Durante visita, estudantes se posicionam contra despejo do assentamento PDS Osvaldo de Oliveira
Por Wesley Lima*
Da Página do MST
No último dia 14 de setembro, as famílias do assentamento Projeto de Desenvolvimento Sustentável (PDS) Osvaldo de Oliveira, localizado em Macaé (RJ), receberam a visita de 15 estudantes da turma do Curso de Licenciatura em Geografia da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Macaé (FAFIMA).
A visita fez parte das atividades de campo da turma e foi construída a partir do diálogo entre a professora da disciplina de geografia agrária, Daniele Lima Barros, e o MST na região. Vale destacar que esse mesmo contato é construído com outras universidades e sindicatos, principalmente neste momento em que as famílias sofrem com uma ameaça de despejo.
A liminar de despejo foi determinada pelo Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro (TRF-RJ) em agosto deste ano.
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Durante a visita de campo, os estudantes conheceram a história de luta do assentamento, compreenderam a atual ameaça de despejo e puderam visitar locais e ver de perto o processo produtivo desenvolvido na área.
Sobre o aprendizado, a professora Barros afirmou que é importante conectar o conhecimento da sala de aula com a realidade das famílias que lutam pela terra. “A geografia agrária analisa os aspectos econômicos, sociais e políticos da situação agrária brasileira e portanto, achei importante levar os alunos para um assentamento rural, para que eles possam ter uma visão do que é a luta pela terra e do quanto que essa luta é extremamente importante para nosso país”, explicou.
Um Brasil de concentração e desigualdades
Ela enfatizou também que a existência de assentamentos como o PDS Osvaldo de Oliveira desmontam as desigualdades construídas em torno da concentração de terra no Brasil, “que é histórica”.
Essa afirmação de Barros está conectada aos resultados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, divulgados no dia 26 de julho de 2018. O Censo indica que a estrutura agrária no Brasil se concentrou ainda mais nos últimos 11 anos, período desde o último levantamento. De acordo com a pesquisa, propriedades rurais com até 50 hectares (equivalentes a 500 mil m², ou 70 campos de futebol cada) representam 81,3% do total de estabelecimentos agropecuários, ou seja, mais de 4,1 milhões de propriedades rurais. Juntas, elas somam 44,8 milhões hectares, ou 448 mil km², o que equivale a 12,8% do total da área rural produtiva do país.
O Censo Agropecuário é feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A última edição da pesquisa foi realizada em 2006. Na época, os produtores com até 50 hectares representavam 78,4% e estavam em uma área correspondente a 13,3% da área rural produtiva.
Se analisarmos os dados do Censo e a localização dos estados com maior concentração fundiária, o Mato Grosso sai na frente por conter cerca 10 mil hectares, com 868 fazendas. Em segundo lugar fica o Mato Grosso do Sul, que concentra 341 grandes latifúndios.
O Pará, em terceiro lugar na lista de quantidade de latifúndios, registrou 188 estabelecimentos rurais com 10 mil hectares ou mais. No entanto, vale destacar que o estado registra os maiores latifúndios do país e é palco de emblemáticos conflitos, como o massacre de Eldorado dos Carajás, em 1996.
Despejo não! PDS resiste!
O PDS Osvaldo de Oliveira é referência por ser uma área conquistada a partir da luta pela terra, se contrapondo a lógica de concentração fundiária no país e desenvolvendo um manejo produtivo baseado na produção de alimentos saudáveis, livres de veneno e sem exploração do trabalho.
Barros apontou ainda que os assentamentos são extremamente importantes e completa: “Onde havia uma imensidão de terra parada, sem produzir, hoje se tem várias famílias produzindo de maneira agroecológica, visando levar alimentos à mesa da cidade e da comunidade sem agrotóxicos.”
Juliana Maia Espinhosa, estudante da FAFIMA, pontuou que ver de perto como o Movimento se articula e como acontece a dinâmica em um assentamento “é gratificante”. Ela explicou ainda que o PDS Osvaldo de Oliveira se diferencia dos convencionais “por ter na essência o debate da agricultura ecológica, sendo assim um projeto de desenvolvimento sustentável”.
“A visita de campo conseguiu desconstruir a demonização do MST pelo senso comum. Conseguiu mostrar como as pessoas são organizadas, pois tudo é pensado e feito em conjunto, de forma coletiva. Tenho total admiração e respeito pelas pessoas que estão ali na linha de frente, por lutas que são tão fundamentais hoje”, afirmou Juliana.
A visita de campo, ao acontecer durante a eminência de despejo, fortalece o processo de resistência das famílias Sem Terra, construindo outras relações com a sociedade a partir das universidades.
*Com informações do Coletivo de Comunicação do MST no Rio de Janeiro
**Editado por Fernanda Alcântara