No Amapá, padre em guerra com as multinacionais
Do IHU
A história do padre Sisto Magro, no Brasil desde 1989: “A riqueza da terra atrai o agronegócio, no ocidente precisam boicotar seus produtos”.
Há trinta anos na Amazônia, o padre Sisto Magro defende os agricultores “Sem Terra”. De um lado, estão eles, que querem cultivar os campos que possuem há séculos. Do outro lado, as multinacionais, que todos os dias devoram hectares de terra com seus tratores, à busca de madeiras preciosas, minerais preciosos.
Nascido em 1964 em Biancade, Itália, Sisto se juntou ao Pime de Preganziol em 1975, depois cursou o ensino médio no PIME (Nota de IHU On-Line: Pontifício Instituto das Missões Exteriores, também conhecido como Pontifício Instituto para as Missões Estrangeiras) em Monza até ser ordenado em 10 de junho de 1989. Assim como ele, há 470 missionários do PIME operando em todos o mundo. Fundado em 1850 pelo D. Angelo Ramazzotti, o PIME tem a direção nacional em Milão. Desde então, 19 missionários foram mortos. Desde dezembro de 1989, o padre Sisto está residindo na Amazônia.
A entrevista é de Alessandro Viezzer, publicada por A Tribuna di Treviso, 22-08-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eis a entrevista.
Onde mora exatamente?
Eu estou em missão no estado do Amapá, no norte do Brasil, na fronteira com a Guiana Francesa, no meio da Amazônia. A capital Macapá é banhada pelo rio Amazonas.
Qual é o seu povo?
Eu trabalho com os habitantes da floresta do Amapá: pequenos agricultores, pessoas que vivem ao longo do rio e vivem de frutas, plantas típicas da Amazônia ou de caça e pesca. Entre os povos indígenas, há os quilombolas, descendentes de escravos negros. A área de trabalho é a diocese de Macapá: todo o estado do Amapá e mais de 100 comunidades da vizinha ilha de Marajó, no Estado do Pará, no mapa mais próxima do Amapá.
Por que você sentiu a necessidade de ajudar os agricultores Sem Terra?
De 1990 a 2007 trabalhei em várias paróquias do interior como pároco: eu visitava as comunidades católicas, os sacramentos e o que é normalmente ocorre na paróquia. No entanto, isso não me permitiu ter tempo suficiente para me interessar por seus problemas sociais. Em 2007, surgiu a vontade de me desligar do trabalho pastoral ordinário (também importante) e entrar na vida social cada vez mais massacrada dessas pessoas pobres.
Quais são os maiores problemas enfrentados pelas pessoas mais pobres da Amazônia onde você mora?
O maior problema dessas pessoas é que elas estão sentadas em uma montanha de riquezas. O solo amazônico é rico em madeira preciosa e minerais nobres, ricos em água que está cada vez mais escassa em todo o mundo. Tudo isso atrai a ganância do agronegócio, tanto de origem brasileira quanto de matriz internacional. Os pobres devem se mudar para as favelas da cidade para dar espaço às multinacionais. Cerca de 70% dos amapaenses vivem na cidade de Macapá. 30% deles, que estão no interior, ainda incomodam. E chamam isso de progresso.
O que o Ocidente pode fazer para ajudar essas pessoas e os missionários?
Uma coisa inteligente que o Ocidente poderia e deveria fazer é boicotar os produtos do agronegócio brasileiro. A soja, por exemplo, é produzida em larga escala depois de ter expulsado pequenos agricultores. A carne, cujos pastos são feitos depois de ter destruído hectares e hectares de floresta. O mesmo vale para o eucalipto. Produtos derivados do processamento de minerais, as redes hidroelétricas para produzir energia são criadas pela expulsão de comunidades inteiras ao longo dos rios.
Você quer fazer um apelo para aqueles que estão lendo?
Em outubro, o Papa Francisco se encontrará com os bispos no Sínodo da Amazônia. Uma boa oportunidade para refletir sobre os reais problemas da Amazônia: a invasão do agronegócio dos territórios tradicionais, indígenas, comunidades negras, comunidades agrícolas e dos rios, com a consequência de ter que ir morar nas favelas das grandes cidades.