Relatório “Agrotóxicos perigosos: Bayer e BASF” denuncia envenenamento do Sul global
Da Página do MST
Lançado em uma transmissão online nesta terça-feira (28), a publicação “Agrotóxicos perigosos: Bayer e BASF – um negócio global com dois pesos e duas medidas” é um estudo produzido pela Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos com a rede INKOTA, a Fundação Rosa Luxemburgo, a MISEREOR e a organização sul-africana Khanyisa. O documento mostra como a venda e a utilização dos produtos é diferente de acordo com o local, revelando uma permissividade na lei em países subdesenvolvidos, como o Brasil.
Atualmente, a Alemanha concentra as duas maiores empresas da agrotóxicos do mundo, no entanto, entre os 233 ingredientes ativos exportados, nove são banidos na União Europeia por conta de seus malefícios para a saúde e para o meio ambiente. É o que apontou Alan Tygel, integrante da Campanha, ao comentar os dados do relatório durante a transmissão: “Não é um tema novo para nós, mas é uma bandeira que tem que ser pautada sempre, pois é a mais absurda. A gente consome agrotóxico que o próprio país de origem das empresas rejeita porque sabe o quão venenoso ele é”.
A transmissão de lançamento do relatório ocorreu online às 14 horas e contou com a presença de membros das entidades participantes da construção do documento.
Para Fran Paula, também da Campanha: “O material vai contribuir com a luta contra os agrotóxicos no Brasil, principalmente neste momento de caos na saúde por conta da COVID-19. Desde a campanha eleitoral deu pra perceber a política genocida do governo Bolsonaro e isso se reflete nas pautas atuais do Congresso”.
A publicação traz a informação de que só em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, foram aprovados 474 novos agrotóxicos. Entre os produtos, 42 agrotóxicos são banidos na União Europeia. Neste contexto, ela ressaltou a importância das iniciativas locais de combate aos agrotóxicos oriundos de governos estaduais e municipais.
Além de envenenar os alimentos e o meio ambiente, os agrotóxicos são usados no Brasil como forma de extermínio da população indígena, o que comprova o potencial destrutivo dos ativos.
Esses relatos e dados estão no documento e foram comentados durante o lançamento por Flávio Vicente Machado, membro do Conselho Indigenista Missionário. Direto do Mato Grosso do Sul, ele relatou a situação na região nas terras da etnia indígena Guarani-Kaiowá, a maior do Brasil: “O tema do agrotóxico é uma questão histórica para os Guarani-Kaiowá. Quando se começou os registros dos suicídios, na década de 80 e 90, muitos dos casos eram pela ingestão do veneno. Ainda hoje é muito comum os fazendeiros deixarem os vasilhames de agrotóxicos perto das aldeias para que os índios se utilizem dos baldes para buscar água e assim se contaminarem”.
Além disso, a pulverização proposital por aviões é bastante comum na região, contou Erileide Domingues, da etnia Guarani-Kaiowá, que também entrou na transmissão.
Ela relatou que são frequentes os relatos de dor de barriga, dor de cabeça, fraquezas e dor no estômago na população por conta da intoxicação pelos agrotóxicos. “A bancada ruralista não dá brecha nem em meio à pandemia da COVID-19. Eles jogam o veneno na terra, parece leite. Eles também ficam monitorando a gente o tempo todo”, disse ela ao reforçar ainda que a resistência indígena continua.
Como a Alemanha enxerga a situação?
Apesar de a Alemanha ser sede das principais empresas de agrotóxicos do mundo, os alemães não veem as empresas com bons olhos. De acordo com a pesquisadora Lena Luig, da Inkota, a Bayer tem a reputação comprometida no país justamente por conta da consciência em relação aos malefícios dos agrotóxicos presente entre os cidadãos. Ela também ressaltou que a empresa não é transparente com seus dados.
Sarah Schneider, da Misereor, enfatizou também que o tema da agroecologia tem ganhado força na Alemanha de forma autônoma, sem auxílio de publicidade. Porém, afirmou que ainda é preciso mais: “Queremos que o governo use seu poder para regular esse negócio, e que se proíba a exportação dos ativos altamente tóxicos e dos que já são proibidos aqui”, exigiu ela.
A transmissão ao vivo contou com perguntas enviadas pelos telespectadores para os participantes e está disponível no YouTube.
*Editado por Luciana Console