Diversidade e luta LGBT presentes no Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra
Por Marina Duarte de Souza, do CP Mídias, e Júlia Barbosa e Rafaela Ferreira, do Coletivo Magnífica Mundi
Além da autonomia e participação política das mulheres, o 1º Encontro Nacional de Mulheres Sem Terra, que ocorre em Brasília, de 5 a 9 de março, também engloba diversidade sexual e fortalece a luta LGBT camponesa.
“O primeiro encontro das mulheres é um marco histórico do Movimento. Esse encontro ficaria incompleto se os sujeitos LGBTs não estivessem nessa construção aqui, porque eles estão lá em todos os locais construindo o Movimento, nos assentamentos, acampamentos, estão na produção, na educação, na luta pela terra no enfrentamento do latifúndio. Estar aqui é um reconhecimento, mas também foi um forjar do próprio sujeito LGBT”, defende Irineida Lopes, conhecida Neidinha e representante do Coletivo LGBT do Ceará.
Mulher, lésbica e camponesa, Neidinha foi durante seis anos da direção nacional e explica que o Setor de Gênero inclui mulheres e pessoas LGBTs.
“Nós fazemos parte desse coletivo do setor de gênero do MST. Além de nós, termos a definição de termos um sujeito LGBT na direção nacional, que pra nós é muito importante. A última definição foi que dentro das direções de cada estado tenha pelo menos dois representante do Coletivo. Alguns estados já avançaram, outros não, mas estamos nessa construção”, explica.
É o caso da pedagoga e mulher trans, Dê Silva, do MST do Mato Grosso, que participou de diversas instâncias da organização e abriu as portas do Movimento. “Claro que isto não acontece com todas as pessoas trans e travestis que estão dentro do Movimento, mas com o debate da reforma agrária popular, a gente vai entendendo que não dá para fazer este debate sem olhar o sujeito que constrói essa Reforma Agrária nas bases”, afirma.
Dê é uma das mulheres trans que participam do 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra. Assim como ela, Jhenyfer Silva, 21 anos, também participa das atividades. “Eu me firmar mulher trans dentro do MST foi quando eu finalmente me senti uma mulher como todas as outras, porque o Movimento vem me dando apoio, como dá a todas as outras trans. Então, como eu estou no Movimento, minha vida mudou bastante, no meu pensar, no meu viver e no meu agir”, ressalta.
Jhenyfer entrou recentemente para o Movimento, mas Dê entrou quando ainda era Sem Terrinha, em 2000. A pedagoga entende que, assim como em toda a sociedade ainda há desafios de aceitação e vivência dos sujeitos e sujeitas LGBTs, também há dentro do Movimento.
“Nós temos caminhado. O Coletivo LGBT Nacional é uma resposta à isto. A construção dos coletivos nos estados e nas regiões, o debate nos acampamentos, a vinda das mulheres trans ao 1º Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, já são passos dessa caminhada para que prevaleça o respeito entre os sujeitos”, aponta a pedagoga, que hoje estuda no mestrado gênero e a educação das mulheres Sem Terra.
Neidinha também endossa os desafios no enfrentamento à homofobia e ao Estado repressor. “Nós temos essa luta permanente interna dentro do Movimento de ser sujeito, de construir o Movimento e continuar existindo. E também o enfrentamento externo permanente, que já é existir enquanto sujeito LGBT, enquanto mulher e enquanto sujeito que luta pela reforma agrária”, conclui ela, que também ressalta a importância da formação LGBT vincular esta questão a construção de um mundo melhor na organização.
Nesse sentido, Dê Silva pontua: “Nós estamos na mesma luta, estamos na mesma organização. Se tem machismo não tem Reforma Agrária, não tem agroecologia. Se tem LGBTfobia também não pode ter”, e defende que é este o debate a ser levado para o conjunto do Movimento. “Para que a gente fortaleça essa teia que nos une e que a gente expanda este debate para que se construa, enfim, o terceiro objetivo do Movimento, que é a transformação social”.