Lideranças religiosas e políticas se unem em apoio ao acampamento Maila Sabrina, do Paraná
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST no Paraná
Da Página do MST
As crianças e a religiosidade protagonizaram o ato político e inter-religioso realizado no acampamento Maila Sabrina, em Ortigueira (PR), neste último sábado (12).
Dezenas de crianças e adolescentes, moradores da comunidade, levaram pães, grãos, frutas e legumes produzidos pelas famílias para serem abençoados durante o ato. A ação ocorreu em apoio à luta das 400 famílias do acampamento, que vivem na área desde 2003. Assim como cerca de 7 mil famílias do estado, as agricultoras e agricultores do local sofrem a angústia da ameaça de despejo.
O pastor David Gomes e a cantora gospel Elyssa Gomes vieram de Londrina especialmente para a atividade e emocionaram o público com canções sobre fé. O pastor Carlos Xavier, integrante do grupo Evangélicos Pela Justiça de Londrina, e a pastora Cleusa Caldeira, da Igreja Presbiteriana Independente de Paranavaí, também participaram do ato.
“Nós precisamos, como pessoas de fé, estar junto com esse povo, porque esse aqui é o povo de Deus que está lutando pelo direito à habitação, de ter terra, de plantar, de cultivar, de colher aquilo que se plantou. Também de educar seus filhos […]. É um povo brasileiro reunido e clamando por Justiça”, disse a pastora presbiteriana.
Jocelda Oliveira, integrante da coordenação da comunidade e da direção estadual do MST, recordou o esforço das famílias acampadas em construir tudo que há na comunidade. “Quem construiu as coisas, quem plantou cada árvore, foi o povo, foram as famílias. Hoje temos uma vida aqui na comunidade, uma vida social, de lazer, de fé, e nós temos que respeitar as questões da dimensão espiritual e humana.”
A comunidade é exemplo de respeito à liberdade de crença, com igrejas de diversas denominações, entre elas, a católica, Deus é Amor, Assembleia de Deus, Congregação Cristã do Brasil. “Aqui todo mundo é aceito, todo mundo é respeitado, independente das diferenças religiosas. Nós temos a unidade que é a unidade na luta pela terra, para cada família ter sua casa, seu espaço pra produzir e ter comida”, garantiu a dirigente do MST.
Viabilidade da reforma agrária
O deputado estadual Professor Lemos (PT) apresentou dados que comprovam a viabilidade da reforma agrária no estado: “O Paraná tem 19 milhões de alqueires, tem 2 milhões de alqueires sem título, sem escritura, sendo usados indevidamente por fazendeiros. Terras que precisam ser devolvidas para fazer reforma agrária, conforme estabelece o Estatuto da Terra de 1964 e a Constituição Federal de 1988 […]. Estamos certos do ponto de vista da nossa fé cristã, pois temos fundamentos da nossa bíblia, e também temos os fundamentos do Direito”.
Já Roberto Baggio, integrante da direção nacional do MST, lembrou que o acampamento Maila Sabrina é o 5º maior distrito rural do Paraná, com mais habitantes do que 30 municípios do estado.
Em 17 anos, a área se tornou uma pequena cidade, com escola, unidade de saúde, igrejas, mercado e centro comunitário. A diversidade e a produtividade são as marcas da agricultura e da pecuária no acampamento. Em 2018 foram colhidas 108 mil sacas de soja e milho; 3 mil sacas de feijão; 286 toneladas de arroz, abóbora, batata e legumes em geral; 900 toneladas de mandioca; 35 mil caixas de tomate; 8700 animais, entre bovinos, cabritos, cavalos e porcos.
“As famílias Sem Terra construíram aqui um projeto de vida, que transformou esse espaço. Um projeto que é produto do trabalho das pessoas”, garantiu Baggio.
Também participaram da atividade o militante dos Direitos Humanos Darci Frigo, da organização Terra de Direitos; o vereador Walter Souza (PTB), de Ortigueira; Maurício Barros, integrante do Sindicato dos Servidores Públicos Federais em Saúde, Trabalho, Previdência Social e Ação Social do Paraná (Sindprevs); e Claudio Oliveira, advogado do MST.
Histórico da área
O território de 10.600 hectares, um dos maiores latifúndios do Paraná, era de devastação ambiental, pela produção de búfalo, sem cumprir os critérios de reserva legal. A área foi ocupada em 2003 e a ordem de reintegração de posse foi emitida no mesmo ano. A disputa jurídica segue desde então e nos últimos meses as ameaças de despejo se intensificaram.
A boa notícia veio há poucos dias, quando o governo federal se manifestou no processo jurídico pedindo sete meses de suspensão da liminar de reintegração de posse.
*Editado por Wesley Lima