Famílias de assassinados do MST cobram celeridade do Ministério Público

Momento foi mediado pela deputada estadual Estela Bezerra (PSB)
BdF [65].jpg
Reunião aconteceu no Ministério Público Estadual, em João Pessoa; crimes ocorreram há 6 meses. Foto: Arquivo

 

Do Brasil de Fato
 

Familiares dos militantes assassinados, integrantes do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino – executados em 8 de dezembro, no assentamento Dom José Maria Pires, município de Alhandra, na Paraíba – se reuniram na manhã desta terça (02) com o Ministério Público Estadual. O objetivo do encontro foi dialogar para que o Ministério Público apresente uma denúncia à justiça, e que o caso não sofra morosidade. A deputada estadual Estela Bezerra (PSB) mediou o encontro com o procurador geral Francisco Seráfico Filho. 
 

De acordo com a parlamentar, a reunião foi produtiva. “Tivemos uma receptividade muito boa por parte do procurador Seráfico, que se prontificou a dar celeridade em todas as ações que dependam do Ministério Público”, afirmou Estela, afirmando o mandato irá acompanhar todas as ações para garantir que os assassinos não saiam impunes, nem usem de prerrogativas para postergar as decisões judiciais.
 

Acompanhará o caso, a promotora Ilclea Gomes, que é a responsável pelo processo em Alhandra.
 

BdF [66].jpg
Osvaldo Bernado da Silva, irmão de Orlando.
Foto: Arquivo

“O Ministério Público se comprometeu a dar uma resposta ao caso em, no máximo, 10 dias e disse que podemos contar com a seriedade dessa instituição. O Ministério abriu as portas para receber a nós, trabalhadores do campo. Queremos Justiça, nossa família não aguenta mais tanta dor. Gostaríamos que as pessoas que compõem o acampamento Dom José Maria Pires e os integrantes do MST, assim como sua direção, acompanhassem junto com a gente também, mais de perto, essa nossa luta diária. A reunião foi boa e os familiares aqui presentes demonstraram que estamos acompanhando de perto tudo e estamos atentos”, desabafou o irmão de Orlando, Osvaldo Bernardo da Silva, ao sair da reunião.

Estiveram presentes na reunião familiares de Orlando: o irmão, a mãe e um sobrinho; e de Rodrigo: a esposa acompanhada de um dos filhos. Os parentes de Orlando já passaram por situação semelhante em 2009, quando um outro componente da família, Odilon Bernardo da Silva Filho, irmão de Orlando, também foi assassinado em outra luta, a dos Atingidos por Barragem, aqui na Paraíba. De acordo com o MPF, Odilon Bernardo foi assassinado, aos 33 anos, numa emboscada, quando voltava para sua residência, depois de um encontro com amigos e militantes do Movimento dos Atingidos por Barragens.
 

Entenda o caso
 

A noite do dia 8 de dezembro entrou para a história e pegou de surpresa a todos os paraibanos.  José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino foram assassinados, na noite do dia 8, por volta das 19 h. Os dois eram militantes do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da Paraíba e estavam no acampamento Dom José Maria Pires, localizado no município de Alhandra, quando um grupo de 4 homens encapuzados e armados entraram na área e atiraram neles enquanto jantavam.
 

Havia terminado a pouco tempo uma reunião no acampamento e alguns participantes continuavam juntos para jantar. Foi neste momento que os atiradores entraram no salão do encontro e separam homens de mulheres e adolescentes. Executaram os dois e se evadiram do local. Orlando tinha 46 anos e dirigente estadual do MST, era casado e tinha 2 filhos; e Rodrigo tinha 38 anos, era militante acampado na área onde ocorreu o assassinato, tinha 5 filhos.
 

Motivações do Crime
 

No dia 17 de maio foram presos três suspeitos dos assassinatos dos militantes do MST. Foram eles, Rawlinson Bezerra de Lima, conhecido como Ralph, que foi preso em João Pessoa, no bairro do Cabo Branco; Maria de Fátima Santos Freitas, presa também na capital paraibana, no bairro do José Américo e Leandro Soares da Silva, que foi preso no acampamento Dom José Maria Pires, localizado em Alhandra, sendo o mesmo lugar onde ocorreram os assassinatos.
 

Segunda a delegada responsável pela investigação, Flávia Assad, o crime teve motivação financeira e tratou-se de ganância por parte de Rawlinson, que era areeiro, e foi impedido de extrair areia no local do acampamento. Este, segundo a delegada, teria chegado no acampamento por intermédio de Rodrigo para fazer extração de areia, no entanto, o acordo inicial – de repassar 2 mil reais, por mês, para o acampamento – não foi honrado por parte de Rawlinson e os acampados começaram a se incomodar com a situação.

“Aconteceram algumas fiscalizações e a extração foi impedida, por conta disso, ele [Rawlinson] não ganhou com a extração de areia e não fez o repasse que deveria ser feito, e quando entraram em acordo novamente, também veio à tona de que ele [Rawlinson] estaria realizando a extração de areia também durante às madrugadas, uma forma dele extrair mais areia sem ter que repassar dinheiro ao acampamento. Ralph foi impedido pelo movimento de continuar com essa extração ilegal”, declarou a delegada, explicando a motivação dos crimes. O areeiro retirava por dia entre 50 e 80 carradas de areia, tendo um lucro diário de cerca de 4 mil reais.
 

Já o último suspeito da morte dos trabalhadores do Movimento das Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais Sem Terra da Paraíba (MST-PB) foi preso no dia 21 de maio, José Aurélio Gomes Melo, de 34 anos, estava na cidade de Bayeux, região metropolitana de João Pessoa. 
 

Todos os acusados continuam presos por medidas preventivas.

*Edição: Heloisa de Sousa/ Brasil de Fato