Famílias resistem no campo através da produção de alimentos saudáveis
Por Coletivo de Comunicação da Bahia
Segundo dados do relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), denominado “Estado da Alimentação e da Agricultura”, a agricultura familiar tem capacidade para colaborar na erradicação da fome mundial e alcançar a segurança alimentar sustentável.
Sabendo que a agricultura familiar realmente é um importante pilar para a economia brasileira, os conflitos estão cada vez mais frequentes e agora com um governo que incentiva o ódio contra aqueles que lutam e acreditam numa reforma agrária, justa e igualitária.
As perseguições chegaram aos perímetros irrigados do Norte da Bahia, famílias acampados há mais de 7 anos, produzindo alimentos saudáveis e de qualidade, que baliza e fortalece a economia local, vem sofrendo diversas tentativas de despejo por parte da CODEVASF (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba).
No Brasil, apenas 20% das terras agricultáveis pertencem aos pequenos produtores familiares, segundo dados do último Censo Agropecuário realizado em 2006, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mesmo assim, a agricultura familiar é responsável por mais de 80% dos empregos gerados no campo, o que evidencia sua importância ao gerar renda local. Permitir a permanência do homem no campo significa permitir a produção de alimentos.
Com uma produção diversificada, o setor produz cerca de 80% dos alimentos que chegam à mesa da população brasileira, como a mandioca (83%) e o feijão (70%), representa 84% das propriedades rurais, empregando, pelo menos, cinco milhões de famílias.
A expulsão do homem, da mulher e crianças do campo gera conflitos agrários e uma queda brusca na geração de emprego e renda, não garantindo a função social da terra, como rege a Constituição de 1988.
Segundo o Rui Leite, Dirigente Estadual do MST no Norte da Bahia e agricultor, a terra é o nosso último bem e agora essa ameaça de despejo, nos coloca num beco saída e nem perspectiva de vida. “O nosso medo é saber que somos homens e mulheres que vivemos no campo e que a única coisa sabemos fazer que é plantar e produzir alimentos saudáveis, a CODEVASF e o governo querem nos tirar, destruindo nosso sonho de ter uma vida digna. Esse é o nosso unico caminho, por isso não permitiremos esse despejo, seremos resistência e continuaremos em luta.”, conclui.
Não podemos esquecer o processo histórico que carrega a agricultura que inicia na década de 1530, com a criação das capitanias hereditárias e o sistema de sesmarias, no qual a Coroa Portuguesa distribuía terrenos para quem tivesse condições para produzir, desde que fosse pago um sexto da produção para a Coroa. Com isso, poucas pessoas adquiriram grandes extensões de terra, estabelecendo diversos latifúndios no país.
Algumas famílias concentraram grandes propriedades rurais e os camponeses passaram a trabalhar como empregados para os detentores de terra. Contudo, a violência no campo se intensificou com a independência do Brasil, em 1822, quando a demarcação de imóveis rurais ocorreu através da lei do mais forte, provocando vários assassinatos.
Em 1988 com a constituição Federal garantia que a terra que estivesse improdutiva e que não cumprisse a função social seria destinada para Reforma Agrária.
Mesmo com a lei os conflitos agrários ainda ocorriam em diversos cantos do país, conflitos se tornavam cada vez mais intensos com assassinatos de trabalhadores rurais e consequentemente escravidão e exploração.
No Brasil, as grandes propriedades rurais são voltadas para produção de commodities, grãos que abastecem as indústrias e o mercado externo. Em outras palavras, trata-se da monocultura, o que é prejudicial para o solo e, consequentemente, para o meio ambiente devido ao uso de uma quantidade muito grande de agrotóxicos.
Já na agricultura familiar não. A produção é diversificada, realizada em pequenas propriedades, voltada para o mercado interno e com pouco ou nenhum uso de defensivos agrícolas.
Segundo Evanildo Costa, da Direção Nacional do MST na Bahia, as ofensivas do governo Bolsonaro para cima dos movimentos populares e sociais, inclusive o MST, prejudica o bom andamento e desenvolvimento econômico do país. “A nossa resposta é através da produção de alimentos saudáveis e de qualidade. Não há dúvida: a agricultura familiar é a verdadeira responsável pela geração de riquezas e de alimentos para o país. Promove o desenvolvimento socioeconômico e cultural das comunidades locais, incentivá-la é uma questão de bom-senso”, finaliza.
As cinco áreas dos perímetros irrigados possuem mais de 3.300 hectares de terras agricultáveis , diariamente são produzidos mais de 20 toneladas de alimentos por dia, mais de 600 toneladas por mês e aproximadamente 7200 toneladas por ano.
Dentro das diversidades de alimentos, produzimos: cebola, melão, melancia, abóbora, acerola, goiaba, macaxeira, feijão, milho, banana, manga, batata doce e mamão.
Na produção de animais são mais de 2000 ovinos e caprinos que influenciam diretamente na economia de Juazeiro, Petrolina e as cidades circunvizinhas.
Os acampamentos geram em média cerca de mais de 4500 empregos diretos e indiretos na sociedade, quando o governo dá ordem de despejo ele quer acabar com o emprego e os sonhos de mais de 4500 trabalhadores e trabalhadoras.
Dentro dos acampamentos existem quatro escolas com mais de 400 alunos entre ensino fundamental e EJA (Educação de Jovens e Adultos).
É esta a realidade dos acampamentos das áreas dos perímetros irrigados, são famílias que sonham em sustentar o Brasil com o trabalho realizado no campo, e em dar uma educação de qualidade para seus filhos e poder cultivar a terra, viver com dignidade.