Dona Neusa e a força da mulher negra na cura
Por Matheus Teixeira Batista
Da Página do MST
Dona Neusa nasceu há 68 anos no município de Frei Inocêncio, distrito rural do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. Filha de camponeses que também não tiveram oportunidade de estudar, ela cresceu na roça, trabalhando na terra e, ainda jovem se casou e foi acompanhar o marido indo morar na cidade, onde criou seus 9 filhos.
Sempre se interessou em voltar para o campo, e chegou a visitar alguns acampamentos da região em que morava mas, por influência do marido, não pode morar em um deles. Mas o machismo do marido nunca apagou seu sonho de voltar para a roça.
Em 2009, D. Neusa ficou viúva, e para tentar se distrair da tristeza que a abateu, passou a frequentar uma igreja da vizinhança, fazendo novas amizades. Foi lá que recebeu o convite para visitar um acampamento. e bastou uma única visita para decidir acampar sozinha.
Ela então começou sua vida como Sem Terra no acampamento Padre João, passando depois por mais dois acampamentos na região do Vale do Rio Doce até ser assentada, no ano de 2013, no assentamento Dênis Gonçalves.
Dona Neuza entrou no MST diagnosticada com depressão, mas com a certeza de que sempre havia trabalhado na cozinha e que conhecia um pouco sobre plantas. O movimento a incentivou a aprender mais e, assim, ela entrou para o setor de saúde, começou a cuidar de seus companheiros e companheiras numa tentativa de ajudar o próximo.
E foi no ajudar o próximo e o participar das lutas que fez com que Dona Neuza se ajudasse e curasse sua depressão. E não parou por aí, pois também começou a estudar, aprendeu a ler e a escrever.
No dia 13 de março de 2019, Dona Neuza foi homenageada ao receber a medalha Rosa Cabinda. Idealizada por coletivos de mulheres feministas de Juiz de Fora, a medalha leva o nome de Rosa Cabinda, primeira mulher negra da cidade que utilizou da justiça para comprar sua liberdade. Atualmente essa condecoração homenageia 25 mulheres que assim como Rosa, buscaram contrapor os padrões racista, machista e patriarcal que se perpassam ao longo dos séculos.
* Editado por Fernanda Alcântara
** Este perfil faz parte de uma série que homenageia mulheres Sem Terra na Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha. Leia outra aqui.