Solidariedade que brota da terra: MST do Paraná doa 45 toneladas de alimentos
Por Setor de Comunicação do MST-PR
Da Página do MST
A solidariedade do povo Sem Terra do Paraná ganhou a proporção de 45 toneladas de alimentos doados nesta sexta-feira, 17 de abril. As doações brotou em dezenas de lugares, desde pequenos municípios como Santa Tereza do Oeste, de aproximadamente 10 mil habitantes, até a capital, com seus quase 2 milhões de moradores. Isso porque as consequências da pandemia do coronavírus não escolhe endereço e atinge todos os lares, e de forma ainda mais cruel pessoas de baixa renda ou que não têm um teto para morar.
Uma campanha nacional do Movimento já incentiva a doação de alimentos desde o início da pandemia, e neste 17 de abril ganhou um motivo ainda mais simbólico. A data marca do Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, criado em memória aos 21 trabalhadores Sem Terra assassinados no massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, em 1996.
“Em função desse momento atual de crise de saúde pública, a melhor forma de mantermos a lealdade e a memória a esses lutadores e camponeses, que deram a vida em prol de uma causa de repartir a terra, é repartir o que temos de melhor, que é fruto do nosso trabalho, que é o nosso alimento”, diz Roberto Baggio, da coordenação nacional do MST.
Ceres Hadich, da coordenação do MST e assentada no Norte do Paraná, frisa o mês de abril como um período especial da luta pela terra, por ser até hoje, 24 anos depois, um marco da impunidade dos crimes no campo. “A nossa forma de combater a impunidade e lidar com esse luto é fazendo luta […]. Nesse período difícil que a sociedade brasileira atravessa com o coronavírus, a mensagem que o MST quer passar para as pessoas é a da solidariedade. É necessário, mais do que nunca, a gente compartilhar o que temos, e não o que nos sobra”, afirma.
A história da agricultora Eva Solange Moraes, moradora do assentamento Valmir Mota, se repete entre os milhares em Terra brasileiros que hoje podem ajudar quem mais precisa. “Eu gosto de estar ajudando também porque já passei por isso. Antes da gente vir pro Movimento Sem Terra, nós passamos dificuldade. Muito difícil as coisas, até fome nós passamos. Depois de tanta luta, conseguimos esse pedaço de chão pra estar produzindo alimento, e agora, neste tempo de pandemia que as pessoas não podem sair de casa pra trabalhar, é hora de um ajudar o outro”, contou a camponesa, que doou alimentos que foram entregues em Cascavel.
“Isso é prova de que a reforma agrária dá certo, de que produz alimentos e é um bem para quem está no campo, mas também para quem está na cidade”, concluiu a dirigente Ceres Hadich.
Confira o resumo das ações das cidades paranaenses
Em Curitiba, cooperativas da reforma agrária doaram 1.500 litros de leite integral ao Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR). O alimento é da marca Terra Viva, beneficiado pela Cooperativa Central de Reforma Agrária de Santa Catarina – CCA/SC, composta por 13 cooperativas e associações filiadas.
Ainda na capital, cerca de 3 toneladas de alimentos foram distribuídas a famílias do Jardim Pantanal, do Boqueirão, da ocupação Portelinha, do Santa Quitéria. Integrantes e apoiadores do MST também produziram e estão distribuindo cerca de 500 marmitas à população em situação de rua da capital. Cerca de 1,5 tonelada de alimentos produzidos pelo assentamento Contestado foram distribuídos no bairro São Lucas, na cidade da Lapa.
Nas regiões Norte e Centro-oeste do estado, dez assentamentos e acampamentos se uniram para doar 5.680 litros de leite integral: 416 litros foram distribuídos para o Hospital Universitário (HU) de Londrina; 400 litros ao Hospital do Câncer de Londrina; 500 litros distribuídos em bairros de Arapongas; 200 litros no Hospital Regional de Ivaiporã; os 4.164 litros restantes serão entregues ao HU e ao Hospital do Câncer de Londrina ao longo das próximas semanas, de forma programada, para atender a demanda e a capacidade de armazenamento das instituições de saúde.
O transporte, beneficiamento e entrega do leite será realizado pela Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran), localizada no assentamento Dorcelina Folador, em Arapongas. Outras três cooperativas do MST participam da ação.
Além do leite, bairros populares de Arapongas receberam 1 tonelada de alimentos frescos, organizados em 250 kits. Em Florestópolis, famílias dos acampamentos Zilda Arns e Manoel Jacinto Correio e do assentamento Florestan Fernandes doaram 1,5 tonelada para a Paróquia São João Batista, que atenderá famílias carentes da cidade.
Em Centenário do Sul, as famílias do acampamento Fidel Castro e assentamento Maria Lara doaram 3 toneladas de alimentos para cerca de 300 famílias, ao Asilo Nossa Senhora das Graças e à Casa Paroquial do município. Em Porecatu, as famílias do acampamento Herdeiros da Luta de Porecatu entregaram 700 quilos de alimentos para o Hospital Municipal e para o asilo da cidade.
Em Jacarezinho, integrantes do assentamento Companheiro Keno doaram 2 toneladas de alimentos ao asilo municipal e às comunidades urbanas Pedreira e Nossa Senhora das Graças. Entre os itens doados estava mandioca, batata doce, abacate, milho verde, quiabo, alface, limão, mamão, amendoim e leite.
Também como parte das ações em memória ao Massacre de Eldorado dos Carajás, famílias do assentamento Eli Vive doaram 1 tonelada de alimentos para o Asilo São Vicente de Paula, que atende 102 idosos em Londrina, na quarta-feira (14). Na cidade de Alvorada do Sul, o assentamento Iraci Salete fará entrega no CRAS do município, e em Primeiro de Maio, o assentamento Barra Bonita fará uma doação de alimentos ao asilo do município, na próxima semana. As duas comunidades doarão, do todo, 600 quilos.
O assentamento 8 de Abril, de Jardim Alegre, doou 4,2 toneladas de alimentos ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) e ao Hospital da cidade, e em Ivaiporã ao Hospital Regional Bom Jesus e à Paróquia Espírito Santos, que irá distribuir às famílias carentes da região.
Famílias Sem Terra do Noroeste do Estado doaram 6 toneladas de alimentos a comunidades carentes do município de Paranavaí. A ação envolve assentamentos e acampamentos dos municípios de Santa Cruz do Monte Castelo, Querência do Norte, Planaltina do Paraná, Amaporã, Paranacity e Cruzeiro do Sul. Os produtos da reforma agrária serão entregues a partir das 15h, na esquina da catedral Maria Mãe da Igreja, na Avenida John Kenedy, esquina com rua Nelson Hungria, número 666, no Jardim Santos Dumont. A distribuição será organizada por entidades assistenciais ligadas à Diocese de Paranavaí.
Em Maringá, a Escola Milton Santos doou 200 quilos de alimentos a uma Associação de Mulheres do Jardim Alvorada, em conjunto com a Pastoral da Criança do mesmo bairro. A produção é totalmente agroecológica e realizada pelos próprios moradores da Escola. Os produtos doados serão verduras folhosas, banana, mandioca e limão.
Cerca de 5 toneladas de alimentos foram doados por famílias Sem Terra de Laranjeiras do Sul, das comunidades Recanto da Natureza, Passo Liso, Antônio Conrado, Porto Pinheiro e 8 de Junho. Os produtos foram organizados em 500 cestas e distribuídos para bairros carentes, para os dois hospitais de Laranjeiras, São Lucas e São José, e para o Asilo São Francisco Xavier. Outras 2 toneladas de alimentos foram distribuídas por acampamentos de Quedas do Iguaçu, e 2 toneladas por comunidades de Rio Bonito do Iguaçu.
Acampamentos e assentamentos da região Oeste do Paraná fizeram uma doação de cerca de 1 tonelada de alimentos ao Asilo São Vicente e ao Hospital do Câncer de Cascavel (UOPECCAN). Famílias Sem Terra também doaram cerca de 3 toneladas distribuídas entre o hospital de Matelândia, para comunidades carentes de Catanduva e São Miguel do Iguaçu, e para o órgão de Assistência Social da prefeitura de Santa Tereza do Oeste.
Na região Sudoeste do estado, cerca de 4 toneladas de alimentos foram entregues em Clevelândia, na Escola Municipal Arnaldo Buzato, na Casa Lar e em um bairro da cidade. Os alimentos serão doados pelo acampamento Mãe dos Pobres e Terra Livre, ambos localizados em Clevelândia.
Também para marcar a data, Dirceu Luiz Fumagalli, coordenador da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Paraná, realizou uma celebração em memória dos mártires de Eldorado dos Carajás, transmitida via Facebook pela página, para acessar, clique aqui.
Balanço das doações anteriores
No Paraná, cerca de 35 toneladas (35 mil quilos) de alimentos produzidos por mais de 10 comunidades acampadas e assentadas foram distribuídas em 8 cidades, entre os dias 7 e 13 de abril. Além de comida, a Cooperativa de Produção Agropecuária Vitória (Copavi), localizada no assentamento do MST Santa Maria, em Paranacity (PR), doou 60 litros de álcool 70% para o Hospital Municipal Doutor Santiago Sagrado Begga, no dia 2 de abril. O álcool foi destinado aos profissionais de Saúde do município.