Ações de solidariedade Sem Terra se espalham pelo país durante pandemia
Por Solange Engelmann e Janelson Ferreira
Da Página do MST
Enquanto o governo Bolsonaro adota diversas medidas que vão contra todas as orientações para combater a propagação do Covid-19, o MST reforça as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde para evitar a propagação do vírus.
Entre estes reforços, a solidariedade tornou-se ação importante para garantir que a classe trabalhadora tenha condições de manter o isolamento social e superar esta pandemia.
As principais ações de solidariedade desenvolvidas pelo MST estão voltadas para a doação de alimentos, em diversos formatos, como cestas básicas, feiras e marmitas. No entanto, doações de álcool, máscaras, sabão também estão ocorrendo. Até mesmo os centros de formação do Movimento na Bahia e em Pernambuco já foram ofertados para tornarem-se hospitais de campanha.
Apesar destas doações ganharem maior destaque durante este período de pandemia, esta é uma prática existente desde o começo do Movimento Sem Terra. “Produzir alimentos saudáveis para alimentar o povo brasileiro não é uma tarefa nova para as famílias acampadas e assentadas da reforma agrária”, explica Débora Nunes, da direção nacional do MST.
A dirigente lembra que esta capacidade de ação é fruto da luta pela soberania alimentar realizada pelo Movimento. “Produzir alimentos saudáveis, diversificados, permite que tenhamos garantido a soberania alimentar e possamos realizar ações de solidariedade, fazendo doações para as periferias, favelas e comunidades que necessitam e vivem a pandemia da fome”, ressalta.
No Pernambuco, o MST e o Armazém do Campo do Recife já entregaram a mais de 20 mil marmitas solidárias (em torno de mil por dia). A maioria delas é destinada para moradores em situação de rua. No entanto, com o avanço da pandemia, pessoas que vivem em comunidades que já começam a passar fome também estão buscando as marmitas.
Paulo Mansan, do MST-PE, ressalta a importância da Reforma Agrária Popular em tempos de pandemia. “No momento em que todos têm que estar parados, os nossos assentamentos têm que estar em pleno vapor, garantindo as orientações da OMS, mas produzindo alimento saudável para o povo brasileiro”, destaca.
O militante explica que, além dos territórios Sem Terra, os alimentos também estão sendo doados pela população em geral do Recife. “Já iniciamos as marmitas solidárias em Caruaru, com cerca de 200 por dia, em Petrolina e Garanhuns”, afirma Mansan.
“Junto com isto temos um movimento de mãos solidárias, que são voluntários para tudo, desde dirigir carro, costurar, cozinhar o alimento, então, há uma grande onda de solidariedade”, lembra.
Em frente ao Solar Cultural da Terra, espaço político-cultural do Movimento, localizado em São Luís, Maranhão, são servidos 100 cafés às pessoas que sobrevivem lavando carros, vendendo balas e fazendo bicos. Com as ruas vazias por causa da pandemia de Coronavírus, eles têm tido grande dificuldade para se alimentar.
Débora Nunes afirma que é prioritário para o Movimento produzir alimentos saudáveis que permitam que os pobres também possam comer bem, sem ter que pagar preços altos por isso. “Nossa proposta para a agricultura, que chamamos de Reforma Agrária Popular, quer contribuir para resolver problemas estruturais, que também são consequências da concentração de terra no país e afetam quem está nas”, explica.
No Mato Grosso, o MST, junto com diversas outras organizações, entre elas a Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, estão realizando uma campanha emergencial para garantir a alimentação das casas do estudante da Universidade Federal do Mato Grosso no campus de Cuiabá.
O Movimento está arrecadando alimentos nos assentamentos na região da baixada cuiabana. Em São Paulo, capital, estão ocorrendo venda de alimentos a preços subsidiados para os grupos de teatro na Zona Leste e doações para os Guaranis do Pico do Jaraguá.
Durante a Páscoa, o MST no Ceará entregou alimentos produzidos em seus territórios para famílias da periferia de Fortaleza. No Triangulo Mineiro as cestas agroecológicas do MST levam produtos de seis assentamentos para a cidade a baixo custo.
No Rio Grande do Norte, o MST, através de suas cooperativas COOAP e Terra Livre, entregaram 40 toneladas de leite em pó para a merenda escolar. O Rio Grande do Sul doou 12 toneladas de arroz orgânico para grupos em vulnerabilidade.
Em Goiás, além das doações, a militância, tomando os devidos cuidados, estão entregando materiais formativos sobre a necessidade da Reforma Agrária Popular e da produção de alimentos saudáveis.
Doações também são de itens para cuidados médicos
Além de alimentos, as famílias estão produzindo outros itens essenciais para os cuidados médicos neste período. Em Santa Catarina, o MST produziu álcool 70% para abastecer centro de saúde em diversos municípios. Em Curitibanos, na região do Contestado, assentados destilaram a substância com equipamento utilizado para a produção de cachaça artesanal e contribuem para suprir a falta de álcool nos postos de saúde.
“Muito disso devemos ao Movimento Sem Terra, que forma a consciência do nosso povo, incentiva a solidariedade, a se organizar para encarar as peleias, como essa de agora com o coronavírus, que vai precisar de álcool, mas também de muito alimento para a população mais carente”, afirma Luis Girotto, que vive no Assentamento 1º de maio, que realizou as doações.
O MST no Paraná também está produzindo álcool para doação. Em Paranacity, o Hospital Municipal recebeu 60 litros do produto, que foi fabricado pela Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi).
Já em São Paulo, famílias Sem Terra produziram mais de 300 litros de sabão a partir de restos de óleo de fritura.
O material está sendo distribuído nas rodovias Transbrasiliana e Marechal Rondon, no noroeste de SP. As doações são destinadas principalmente para os caminhoneiros, que neste período têm dificuldades devido ao funcionamento parcial do comércio nas estradas.
Máscaras também estão sendo doadas em diversos estados. Em Rondônia, mais de 400 itens deste já foram doados.
No Pernambuco, organizou-se uma rede de costureiras, em parceria com a Marcha Mundial das Mulheres e o Movimento dos Trabalhadores por Direitos, para confeccionarem e entregarem as máscaras.
Com todas estas ações, Débora Nunes destaca a necessidade da garantia de políticas públicas que deem condições das famílias produzirem alimentos saudáveis para os pobres. “Nos últimos anos, vem ocorrendo um desmonte das políticas públicas para a pequena agricultura, impondo dificuldades ainda maiores, que vão além das questões climáticas”, ressalta.
“Neste momento de pandemia se faz ainda mais necessário o aporte do Estado em políticas e recursos que fortaleça as ações da produção de comida, pois as pessoas estão em casa, mas precisam alimentar-se”, finaliza Nunes.
Parceria para enfrentar a pandemia
A maioria das ações de solidariedade do MST nos estados, são realizadas em parceria com diversas outras organizações. Neste período de pandemia, partidos políticos, sindicatos, coletivos urbanos, grupos comunitários estão se unindo para promover as várias ações.
Em Alagoas, as organizações lançaram a campanha “Periferia Sem Corona”, que realiza diversas iniciativas em Maceió. No Distrito Federal, em aliança com o Levante Popular da Juventude e outras organizações, promovem ações nas principais cidades, como Ceilândia, Taguatinga e Samambaia.
Já na capital carioca, os movimentos do campo popular lançaram a campanha “Nós por Nós contra o Coronavirus”, para ajudar a população das favelas da cidade, no momento de isolamento em que trabalhadores informais terão que interromper as atividades profissionais que garantem o sustento das famílias.
A solidariedade do MST é internacionalista
Militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que estudam medicina integral comunitária na Escola Latino-americana de Medicina Salvador Allende (ELAM), em Caracas, estão ajudando no combate e na prevenção ao novo coronavírus na comuna de Altos de Lídice.
Além das atividades de prevenção, os comuneiros estão produzindo máscaras de proteção. Na última semana, eles distribuíram 70 cestas básicas dos Centros Locais de Abastecimento e Produção (CLAP)
nas casas com pessoas de maior vulnerabilidade social.
*Edição Maura Silva