O jovem que ousou doar a vida por uma causa coletiva: Oziel Alves Pereira

Um exemplo de líder aguerrido pela disciplina e disposição em estar no fronte das ações do MST

Por Batista Nascimento de Eldorado do Carajás/PA
Da Página do MST
Imagem capa: Mercedes Zuliani/Divulgação

Um jovem para além do seu tempo, foi Oziel Alves Pereira. Para o conjunto simbólico e, no entanto, concreto no sentido estético e político da luta por espaço, mesmo diante da ausência óbvia de possibilidades construtivas do “espaço social” por caracterização predominante da exploração, de maturidade e comprometimento de um verdadeiro combatente, com ampla consciência de classes que o tornou um militante de altivez, imbuído com a mística que impulsiona a defesa da causa da luta das trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra.

Um jovem para além do seu tempo, foi Oziel Alves Pereira. Para o conjunto simbólico e, no entanto, concreto no sentido estético e político da luta por espaço, mesmo diante da ausência óbvia de possibilidades construtivas do “espaço social” por caracterização predominante da exploração, de maturidade e comprometimento de um verdadeiro combatente, com ampla consciência de classes que o tornou um militante de altivez, imbuído com a mística que impulsiona a defesa da causa da luta das trabalhadoras e trabalhadores Sem Terra.

Um militante que embora jovem, tinha entre seus pares estimada consideração e respeito. Exemplo de líder aguerrido pela disciplina e disposição em estar no fronte das ações do MST, que iniciava de forma orgânica e se consolidava como organização de massa e política no enfrentamento direto com as oligarquias, “reis do latifúndio” da outrora conhecida região do Polígono-dos-Castanhais – sudeste paraense. O MST surgia como instrumento coletivo humano de luta por terra e Reforma Agrária e Oziel Alves Pereira, como um dos componentes cativo das trincheiras dessa luta.

Um jovem militante que junto a uma multidão de desalentados, companheiras e companheiros de sonhos em comum: marchavam com o objetivo de terem posse da terra para produção e promoção da vida no campo. Tão pouco para uma região demograficamente extensa e com uma imensidão de concentração de terras, usurpadas e colocadas ao desserviço social, meramente útil ao interesse do capital, em detrimento a vida, pelo seu processo metodológico de exploração da natureza e da força do trabalho humano.

Um ser místico, silenciado pela repressão do Estado e do latifúndio 


Oziel tinha como despertar nos outros membros do MST – acampados e acampadas – principalmente, o talento para animação, pois gostava de ter a palavra nas reuniões, assembleias e manifestações, puxando palavras de ordem ou mesmo cantando as músicas do MST e ou as músicas que o Movimento adotara como de lutas e, assim, foi durante o percurso do acampamento Formosa até a sede do município de Curionópolis, no dia 10 de abril de 1996, início da marcha que culminou no Massacre, em dia 17 de abril de 1996.

Na mobilização ainda no acampamento, Oziel chamava atenção com seu destemido entusiasmo, um nato animador – puxando as palavras de ordem. Ao caminharmos em marcha por poucos quilômetros, chegando na rodovia PA 275, um carro de som estava a espera e passou a acompanhar os trabalhadores e trabalhadoras até a sede da cidade de Curionópolis.

“Oziel está presente

Pois a gente até sente

O pulsar do seu coração”.

Nesse momento Oziel assume o comando do carro de som, com tom embravecido diante da negativa ação do Estado para atender com respostas eficientes as necessidades contidas na pauta coletiva das centenas de famílias acampadas, desde 05 de novembro de 1995. Era uma voz no instante coletiva que expressava a insatisfação dos marchantes e comandava a animação na maior parte da primeira etapa da marcha.

Chego a recordar como se fosse hoje, ele cantando as músicas de sua preferência, “Voz da maioria e Pra burguesia não tire o chapéu”, momento coletivo de concentração, que era possível observar em todos os semblantes a rebeldia em ato puro de devoção, a luta estampada com as cores que caracteriza em todos os tons, um abril vermelho.

E naquele instantes homens, mulheres e crianças iniciavam com seus pés no asfalto quente o capítulo da História de Oziel e de tantos outros Mártires. Esse é um registro em memória dos que marcharam e presenciaram o desfecho até o percurso ao local chamado Curva do S. O palco da chacina que tentou silenciar a voz de Oziel, mas mesmo com o som dos tiros não silenciou o seu canto, que está presente em cada sujeito Sem Terra.   


*Editado por Solange Engelmann