Armazém do Campo-SP completa três anos de luta e resistência

O espaço também virou ponto de encontro artístico, político, cultural e, sobretudo, de resistência diante da atual conjuntura

 

Da Página do MST

Três anos se passaram desde a inauguração do Armazém do Campo-SP. Foram anos de crescimento e de aprendizado que abriram caminho para mais lojas em todos o país.

Hoje, o espaço que vai além da comercialização dos produtos da Reforma Agrária, que são derivados do leite, café, mel, geleias, arroz, feijão, achocolatados, cereais matinais, cervejas artesanais, verduras e legumes provenientes de assentamentos Sem Terra, cooperativas, agricultura familiar e de empresas parceiras, com produção orgânica e agroecológica, também virou ponto de encontro artístico, político, cultural e, sobretudo, de luta e resistência diante da atual conjuntura.
 

Para falar um pouco sobre essa trajetória, conversamos com o coordenador da Rede Armazém do Campo, Ademar Ludwig.

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Confira:

Sabemos que o Armazém do Campo-SP foi criado em cima de três pilares fundamentais. Hoje, após três anos, isso se mantém?

Sim, a ideia de construir um espaço em que os produtos dos acampados e assentados pudessem ser comercializados é antiga, mas o conceito Armazém do Campo começa a ganhar força após a realização da primeira Feira Nacional da Reforma Agrária. A partir desse momento foi que nós nos desafiamos a construir um espaço no qual as pessoas pudessem ter acesso aos produtos de maneira direta.

Os pilares que nortearam essa criação se mantém até hoje: fazer a propaganda da Reforma Agrária Popular, fortalecer a comercialização de produtos vindos da agricultura camponesa, familiar, indígena, quilombola e ribeirinha, oferecer alimentos orgânicos para população urbana e, por último, mas não menos importante, apresentar a cultura que nasce com a comida na luta pela terra. Comer é um ato político, por isso, é importante que as pessoas que compram os produtos do MST entendam essa dimensão.

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 Ademar Ludwig, coordenador da Rede Armazém do Campo

Ao longo desses anos, além da venda de produtos, o Armazém também virou ponto de encontro e de acolhimento. Isso foi pensando desde o início? Qual a dimensão da cultura no Armazém?

A arte e a cultura sempre foram elementos fundamentais para o MST. Logo, isso são seria diferente no Armazém, que também é um espaço do Movimento. A música, a literatura, o teatro, o debate, as oficinas, rodas de conversa, sempre terão espaço dentro dessa estrutura. Um lugar onde campo e cidade possam se unir e se sentir entre os seus, entre iguais, entre classe trabalhadora.

Sabemos que o acesso aos produtos orgânicos ainda é restrito para uma determinada camada da população. Isso fica muito mais evidente nas grandes cidades. Diante disso, como fazer esses produtos chegarem para toda a classe trabalhadora de maneira mais acessível?

É importante lembrar que os produtos aqui vendidos fazem parte —  em sua grande maioria —   de um processo de luta pela terra no Brasil. A Reforma Agrária Popular passa pela construção de um novo modelo agrícola que propõe a democratização da terra em contraponto ao agronegócio.

Logo, a nossa luta é também pelo acesso de todas e todos à esses alimentos. Mas, de modo geral, os produtos orgânicos custam cerca de 30% a mais que os convencionais. A logística se torna mais difícil, pois, a mercadoria não tem conservantes artificiais, nem veneno e, por isso, ficam mais vulneráveis a carunchos, mofo, etc. Isso por si só já interfere no valor final. 
 

Nosso arroz, por exemplo, que é de uma cooperativa do MST de mais de 500 famílias da Grande Porto Alegre, percorre centenas de quilômetros para chegar à loja. Nesse processo, os cooperados organizam todas as etapas, da plantação ao desenvolvimento da embalagem e a venda.

Ainda assim, como boa parte é entregue de forma direta, ou seja, sem atravessador, os itens costumam chegar bem mais baratos ao consumidor. Sabemos que ainda não é o ideal, mas desde o início trabalhamos de todas as formas possíveis para que reduzir os custos para o consumidor. O acesso a uma alimentação saudável e de qualidade não deve ser privilégio da classe média, isso seria um contra-senso se fosse fomentado por um movimento como o MST.

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Da loja de São Paulo nasceram outros espaços pelo país, o que transformou o Armazém do Campo em uma rede. Você pode falar um pouco mais sobre isso?

Antes de inaugurar a loja em São Paulo, já tínhamos uma experiência de comercialização em Porto Alegre, que é uma loja que existe a mais de 15 anos, dentro do Mercado Municipal. Depois veio São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Recife e Maranhão.

Em construção temos espaços em Campo Grande, Brasília, Aracaju, Fortaleza, Salvador e São Bernardo do Campo. A nossa ideia é expandir cada vez mais e levar os frutos da Reforma Agrária para todos os cantos desse país, privilegiando sempre a produção local de cada estado e região. 
 

Não podemos esquecer que isso já é feito em parte pelas feiras da Reforma Agrária, mas a ideia de ter um espaço de comercialização permanente é parte desse escopo de levar uma alimentação saudável e acessível para todas e todos.

Desde o início do ano, o governo Bolsonaro (PSL) já liberou mais de 290 tipo de agrotóxicos. Como o Armazém do Campo realiza esse diálogo com a população acerca da alimentação saudável em tempos como esses? 

O trabalho de formação que realizamos aqui no Armazém do Campo é fundamental. Além de todo o esforço já citado anteriormente, dia após dia nós conversamos com cada um que entra aqui sobre a importância da alimentação saudável, da agroecologia e, principalmente, da Reforma Agrária Popular. Hoje, a nossa possibilidade de avanço vai nessa direção. Sabemos ser essa uma batalha longa, mas enquanto MST e Armazém do Campo estamos dispostos a enfrentá-la.

 

Para saber a programação de atividades de comemoração dos 3 anos de Armazém do Campo-SP, clique aqui

 

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*Editada por Fernanda Alcântara