Em Alagoas, Juventude Sem Terra conclui curso sobre Questão Agrária
Por Gustavo Marinho
Da Página do MST
Representando os diversos acampamentos e assentamentos da Reforma Agrária em Alagoas, 30 jovens do MST concluíram no último sábado (03), o Curso Juventude e Questão Agrária Alagoana, realizado em parceria com a Universidade Federal de Alagoas (UFAL), através da Pró-Reitoria de Extensão (ProEx). O Curso que durou cinco meses, teve como principal objetivo aprofundar o debate em torno do papel, as tarefas e o lugar da juventude camponesa no desenvolvimento do campo alagoano.
A solenidade de encerramento do Curso contou com a presença de professores, estudantes, parceiros e amigos do MST, além da Reitora da Ufal, Valéria Correia. O encerramento marcou o compromisso da Juventude Sem Terra na luta pela terra e pela Reforma Agrária Popular, bem como reforçou a posição dos jovens camponeses na defesa da Universidade Pública, gratuita, de qualidade e socialmente referenciada.
Para Thainara Alves, jovem do Assentamento Nova Esperança, em Olho D’Água do Casado, no Sertão de Alagoas, o curso foi um grande divisor de águas no seu modo de enxergar o mundo. “Hoje posso dizer que sou outra mulher, disposta a lutar pelos meus direitos, de defender e contribuir para a melhoria do lugar que eu vivo”, destacou a jovem.
“Tenho muito orgulho de tudo que a gente aprendeu nesses cinco meses, foi libertador. Mesmo jovens somos capazes de fazer muito para a sociedade e para o povo, que temos voz e vez, lutando pelos nossos direitos e por uma sociedade justa.”
Reitora da Universidade, Valéria Correia, ressaltou a importância das ações de extensão universitária nesse aspecto, que possibilitem a aproximação da sociedade com a universidade, construindo, trocando e partilhando saber.
“É com muita alegria que a Ufal recebeu essa turma, no momento que estamos vivendo de constantes ataques à educação pública, poder construir essas possibilidades demonstra a nossa disposição de, coletivamente, pensarmos Alagoas pelos olhos de quem constrói esse estado”.
Além dos jovens dos acampamentos e assentamentos do MST em Alagoas, o Curso contou ainda com a participação de jovens universitários estudantes dos cursos de pedagogia, história, geografia e direito da Ufal.
Uma dessas estudantes foi Jislaine Maciel, do curso de pedagogia do Campus da Ufal no Sertão de Alagoas, para ela o Curso conseguiu apontar o papel da juventude do campo e da cidade na luta por transformações.
“Pudemos compartilhar ao longo desses cinco meses toda a nossa vivência, jovens dos acampamentos, assentamentos e também os jovens que estão na cidade, afirmando juntos e juntas um compromisso com a luta. Terminamos o Curso como multiplicadores de um projeto de luta contra o machismo, racismo, LGBTfobia e pela alimentação saudável na mesa do trabalhador e da trabalhadora”.
O Curso
Ao todo foram cinco meses de estudo, trabalhos práticos, oficinas, seminários, trabalho de base e muita partilha de experiência. O Curso “Juventude e Questão Agrária Alagoana”, coordenado pelo Coletivo Estadual de Juventude do MST e o Setor de Formação do Movimento, possibilitou uma diversidade de temas cruciais para entender o campo alagoano hoje, bem como a trajetória de luta e resistência dos sujeitos nesse território, possibilitando apontamentos para a juventude camponesa atuar nesse contexto.
Construído em regime de alternância, entre Tempo Escola e Tempo Comunidade, o Curso ainda perpassou por uma série de oficinas nas linguagens da arte e da comunicação popular, para construir metodologias da multiplicação do trabalho com a juventude do acampamento e assentamento, teatro do oprimido, fotografia, rádio… Diversos elementos compuseram o processo formativo dos e das jovens.
Carolina Nozella, professora do Centro de Educação da Ufal (CEDU) e coordenadora do Projeto de Extensão, partilhou a alegria de poder contribuir com a realização da experiência. “O Curso envolveu os educandos de todas as regiões do estado tocando em temas ligados a vida desses jovens. A questão do desenvolvimento do campo alagoano, sua cultura, sua história, produção e resistência, pensando no fortalecimento dessa juventude para que possam contribuir em seu espaço de vida”, comentou.
“Temos a expectativa de construir outras experiências via atividade de Extensão Universitária, pois ela tem esse papel de viabilizar a troca educativa, cultural e científica com a sociedade. Entendemos que esse é um dos pilares fundamentais do trabalho que a gente desenvolve na Universidade Pública”. Ainda de acordo com Carol, o Curso de Extensão fortaleceu o sentido do trabalho socialmente referenciado desenvolvido na Universidade.
A turma levou o nome de Turma Francisco Chagas, escolha dos jovens em homenagem ao militante do Setor de Formação do MST em Alagoas que faleceu no mês de maio desse ano.
“Juventude em luta: pela vida e por direitos!”
Como desdobramentos e continuidade do Curso, os jovens educandos dão continuidade ao processo de mobilização, organização e formação dos Coletivos de Juventude nos acampamentos e assentamentos onde vivem, em especial para a construção da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, que tem sua 10ª edição no ano de 2019 com o lema “Juventude em luta: pela vida e por direitos!”.
“O Curso trouxe uma série de elementos que nos ajudou coletivamente a pensarmos a relação da juventude camponesa no atual contexto do campo alagoano, seus desafios, suas tarefas, ameaças e possibilidades, esses diversos elementos nos aponta uma série de conteúdos que dialogam com o que se propõe a Jornada da Juventude desse ano”, explicou Aline Oliveira, da Coordenação Política e Pedagógica do Curso. “Falar na defesa da vida e dos direitos da juventude camponesa nos coloca a responsabilidade de também entender a diversidade desse sujeito e o campo hoje, sua complexidade, influência e uma série de outros fatores”.
“A responsabilidade é gigante, mas conseguimos dar bons passos ao longo desses cinco meses de estudo, o desafio agora é manter tudo isso em movimento, com a cara, a mística, a responsabilidade, criatividade e rebeldia da Juventude Sem Terra”.