Acampamentos do MST doam 5 toneladas de alimentos orgânicos, no Paraná

As doações foram destinadas ao CRAS e ao Banco de Alimentos das prefeituras de Ponta Grossa e Castro
Doação de alimentos do pré-assentamento Emiliano Zapata, em Ponta Grossa (Imagem: Larissa da Silva Santos)

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST/PR

A solidariedade é um princípio que norteiam as ações do MST, e ganha ainda mais espaço na vida das comunidades camponesas neste período de pandemia do novo coronavírus.

A exemplo do que tem ocorrido em vários estados brasileiros, três acampamentos do Paraná doaram 5 toneladas de alimentos nos municípios de Castro e Ponta Grossa, nesta terça-feira (7). Os alimentos são resultados de cultivos totalmente orgânicos nos acampamentos Maria Rosa do Contestado e Padre Roque Zimmermann, em Castro, e no pré-assentamento Emiliano Zapata, em Ponta Grossa. As ações de solidariedade ocorrem em todo o Brasil, durante a pandemia

Maria Bueno dos Santos, chamada carinhosamente de vó Maria, falou com satisfação sobre a ação de solidariedade organizada pela comunidade Padre Roque, onde ela vive: “Eu estou feliz de poder compartilhar com os que estão na cidade. Está sobrando aqui, então vamos dividir com os que estão precisando”, disse ela. 

O mesmo sentimento é relatado pela agricultora Sandra de Jesus, do acampamento Padre Roque: “É com muito orgulho que nós vamos dividir essa maravilha que está aqui. É um privilégio muito grande a gente poder dividir com o povo da cidade, por o momento ser muito crítico agora”. 

Agricultores do acampamento Maria Rosa do Contestado, organizam doação de alimentos (Imagem: Rosane Mainardes)

“Vários trabalhadores e trabalhadoras não podem sair de casa para trabalhar e trazer o sustento. Por isso, a importância dessa solidariedade nesses dias difíceis que o mundo passa. Eu quero deixar essa mensagem positiva sobre o valor que tem a solidariedade e o companheirismo nesses dias tão difíceis, e que juntos podemos combater o coronavírus”, garantiu o produtor agroecológico da comunidade Emiliano Zapata, João Misael. 

Por outro lado, um dos coordenadores do MST e que vive no Acampamento Padre Roque Zimmermann, Joabe Oliveira, frisou a simbologia que carrega a doação de alimentos feita por famílias que já enfrentaram o risco de não terem onde morar e plantar. “Estamos nos solidarizando com os irmãos moradores das cidades. Corríamos o risco de despejo e hoje estamos doando alimentos”, disse Oliveira. 

Em Castro, 3 toneladas de alimentos foram doadas a cinco Centros de Referência de Assistência Social (CRAS). Entre os alimentos, estão hortaliças, batata-doce, mandioca, milho verde e feijão, cultivados por 150 famílias de dois acampamentos.

Já em Ponta Grossa, 2 toneladas de produtos foram destinadas ao Banco de Alimentos do Serviço de Obras Sociais (SOS), da Prefeitura de Ponta Grossa, entre arroz, feijão, mandioca, pepino e folhas, cultivados por 50 famílias residentes na comunidade Emiliano Zapata. Em Castro, cerca de 1,5 toneladas de alimentos já haviam sido doadas, na forma de entregas avulsas, a mais de 45 famílias carentes na área urbana, desde 9 de março.

O agricultor, acampado na comunidade Padre Roque, Lourival da Silva, explica que a ocupação existe há um anos e cinco meses e desenvolve a produção agroecológica desde o seu início. “Nós estamos resistindo na nossa luta, trabalhando com as nossas mãos, mas produzindo tudo que é de melhor qualidade com produto orgânico, livre de agrotóxico. E hoje nós tivemos a oportunidade de contribuir com os nossos alimentos para famílias que precisam na cidade. Nos criticam muito, mas nós estamos mostrando o nosso trabalho, nossa produção”. 

Doação de álcool 70 % para hospital


A Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi), localizada no assentamento do MST Santa Maria, em Paranacity (PR), doou 60 litros de álcool 70% para o Hospital Municipal Doutor Santiago Sagrado Begga, na última quinta-feira (2). O álcool será usado pelos profissionais de Saúde do município, que já está em quarentena há cerca de 15 dias. 

A Copavi atua na produção de alimentos agroecológicos, especialmente com derivados da cana-de-açúcar com marca própria, como açúcar mascavo, melado e cachaça. Inclusive, é para produção da cachaça Camponeses (popularmente conhecida como Camponesa) que a cooperativa utiliza uma destilaria, necessária na produção do álcool 70. Outras 20 cooperativas do MST organizam, beneficiam e comercializam produtos em todo o estado. 

No Paraná, 10 mil famílias ainda vivem em 70 acampamentos do MST e cerca de 25 deles enfrentam o risco do despejo. O estado tem  24 mil famílias assentadas, que moram em 369 assentamentos de Reforma Agrária. 

Ações em todo o Paraná


Nos próximos dias, outras ações de solidariedade serão realizadas no estado. No próximo sábado (11), estão previstas doações de alimentos a cerca de 1.400 famílias de uma ocupação urbana, na Cidade Industrial de Curitiba (CIC) e em uma comunidades na periferia de Londrina, no norte do estado.

Acampamentos e assentamentos do Oeste do Paraná também organizam arrecadação de alimentos nesta quinta-feira (9). Os alimentos serão doados aos povos indígenas da etnia Guarani, que moram em reservas da região.  

Para um dos coordenadores do acampamento Maria Rosa do Contestado, Celio Meira, vivemos um momento de medo e angústia, mas que abre novos caminhos: “É tempo da colocar em prática aquilo que o nosso movimento nos ensina fazer, que é ser solidário. É um momento de ansiedade e tristeza, mas é nas crises que surgem as ideias boas, que a gente consegue colocar em prática projetos novos, ideias, que coloquem em pauta as nossas necessidades”, pontua.

“A pandemia do novo coronavírus agravou a vulnerabilidade social das famílias desempregadas. Como a crise se agravou, a fome é bem latente”, denunciou um dos coordenadores do MST e morador no Pré-Assentamento Emiliano Zapata, Célio Rodrigues.

Segundo ele, a questão alimentar não é só no Brasil, mas no mundo. “Cerca de 850 milhões de pessoas passam fome e 2 bilhões comem aquém da necessidade nutricional. Por isso, a Reforma Agrária tem o papel de cumprir com a tarefa da soberania alimentar”, defende Rodrigues. 

*Editado por Solange Engelmann