Panelaço mostra resistência e força de luta em mais de 300 cidades brasileiras
Por Solange Engelmann e Wesley Lima
Da Página do MST
Na noite desta quarta-feira (18), os moradores de mais de 300 cidades se mobilizaram contra o governo Bolsonaro no #Panelaço18M. As ações acontecem em meio a pandemia do coronavírus (COVID-19) no mundo, que tem atingido o Brasil nos últimos dias com um número crescente de pessoas infectadas e o registro de quatro mortes até o momento.
Os panelaços marcam o Dia Nacional de Luta pela Educação, o 18M, que este ano denuncia a forma irresponsável que o atual governo tem conduzido a pandemia do coronavírus e o projeto neoliberal que privatiza e entrega o país para o capital internacional.
Das janelas de suas casas, os manifestantes também denunciaram as medidas adotadas pelo governo que eliminou direitos básicos dos trabalhadores, com cortes nos investimentos públicos da saúde e educação, por exemplo, e que vem entregando os bens naturais e a indústria nacional aos países estrangeiros. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55, conhecida como PEC do Teto dos Gastos ou PEC da Morte, congelou os investimentos públicos durante 20 anos, o que inviabiliza a adoção de medidas públicas para conter o avanço do vírus no país.
Um dos coordenadores nacionais do MST, João Pedro Stedile, compara o cenário da pandemia a uma guerra de incertezas e situação extrema de nervosismo, que atinge os 210 milhões de brasileiros, que neste momento “podem sofrer um despejo da vida”. Nesse cenário, são as atitudes e os comportamentos adotados pelos governos e a população que devem determinar se o país irá perder milhões de vidas ou somente algumas.
Mas, como os trabalhadores Sem Terra e demais trabalhadores dos movimentos sociais podem enfrentar o cenário sombrio, de incertezas e morte pelo coronavírus?
Stédile explica que o MST prepara uma pauta para cobrar do governo atual medidas para proteger os camponeses. “Vamos exigir que sejam adiadas todas as dívidas de créditos para o próximo ano, que seja recuperado o PAA [Programa de Aquisição de Alimentos], para que o povo do campo plante comida e venda comida saudável na cidade, sem que o povo da cidade passe necessidade, recuperar os créditos de habitação, para, pelos menos, aproveitar esse tempo e melhorar as casas”, afirma.
A integrante da coordenação nacional do MST em Minas Gerais, Mirinha Muniz chama atenção para a necessidade dos movimentos sociais se unificarem e enfrentarem o descaso do governo atual com a saúde pública e os direitos dos trabalhadores, que tem deixado a população mais pobres cada vez mais desamparada.
“Nos temos uma grande tarefa de solidariedade entre nós. Seja nas periferias, nos movimentos do campo, nos movimentos sindicais e aonde se dá a luta da classe trabalhadora. Nós do MST estamos nos organizando pra nos fortalecer dentro dos nossos territórios, para resolver o problema do desabastecimento na alimentação e o caos na saúde pública”, argumenta Mirinha.
Segundo ela, o MST está mobilizado para garantir alimentos saudáveis e saúde ao povo, nos assentamentos, acampamentos e comunidades rurais. A dirigente reforça ainda, que o barulho no panelaço desta segunda-feira contra os descasos do governo com o povo mais pobre e trabalhador pode ser um sinal positivo de reação no cenário atual.
Devido a imposição de isolamento na maioria dos Estados, a partir das 20 horas desta quarta-feira (18), famílias em todo país se reuniram nas janelas fazendo barulho e piscando luzes, em defesa do Sistema Único de Saúde (SUS) e de políticas públicas para enfrentar a insegurança da pandemia. Parece que a solidariedade entre o povo brasileiro volta a ganhar força para derrotar o (des)governo instalado.
Conforme informações do portal G1, até o momento, as secretarias estaduais de Saúde divulgaram 529 casos confirmados de novo coronavírus, no Brasil.
Como os trabalhadores Sem Terra e camponeses do país podem se preservar para enfrentar o período de isolamento e se fortalecer para as lutas do período pós pandemia?
Para o dirigente nacional do MST, neste momento toda a precaução é pouca, até passar um mês e meio. Por isso, faz um apelo para que os militantes do MST e as famílias acampadas e assentadas fiquem em casa, de quarentena, se preservando para sair da crise com mais força e depois ter condições de pressionar o governo para as mudanças necessárias.
“É fundamental cuidarmos uns aos outros e das famílias, evitar aglomerações e deslocamentos para as cidades e grandes centros urbanos. Também precisamos ajudar a convencer os parentes que vivem nas cidades a deixar de ir trabalhar e depois vamos brigar pelo salário, mas agora tem que evitar andar de ônibus, evitar lugares que circulam muitas pessoas”, recomenda.
Confira o comentário completo de João Pedro Stedile, da coordenação nacional do MST, e Edinaldo Correia Novaes, do Setor de Saúde do MST, sobre as orientações para militância do MST em como combater a proliferação do coronavírus, se protejer e acumular forças para que todos estejam bem nas lutas futuras!
*Editado por Maura Silva