Famílias do MST completam um mês de vigília contra despejos em Cascavel, Paraná
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
A vigília permanente para denunciar ameaças de despejo na região Oeste do Paraná completou um mês nesta terça-feira (28). Desde o dia 28 de dezembro de 2019, centenas de agricultores e agricultoras acampados em Cascavel realizam manifestações diárias para cobrar do governador do estado, Ratinho Junior (PSD), a efetivação da reforma agrária. Batizada de “Vigília da Resistência Camponesa: por Terra, Vida e Dignidade”, a ação ocorre sempre entre as 10h e 15h, no Km 557, à beira da BR-277, rodovia que atravessa o estado de leste a oeste.
As comunidades ameaçadas são Resistência Camponesa, Dorcelina Folador e 1º de Agosto, todas localizadas em Cascavel, e com cerca de 20 anos de trabalho e desenvolvimento nas áreas. Ao todo, 212 famílias vivem nas terras – cerca de 800 pessoas, sendo 250 crianças e 80 idosos. A ordem de reintegração de posse chegou na segunda semana de dezembro e trouxe angústia ao período de festas de Natal e Ano Novo dos agricultores e agricultoras, que integram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). As áreas fazem parte do complexo de fazendas Cajati.
Após um mês de mobilização diária, o espaço da Vigília já se assemelha a uma grande praça arborizada e movimentada. Com trabalho em mutirão, foram construídos bancos de madeira, um fogão à lenha erguido com tijolos e argila, balanços para as crianças e estruturas cobertas com lona para proteger os participantes do sol forte ou da chuva. Uma feira é montada todos os dias para expor sementes crioulas e alimentos produzidos pelas famílias acampadas. Faixas e bandeiras são fixadas à beira da rodovia para apresentar a mobilização aos que passam pelo local.
Angela Gonçalves, moradora e coordenadora do acampamento Resistência Camponesa, conta que a Vigília já recebeu centenas de visitantes apoiadores, vindos da cidade de Cascavel, de outros municípios do Paraná e de outros estados. Todas as pessoas que chegam são convidadas a assinar o livro de presença e a almoçar com os camponeses. “É muito gratificante ter o alimento para oferecer a quem vai nos visitar e manifestar solidariedade. Assim também mostramos que somos produtores de comida, que estamos vivendo da terra”, afirma.
Não à violência, sim à reforma agrária
As três comunidades ameaçadas têm muitas características em comum: moradias simples, igrejas, campos de futebol, pequenos armazéns, açudes, crianças brincando livremente, poucas cercas e muita produção de alimentos.
Margarete Fogaça e o esposo moram no acampamento Resistência Camponesa e têm como vizinhos filhos e netos. Lá cultivam uma horta, produzem milho, feijão, arroz e criam galinhas e porcos para consumo próprio. Além disso, comercializam 500 quilos de mandioca por semana em restaurantes e mercados de Cascavel.
“A gente está lutando pra ter terra. Estamos lutando e pedindo a Deus pra que não tirem a gente daqui, porque não temos pra onde ir. Eu não tenho outro lugar pra morar. Nem eu, nem meus filhos, nem meus netos. Várias famílias que moram aqui não tem pra onde ir”, desabafou a agricultora.
A reivindicação das famílias é de que o governo do estadual abra o diálogo, faça um diagnóstico das áreas ocupadas e veja qual a melhor saída para os camponeses e para o desenvolvimento do estado. “Não há despejo que não seja violento”, garante Angela Gonçalves. Ela enfatiza ainda que o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já havia manifestado interesse em comprar a área, chegando a elaborar o projeto de assentamento das famílias. “É uma irresponsabilidade do Estado, porque demonstrou que tinha interesse em comprar a área, gerou expectativas nas famílias, e agora vem com essa história de despejo. São duas ações do Estado, uma oposta à outra”.
No seu primeiro ano à frente do governo do Paraná, o governador Ratinho Jr. consentiu o despejo de cerca de 500 famílias, de nove comunidades do estado. José Damaceno, da coordenação estadual do MST, chama atenção para os problemas sociais e econômicos causados pelas reintegrações de posse, uma vez que os acampados ficam sem local de produção e moradia.
“Nosso apelo para sociedade e para o governo Ratinho é de que a violência não resolve a questão da reforma agrária. Aqui tem famílias, crianças, jovens, adultos, idosos produzindo seus alimentos, sua renda, sua cultura e sua existência. Por isso pedimos não à violência e sim à reforma agrária”, cobrou Damaceno.
*Editado por Yuri Simeon