Mais de 300 lideranças se unem em luta pela Soberania Nacional
Por Cristiane Sampaio
Do Brasil de Fato
Uma conjunção de forças populares lotou, nesta quarta-feira (4), o maior auditório da Câmara dos Deputados, em Brasília (DF), na abertura do Seminário em Defesa da Soberania Nacional e Popular. Organizado pelas Frentes Brasil Popular (FBP) e Povo sem Medo, o evento, com programação durante todo o dia, marca o lançamento da Frente Popular e Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional, que congrega múltiplos atores, entre deputados, senadores, partidos políticos, movimentos populares, igrejas, ONG e outras instituições.
Com a participação de mais de 300 pessoas, o lançamento teve como ponto alto a apresentação de um manifesto coletivo pela soberania nacional. O documento diz que “a nação está de joelhos” e reforça o combate ao neoliberalismo endossado pelo governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e à política externa da gestão, marcada pela aproximação crescente entre Brasil e Estados Unidos, país comandado pelo líder de extrema direita Donald Trump.
O manifesto também ressalta a defesa do patrimônio nacional, com destaque para a Amazônia, os bancos públicos e estatais como Petrobras, Eletrobras e Casa da Moeda, hoje na mira do ministro da Economia, Paulo Guedes, e aliados.
“Um Brasil soberano exige a garantia de proteção social à população. É o contrário do que assistimos hoje com a revogação dos direitos trabalhistas, a redução sistemática do salário real e a proposta aprovada pela Câmara dos Deputados que vai destruir o regime público de aposentadoria. Seremos verdadeiramente soberanos com a implementação de políticas públicas que gerem renda e emprego, combatam as desigualdades sociais e regionais e permitam um futuro melhor para toda a nação”, argumentou o ex-senador Roberto Requião, ao ler o documento.
LEIA MAIS: Frentes realizam Seminário sobre privatizações e soberania nacional
Temas como inclusão social, preservação do meio ambiente, autodeterminação dos povos e fortalecimento da democracia também estão entre os interesses traçados pela nova frente, que pretende abraçar uma agenda de atividades junto a estados, municípios, escolas, igrejas e outros espaços para capilarizar o debate sobre os pontos que compõem o roteiro de lutas do grupo.
Os participantes também lembraram a valorização dos recursos naturais. Makota Celinha, representante das religiões de matriz africana, destacou que tais elementos ajudam a sustentar a vida do povo brasileiro e se relacionam diretamente com a temática da soberania.
“Solo é vida, água é vida, e precisamos compartilhar tudo isso para sermos cidadãos. Defender isso é defender a democracia e um Estado forte. Precisamos organizar a resistência em torno disso. Queremos um país com novos sistemas sociais, onde democracia seja uma realidade, liberdade um direito e equidade um fato”, bradou.
Petrobras
Um dos pontos da agenda da Frente Popular e Parlamentar em Defesa da Soberania Nacional, a defesa da Petrobras e do pré-sal tem realce no escopo de atuação dos atores envolvidos no movimento.
A ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) destacou durante o evento que a estatal está no centro dos interesses que levaram ao golpe de 2016 e criticou a abertura dos blocos de pré-sal para exploração pelas multinacionais, que teve início no governo de Michel Temer (MDB) e hoje ganha fôlego com a aproximação entre Bolsonaro e Trump.
“Eles querem dizer que a Petrobras está quebrada, que ela não conseguia pagar suas dívidas, que não tinha recursos suficientes pra encarar a exploração do pré-sal. Os dados mostram que isso é uma solene mentira, vendida pelo governo e pela mídia. E jamais a Petrobras precisou vender seu patrimônio pra pagar dívida. Nenhum país do mundo faz o que eles estão tentando fazer, e hoje as grandes empresas de petróleo do mundo são nacionais. A Petrobras é simbólica para o Brasil”, afirmou, defendendo uma ampla articulação nacional em defesa da estatal.
“Eles reduzem a produção de combustíveis aqui pra importar em dólar dos Estados Unidos e, com isso, disparam o preço dos combustíveis e do gás de cozinha pro povo. E, se a Petrobras é um problema pro Brasil, como diz a Rede Globo, por que há tanta cobiça em torno dela?”, questionou também o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT), ao ler uma carta enviada pelo ex-presidente Lula (PT) – que também foi constantemente lembrado pelo público sob os gritos de “Lula Livre”.
Articulação
Surgida em meio ao contexto de turbulência política que cerca o governo Bolsonaro, o movimento em defesa da soberania nacional resulta de uma costura que envolve lideranças políticas e populares nacionais do campo progressista.
LEIA MAIS: Ideias opostas de soberania nacional estão em jogo na Amazônia, analisa Celso Amorim
Os presidentes partidários Gleisi Hoffmann (PT) e Carlos Lupi (PDT); o porta-voz nacional da Rede, Pedro Ivo; o ex-governador da Paraíba Ricardo Coutinho (PSB); e o líder do MTST Guilherme Boulos (Psol) celebraram a iniciativa e sublinharam que a aproximação seria mais um avanço na aglutinação das forças do campo.
“Isso é um bom caminho. O que pode mudar o curso da história que estamos vivendo é o povo na rua, e a proposta aqui é que possamos fazer atos nas ruas com o povo em cada uma das 27 unidades da Federação a partir de agora”, complementou o governador do Piauí, Wellington Dias (PT).
O lançamento atraiu também atores políticos como o senador Renan Calheiros (MDB-AL), a ex-senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), petroleiros, professores, além de um leque de entidades que compõem as frentes organizadoras ou atuam como parcerias. Entre elas, estão CUT, FUP, MST, MTST, Cimi, Apib, Fenaj, MAB e MAM.
*Edição: Rodrigo Chagas/ Brasil de Fato