Curso de Realidade Brasileira discute formação do Brasil, no DF
Por Janelson Ferreira
Da Página do MST
O terceiro Curso de Realidade Brasileira (CRB) do Distrito Federal, teve início no último sábado (1), com mais de 200 pessoas inscritas.
A atividade que será realizada durante oito meses com oito etapas, debate a dinâmica de formação política e social do Brasil e dialoga com temas centrais na atual conjuntura brasileira. Nesse período também ocorrem duas turmas simultâneas: em Ceilândia e Santa Maria, regiões administrativas do DF.
Ao longo das etapas previstas serão trabalhados temas como educação popular, trabalho de base, questão agrária e urbana, economia política, mundo do trabalho, entre outros.
Atualmente, o MST definiu como central a construção dos cursos de Realidade Brasileira. Na visão dos trabalhadores Sem Terra do Movimento, estes espaços são fundamentais para realizar a batalha das ideias no seio da classe trabalhadora.
O curso busca promover o entendimento sobre assuntos pertinentes da luta social, o aprofunda estudos teóricos que forneçam elementos argumentativos e interpretativos sobre a realidade brasileira e o desenvolvimento de uma ferramenta para construir entendimentos e consciência à organização da classe trabalhadora.
Na aula inaugural do Curso, o membro da direção nacional do MST, João Pedro Stédile, a professora e diretora do Sindicato dos Professores do DF, Rosilene Correa, a representante do Coletiva Trafeminista – Trafem, Lucci Laporta e a especialista em relações de gênero e raça Deisi Benedito, contribuíram com reflexões importantes para os estudos das duas turmas ao longo do Curso.
Para Deisi Benedito, é fundamental que em 2020 a classe trabalhadora esteja mais unida em torno de pautas comuns. A especialista também ressaltou o vínculo entre o encarceramento em massa da juventude negra e o histórico escravagista do Brasil. “A escravidão foi execução penal sem crime e hoje, os 800 mil jovens negros presos são os mesmos jovens escravizados séculos atrás”, analisou Benedito. “Antes, éramos traficados, hoje somos traficantes”, denuncia.
Já João Pedro pontuou sobre a importância de iniciativas como o Curso de Realidade Brasileira para fortalecer o combate ao sistema capitalista. “A formação não pode ter limites, por isto temos que massificá-la com uma missão, acabar com o capitalismo”, afirma o dirigente do MST. Stédile ressalta ainda o papel do curso em contribuir para eliminar esse sistema desigual e violento. “O capitalismo foi construído sobre uma base de exploração e discriminação, por isto, o Curso deve ser um espaço de pessoas dispostas a acabar com o capitalismo”, destacou o dirigente.
“Precisamos de um choque de realidade para entender o contexto atual e agirmos, fazendo com que a classe trabalhadora se entenda com classe de fato”, refletiu a diretora do Sinpro-DF, Rosilene, ao analisar a conjuntura política atual no país. Ela também chama atenção para necessidade de repensar a comunicação e o diálogo com os trabalhadores. “Nossa comunicação precisa ser mais eficiente, estabelecendo um contato real com a classe trabalhadora”, afirmou.
Lucci Laporta trouxe para o debate questões relacionadas às pessoas trans. Ela explica que esta população faz parte da classe trabalhadora e, por isto, sua realidade não está dissociada das demais. “Muitas trans, desde a infância, já são obrigadas a passar por diversos desafios diante da sociedade”, afirmou. Laporta também analisou a situação deste segmento diante das ameaças do governo Bolsonaro. “Temos que viver diante de um presidente que prefere um filho morto à um filho gay”, destacou.
CRBs surgem em meio à luta por um projeto popular para o Brasil
Os Cursos de Realidade Brasileira tiveram início em 2001, na Universidade Federal de Juiz de Fora, com uma turma composta por militantes de diversas organizações sociais. A primeira experiência surgiu vinculada à “Marcha Nacional por um Projeto Popular para o Brasil”. A proposta era ter um curso voltado para as bases das organizações.
O Curso surgiu devido a necessidade em resgatar o pensamento nacional crítico, capaz de ajudar a compreender a formação, os dilemas e questões do Brasil. Além disso, buscava superar análises superficiais que não eram suficientes para explicar as contradições que o país enfrentava.
*Editado por Solange Engelmann