Você conhece a Terra de Sabores?

Marca do Espirito Santo, organizada pela Coopterra, é construída por 577 famílias Sem Terra
Alguns dos tipos de café comercializados pela Terra de Sabores. Foto_Thamires Martins.jpg
Um dos tipos de café comercializados pela Terra de Sabores. Foto: Thamires Martins

Por Wesley Lima
Da Página do MST
 

Tem ocupação de latifúndio, acampamento, trabalho coletivo, mobilização popular, resistência e produção de alimentos saudáveis. Esses processos fazem parte dos produtos da marca Terra de Sabores que hoje o trabalhador e trabalhadora da cidade encontram facilmente nos espaços e atividades organizadas pelo MST em todo pais.  

A marca, organizada por famílias Sem Terra do estado do Espírito Santo, é fruto da organização produtiva em torno da Cooperativa de Produção Comercialização e Beneficiamento dos Assentados (Coopterra).  

Prestes a completar sete anos de existência, a cooperativa tem comercializado produtos a partir da marca Terra de Sabores e se tornou uma referência na venda de café e pimenta, produzidos em dez assentamentos das regiões Norte e Noroeste do estado, com a participação direta de 450 famílias Sem Terra.  

Além disso, tem fortalecido a produção de licores e geleias de três assentamentos, onde residem 127 famílias, também do MST, principalmente da região Sul.  

Geleia Terra de Sabores está a venda nas lojas do Armazém do Campo. Foto_Thamires Martins.jpg
Geleia Terra de Sabores. Foto: Thamires Martins

Ricardo Scalea, um dos técnicos da Coopterra, que atua no administrativo e na área comercial, explica que a organização da cooperativa possibilitou a construção da marca e uma melhor organização da produção agrícola dos assentamentos do MST.  

Ele afirma que Terra de Sabores, criada em 2017, “dá visibilidade a produção […] e se configura enquanto uma marca estadual, tendo como base as discussões em torno da Reforma Agrária Popular”.  

“Nesse sentido, a gente tem pautado a produção, tendo a marca como uma referência, para que ela possa dialogar com os consumidores, com o objetivo de fazer o debate da Reforma Agrária, mas também para agregar valor à produção de frutas, de café e de pimenta que a gente tem no estado.”  

E completa: “Temos a pretensão de ampliar o processo produtivo. Estamos estudando e vendo a possibilidade de desenvolver novos produtos […]. A marca tem mudado, pouco a pouco, a vida das famílias para além da renda imediata. Acredito, que através da estruturação da cooperativa e sua atuação em diversas necessidades, a gente tem tido bons resultados para garantir a ampliação e efetivação da marca”, argumenta Ricardo.  

Luta e organização produtiva  

O assentamento Vale da Vitória, localizado em São Matheus, região Norte do Espírito Santo, é fruto da primeira ocupação de terra do MST no estado. Ali deu início a organização da produção das 34 Famílias, que a princípio se assentaram após a ocupação.  

Essa região do Espírito Santo é conhecida como Quilombo dos Palmares, que se tornou um território grande e bastante produtivo com a desapropriação de terra para fins de reforma agrária através da luta das famílias organizadas pelo MST.  

Hoje, o assentamento ao completar 34 anos, já tem 70 famílias residindo na área, por conta dos filhos dos assentados que ficaram junto aos pais. A comunidade integra a Coopterra e participa da marca Terra de Sabores.  

Colheita de café em área de Reforma Agrária no ES. Foto_Divulgação.jpg
Colheita de café em área de Reforma Agrária no ES.
Foto: Divulgação

No Vale da Vitória, a produção da geleia e do café para marca têm animado as famílias, direcionando outra linha de produção. Porém, vale destacar, que além do café, a pimenta é uma cultura produtiva importante.  

A família de Eliandra Fernandes é uma das referências na produção de geleias da marca. Ela é uma das filhas de oito irmãos e mora no Recanto do Tião Vaqueiro, nome dado ao sítio e pomar dentro do assentamento onde vive e acontece a produção da geleia.  

Ela conta que o início da produção do doce não se deu de maneira planejada, mas sim, por conta das muitas frutas que a família possui no quintal do sítio. “Começamos com uma experiência pequena e depois foi aumentando e hoje nós já temos uma produção um pouco maior, já que agora fazemos também licores e panificados”, explica Fernandes e completa: “Só é possível a produção da geleia, porque houve uma luta antes para conquistar esse território aqui”.  

“A nossa produção se transformou numa referência e muitas pessoas passaram a conhecer a marca quando expomos nossos produtos nas feiras e em vários pontos que pegam a geleia para poder vender nas cidades e nas capitais de outros estados. Para mim se a marca acaba ficando conhecida, consequentemente, o assentamento fica conhecido.”  

Sobre os desafios, Fernandes afirma que um deles é garantir uma boa infraestrutura para produção das geleias, que ainda acontece apenas no núcleo familiar. Para ela é necessário envolver mais e mais famílias na produção da geleia, assim como existe uma grande participação no cultivo e organização produtiva do café e da pimenta.  

No Armazém tem!  

Os produtos do assentamento Vale da Vitória, com a marca Terra de Sabores, estão disponíveis para compra também no Armazém do Campo, loja do MST, que tem atuado em rede e possui estabelecimentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Maranhão e Recife.   

As lojas estão repletas de luta e de produtos da Reforma Agrária, como da Coopterra, que são derivados do leite, café, mel, geleias, arroz, feijão, achocolatados, cereais matinais, cervejas artesanais, verduras e legumes.

Armazém do Campo no RJ. Foto_Thamires Martins.jpg

 

Loja do Armazém do Campo, localizada na Lapa, Rio de Janeiro.
Foto: Thamires Martins