Comunidades do MST-PR criam hortas solidárias em homenagem a Antônio Tavares
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
Cultivo da memória, solidariedade e muito trabalho em mutirão para produção de alimentos saudáveis. Camponeses e camponesas, de assentamentos e acampamentos paranaenses fizeram deste sábado, 2 de maio, um grande dia de ações em homenagem ao companheiro Antônio Tavares. Isso porque há exatos 20 anos Tavares foi brutalmente assassinado pela Polícia Militar do Paraná durante o que ficou conhecido como massacre da BR 277, que deixou outras 300 pessoas feridas.
O luto e a dor daquela marcaram aquela data, que fez parte do período manchado de sangue na história da luta pela terra no Paraná, ao longo de oito anos do governo Jaime Lerner (1994 a 2002). Mas ao contrário do que queriam os latifundiários setores da elite paranaense, a luta pela terra e por justiça social seguiu forte e se expressa com força duas décadas depois.
Em meio à crise causada pelo novo coronavírus e pelo desgoverno de Bolsonaro, as comunidades do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná já doaram mais de 85 toneladas de alimentos saudáveis a quem mais precisa. Neste sábado, as homenagens a Antônio Tavares também ficaram marcadas pela solidariedade e pela produção com a criação de hortas e agroflorestas comunitárias batizadas com o seu nome. Em alguns municípios, as ações também foram de doação de alimentos.
“Nosso jeito de rememorar esse passado de luto, é fazer luta pela reforma agrária para uma vida melhor não só para os camponeses, mas para uma vida digna e saudável nas cidades, e isso só é possível com a democratização da terra”, garante Ceres Hadich, assentada do norte do Paraná e integrante da nacional do MST.
A partir da organização coletiva, hortas comunitárias foram inauguradas em Castro, Cascavel, Boa Ventura de São Roque, Pinhão, Clevelândia, Guarapuava, Quinta do Sol, Centenário do Sul, Planaltina do Paraná. Ação também foram realizadas em Campo Largo, Maringá, São Miguel do Iguaçu, Congonhinhas e Londrina.
A data também foi tema de uma entrevista especial no Brasil de Fato Paraná, com participação de Bruna Zimpel, direção estadual do MST e de Roberto Baggio, direção nacional do MST que já atuava no Movimento no período Lerner. >> Clique aqui para assistir à entrevista na íntegra
Confira as ações em cada município:
Monumento na BR 277, em Campo Largo
“O que pode o grito se não perpetua? Aqui o grito se põe em pedra para que a memória não se cale, e as areias do tempo e do silêncio não dissolvem a voz dos que cantam para acordar o dia da justiça”. Está é a poesia de Pedro Tierra fixada aos pés do monumento criado pelo respeitado arquiteto brasileiro Oscar Niemeyer, que homenageia Antônio Tavares e todas as vítimas do latifúndio.
Militante do MST foram até o local para realizar um ato simbólico onde o companheiro Antônio Tavares foi assassinado e onde está a obra. Com faixas e bandeiras, o grupo relembrou o dia do massacre e gritou palavras de ordem. O monumento tem 10 metros de altura e foi inaugurada em 2001, um ano após o crime que ceifou a vida de Tavares.
“Hoje, estamos celebrando a memória deste dia. O que estamos fazendo aqui é manter viva a esperança e a luta do Antônio Tavares”, disse Roberto Baggio, da direção nacional do MST, durante a intervenção no local neste sábado.
Pinhão
“É uma horta orgânica e comunitária, vamos trabalhar todos juntos!”, resume a acampada Jandira, que vive no acampamento há 5 anos na comunidade Nova Aliança. Lá também foi inaugurada neste sábado a Horta Comunitária Antônio Tavares, com 5 mil metros.
Castro
O acampamento Maria Rosa do Contestado já tem certificação de produção 100% agroecológica em toda da comunidade, com cultivo de uma grande diversidade de alimentos sem veneno e muito trabalho em mutirão. Este sábado foi um especial de cultivo da terra, com a criação da Horta Solidária Antônio Tavares.
A horta tem 6 mil metros quadrados, e vai contribuir para o avançar no autossustento das famílias e na doações de alimentos neste período de pandemia. A comunidade já doou mais de 5 mil toneladas de alimentos agroecológico neste último mês.
Clevelândia
As famílias moradoras do Acampamento Mãe dos Pobres realizaram um mutirão de plantio das mudas de hortaliças para implantar a Horta Comunitária Antônio Tavares. Grande parte destes produtos serão destinados à continuidade da campanha de solidariedade do MST junto a áreas urbanas da região, durante os efeitos da crise econômica e da pandemia do novo coronavírus. As atividades terão prosseguimento e serão expandidas também para o Acampamento Terra Livre.
Centenário do Sul
Em Centenário do Sul, norte do Paraná, as famílias moradoras do acampamento Fidel Castro realizam um mutirão de plantio das mudas e inauguração do Centro de Produção de Alimentos Saudáveis Antônio Tavares. O espaço tem sido preparado há algumas semanas, com o objetivo de garantir a produção coletiva para venda e doação de alimentos agroecológicos.
“A importância desse projeto é que com muito trabalho e muito carinho é desenvolver a agroecologia. Tanto para suprir a nossa necessidade, dos companheiros e companheiras do MST, quanto para quem reside na cidade. A gente sabe com essa crise, vai depender muito de nós, do campo, pra produzir alimentos saudáveis”, garante Maicon Veirick, morador do acampamento há 6 anos.
Guarapuava
Com trabalho em mutirão, o acampamento Encontro das Águas iniciou a horta Antônio Tavares neste sábado. A plantação será num espaço de 5 mil metros. A comunidade é formada por 90 famílias e existe há 3 anos, na luta e na produção de alimentos.
Perci faz parte da coordenação do acampamento, e conta qual é a produção da comunidade: “Nós produzimos, além da horta, feijão, milho, arroz, abóbora, pra tirar o sustento. Tudo orgânico, sem nada de agrotóxicos pra produzir um alimento mais saudável pra mesa de quem consome”.
Maringá
A Escola Milton Santos de Agroecologia realizou atividade de batizado do espaço de produção com o nome Horta Antônio Tavares. Na atividade aconteceu uma mística, onde foi relembrado o cruel massacre promovido pelo governo do Jaime Lerner, no ano de 2000, contra as famílias Sem Terra na rodovia BR-277, relatado por pessoas que vivenciaram aquele dia.
Quinta do Sol
O acampamento Valdair Roque iniciou nesta manhã a horta comunitária Antônio Tavares, com 5 mil metros quadrados. O plantio vai para garantir a doações de alimentos à população carente da cidade e também para o consumo da própria comunidade. Cerca de 40 famílias vivem na área, ocupada em 2015.
Ledir Weber mora no acampamento há 3 anos e conta que lá já se produz de tudo: hortaliças, legumes, batata, mandioca, feijão, amendoim. Ela fez parte do mutirão que iniciou a horta na comunidade neste sábado: “Nós estamos num momento comunitário, para ajudar o próximo. Eu me sinto muito bem em estar ajudando todo mundo. Nesse momento de pandemia nós estamos fazendo essa horta pra ajudar as comunidades que estão mais fracas, e pras nossas famílias também”.
São Miguel do Iguaçu
O acampamento Sebastião Camargo e o assentamento Antônio Companheiro Tavares entregaram 1 toneladas de alimentos na comunidade urbana Guanabara. Além dos frutos da terra, os agricultores e agricultoras levaram pães caseiros, produzidos na própria comunidade. Ao longo do mês de abril, as famílias do MST destas duas áreas já haviam realizado doações à população carente da cidade de São Miguel do Iguaçu.
Boa Ventura de São Roque
“Hoje eu me sinto uma pessoa fortalecida, que encontrou uma oportunidade, hoje eu me sinto uma pessoa realizada, mesmo acampado”, disse o camponês Rivail Domingues. O depoimento do agricultor é a prova de que a luta do companheiro Antônio Tavares valeu a pena, e que o sonho da terra repartida e da vida digna segue alimentando o coração do povo Sem Terra.
O acampamento Claudete Vive também criou a Horta Comunitária Antônio Tavares. Com 65 famílias e dois anos de existência, comunidade já conseguiu fazer uma doação de 1,5 tonelada de alimentos a famílias urbanas que já passam por dificuldades por conta da pandemia.
Congonhinhas
Os assentamentos Rosa Luxemburgo, Ho Chi Minh e acampamento Carlos Marighella, localizados em Congonhinhas, organizaram uma doação de alimentos para a aldeia Guarani Nhandewa, na Terra Indígena Ywy Porã/Posto Velho, da cidade de Abatiá.
“Foi a primeira alimentação que chegou aqui pra gente depois dessa pandemia. A gente agradecer de coração, com muito carinho e respeito por vocês do MST. Apesar de a gente ser indígena, mas a gente está na mesma luta”, diz José Claudio Camargo, vice-cacique da aldeia, em agradecimento ao MST.
Londrina
A comunidade do Assentamento Eli Vive reuniu um grupo de crianças para falar sobre quem foi Antonio Tavares e relembrar a sua memória. Em homenagem ao companheiro, foram plantadas árvores nativas e frutíferas na placa localizada na entrada da comunidade.
Planaltina do Paraná
“A nossa ordem é ninguém passar fome, e o nosso progresso é fartura na mesa de cada brasileiro e saúde pra população em geral”. É o que garantiu a companheira Vilma Rossi, do assentamento Milton Santos. Lá, todas as famílias também avançaram na produção coletiva de alimentos saudáveis para doação neste período da pandemia.
As atividades ocorreram pela manhã, com uma oficina de produção de adubo orgânico e com capina, poda e manejo agroflorestal da área já cultivada pela comunidade.
*Editado por Ednubia Ghisi