Lula, Chico Buarque e mais de 4 mil pessoas em partida de futebol pela liberdade

Evento ocorreu neste domingo (22), na Escola Nacional Florestan Fernandes, do MST, em Guararema-SP
Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu / Levante

Por Ednubia Ghisi
Da Página do MST

A bola rolou já com clima de comemoração na partida entre o time do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do cantor Chico Buarque contra a equipe de integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O campo Dr. Sócrates Brasileiro, localizado na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), reuniu homens e mulheres craques da luta pela reforma agrária, da política e da música neste domingo (22).

Monica Benício
Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu / Levante

Para além dos 22 em campo, a ENFF recebeu cerca de 4 mil visitantes e torcedores pela democracia. “Nesse momento é muito importante esse encontro, para celebrarmos a liberdade, para podermos dizer sim à democracia, para construirmos um projeto de sociedade. Mostramos que também podemos fazer isso jogando futebol e conversando sobre política”, garantiu Rosana Fernandes, da coordenação da ENFF.  

Dezenas de artistas, parlamentares e figuras públicas participaram do evento, inclusive dentro de campo. Uma delas foi Monica Benício, arquiteta e militante pelos Direitos Humanos, viúva de Marielle Franco. “Achei o jogo ótimo, super divertido. A ideia é a confraternização, era um jogo que a gente não estava disputando. É super prazeroso depois de um ano tão duro, tão difícil, a gente conseguir chegar numa confraternização dessa […], super saudável e com tanta representatividade”. Para a militante, o encontro contribuiu para “recarregar a bateria de alguma maneira pra gente conseguir enfrentar esse 2020 que vem pela frente com mais esperança e solidariedade”.

“Hoje a gente está aqui num dia muito alegre, um dia de abraçar companheiros e companheiras que passaram esse ano inteiro lutando por democracia, pela liberdade do presidente e contra esse projeto de destruição que representa o governo Bolsonaro. Então, é um momento de celebrar mesmo, por mais que tenha sido um ano muito duro. Por isso é muito bom olhar no olhar das companheiras e companheiros, se abraçar e se reenergizar para o ano que vem”, Natália Bonavides, deputada federal do Rio Grande do Norte. 

Os cordões da Vigília Lula Livre na ENFF
José Carlos Santos
Foto: Guilherme Gandolfi @guifrodu


Nos cordões que cuidaram da disciplina e segurança do encontro estava José Carlos Santos, integrante do MST acampado na comunidade Maila Sabrina, no município de Ortigueira, no Paraná. Ele está entre os mais de 3 mil militantes do MST do estado que participaram do revezamento quinzenal de brigadas de apoio à Vigília Lula Livre. Ao longo dos 580 dias de resistência, o agricultor Sem Terra esteve pelo menos oito vezes na no local.

“Pra gente é muito gratificante ter visto ele sair e estar aqui hoje. Eu até me emociono de lembrar. Venho de uma cidade pequena que o Lula ajudou muito, porque a gente via criança andando descalço, pedindo pão, e depois que o Lula entrou não teve mais isso. Então eu fui na Vigília várias vezes e me dediquei, e acho que fiz a minha obrigação porque ele fez muito por nós, ela ajudou muito a classe trabalhadora e a gente só deu um retorno pra ele que é merecido”, disse o agricultor. 

Lula e Chico
Foto: Joka Madruga

Quando era tempo de somar-se à vigilância pela liberdade do ex-presidente em Curitiba, Santos deixava animais, plantações de mandioca e de milho. “O acampamento ensina muito coisa pra nós, de que todo mundo é ser humanos e todo mundo é companheiro. Quando eu saía pra luta, sempre ficava alguém lá que cuidava da minha criação e da minha lavoura”.

Na Vigília foi cozinheiro, participou da equipe de disciplina e compôs cordões humanos de segurança, inclusive no dia da liberdade de Lula. “Lá na frente os meus netos vão ter oportunidade de saber que eu participei desse momento difícil, e que um dia as coisas podem mudar nesse país”.   

Futebol, arte e política 

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Logo após o jogo, um palco montado na Escola recebeu shows. “O futebol, o esporte como um todo, e as artes unem o brasileiro. Traduzem a alma do brasileiro, o nosso jeito de ser, o nosso gosto pela coletividade. O futebol é um esporte coletivo, e aqui hoje foi um exemplo. Todo mundo pode jogar, brincar. Assim que é a democracia. E nós queremos que todos possam, de acordo com as suas potencialidades, participar da democracia, da vida pública brasileira. É importantíssimo ter o Lula de volta como um representante desse desejo”, afirmou o cantor e compositor Chico Cesar.

Foto: Filipe Peres

Xico Sá, escritor e jornalista, vê o futebol como revolucionário e pedagógico. “Sempre teve essa história de que futebol era alienante, e eu discordo completamente. Eu acho que o futebol engaja, fornece as melhores metáforas para explicar a vida, o mundo e a política. Essa reunião hoje, num ano tão barra pesada, é prova de resistência, de diversão. O futebol serve muito pra isso, e acho que no país do futebol, nunca o futebol foi tão político”.

E concluiu comparando o esporte ao ex-presidente. “A história do Lula é muito colada no futebol, no Sócrates, no Corinthians. Se pegar as gestões dele, foram todas explicadas a partir de metáforas do futebol. É muito importante que essa celebração tenha futebol no meio, e que seja futebol de homem, de mulheres, de todo mundo junto”. 

*Editado por Fernanda Alcântara