Três anos de impunidade do assassinato de Silvino Gouveia

O Sem Terra que acreditava no sonho da terra repartida, foi assassinado em 2017 com 10 disparos. MST pede justiça!
Gouveia teve a ousadia e a coragem de lutar pela terra, e incomodou muitos fazendeiros da região.


Por Setor de Comunicação MST-MG
Da Página do MST

 
Nesta quinta-feira (23), completou-se três anos do assassinato de Silvino Nunes Gouveia, de 51 anos. O trabalhador assentado foi morto no assentamento Liberdade, na cidade de Periquito, em Minas Gerais.

Gouveia era um Sem Terra que tinha na ousadia a coragem para lutar pela terra, e por isso, incomodou muitos fazendeiros da região.

Acampado por nove anos, próximo à rodovia, na região do Vale do Rio Doce, depois foi viver nas áreas comuns do Assentamento Liberdade, Silvino e assassinado em 2017, com 10 disparos. A certeza de impunidade por parte dos violadores dos direitos humanos disparou o gatilho da crueldade contra quem colocou o dedo na ferida de quem fazia uso indevido de terras e questionou a forma como a agricultura local funcionava.

Sua atuação política na região foi marcada na luta pela terra, mas também por ameaças de quem se incomodava com os processos construídos pela organização do povo. Três anos depois, ainda não se sabe quem mandou matar Silvino Gouveia. O caso segue sem solução, as investigações não apontam para os mandantes e executores, existem apenas suspeitos.

Gouveia não foi uma vítima isolada, segundo registros da Comissão Pastoral da Terra (CPT), só em 2016 os conflitos agrários causaram a morte de 61 pessoas no Brasil. Esses números seguiram crescendo, o relatório sobre a violência no campo em 2019 aponta que houve um aumento de 14% no número de assassinatos, que cresceu de 28 para 32. As tentativas de assassinato também aumentaram em 7%, passando de 28 para 30 e 22% nas ameaças de morte, que saltaram de 165 para 201 casos.

De acordo com os dados do Centro de Documentação Dom Tomás Balduino, da CPT, o ano de 2019 também registrou o maior número de assassinatos de lideranças indígenas dos últimos 11 anos. De 9 indígenas assassinados em conflitos no campo no ano, 7 eram lideranças. Além disso, mais uma vez os conflitos pela água que, em 2018 já haviam batido recorde com 276 casos, aumentaram vertiginosamente. Foram registrados 77% a mais desse tipo de conflito em 2019.

No atual contexto político brasileiro, de acirramento da luta de classes, aumento da violência no campo e na cidade, com uma governança da necropolítica e crise pandêmica do covid 19, os movimentos populares reforçam mais do que nunca, a memória, ou seja, o não esquecimento daqueles que perderam a vida porque ousaram lutar por uma vida mais justa e igualitária.  

*Editado por Solange Engelmann