os sujeitos LGBTs, mas atualmente este tema está avançado devido a própria força e legitimidade que os LGBTs obtiveram na comunidade. As famílias acampadas estão aprendendo, desconstruindo a concepção moralista e aceitando a sexualidade de todas e todos.
“O nome do nosso acampamento já traz esse viés pluralista, porque a Marielle era uma de nós. Ela era uma de nossas guerreiras”, afirma Tina. Atualmente o acampamento Marielle Vive! está fortalecendo o coletivo LGBT Sem Terra, com Tina, Rose, Kelvin, Marielly, Yasmin, Luciano, Susana e tantos outros e outras que tem a tarefa de intensificar a luta contra o patriarcado na comunidade e na sociedade. A homenagem à Marielle, mulher negra e lésbica, está nas ações cotidianas do acampamento e na luta incansável pela justiça e respeito.
*Editado por Fernanda Alcântara