Jornal Sem Terra completa 39 anos, assentadas relembram trajetória

Publicações começaram como forma de fortalecer o movimento e divulgar a luta pela terra; jornal segue como voz dos trabalhadores do campo

Por Maura Silva e Luciana Console
Da Página do MST

Dentro do MST, a comunicação sempre foi um dos pilares de sustentação na busca pela terra. E o Jornal Sem Terra – que acaba de completar 39 anos – é uma das maiores ferramentas de luta do Movimento.

A história do Jornal Sem Terra começa antes mesmo do surgimento do MST. O ano era 1981, a tensão crescia no acampamento da Encruzilhada Natalino, no Rio Grande do Sul. Naquele momento histórico, que serviria como uma das bases de criação do MST no Brasil, o boletim Sem Terra nasceu.

É o que lembra Maria Izabel Grein, do setor de Educação do Movimento. Ela conta que, naquela ocasião, o acampamento estava cercado pela polícia, comandada por Sebastião Rodrigues Moura, conhecido como Coronel Curió. 

“De dentro do acampamento nós escrevíamos bilhetes expondo as nossas necessidades e a situação que enfrentávamos naquele momento. O nosso grupo de apoio com base em Porto Alegre transcrevia esses bilhetes e fazia isso circular entre os nossos parceiros em forma de boletim”. Ela recorda que um dos grandes medos dos acampados era o isolamento, causado pelo cercamento da polícia. Naqueles dias, o boletim foi fundamental.

Chamado de boletim Sem Terra em suas primeiras edições, a circulação foi oficializada em 15 de maio de 1981. A publicação era assinada pela Campanha de Solidariedade aos Agricultores Sem Terra e foi realizada pelos Movimento de Justiça e Direitos Humanos e Comissão Pastoral da Terra. 

A trajetória do Jornal Sem Terra é marcada por fases. De 1981 até 1985, ele ainda era chamado de boletim Sem Terra e era produzido no Rio Grande do Sul. As primeiras edições eram feitas com mimeógrafo e tinham caráter mais regional. Eram usadas como um comunicador entre a base, como material de estudo, intercâmbio, arrecadação e divulgação dos direitos dos Sem Terra.

O nome só foi trocado para Jornal Sem Terra na edição número 36.  A publicação começa a ser feita com outra linguagem, com a presença de textos de mais fôlego e artigos, além de trazer o tema da Reforma Agrária de forma mais contundente. Ao atingir a edição 43, o jornal é transferido para São Paulo, onde está até hoje.

“Eu me lembro que estava em Santa Catarina em 1985, o jornal era usado como material pelas lideranças para fazer o trabalho de base. Ele servia tanto para discutir a importância da organização, como para os apoiadores, sindicatos, igrejas, que acompanhavam e apoiavam o MST. Muitas vezes, as nossas lideranças saíam com um punhado de jornal embaixo do braço e o dinheiro da passagem para ir fazer trabalho de base. Nós não tínhamos mais nenhum recurso a não ser o Jornal Sem Terra”, recorda Grein.

Para Luz Marin, do Coletivo Nacional de Juventude do MST, o jornal representou uma conquista muito grande para os trabalhadores. “Era um  jornal produzido por nós e para nós, uma coisa muito forte. O Jornal Sem Terra era a voz da militância em cada canto em que ele chegasse”, relembra. 

A militante também ressalta o simbolismo representado pelo jornal e traz uma lembrança da infância. “Aquelas páginas eram místicas para todo mundo e aparecer no Jornal Sem Terra era muito importante. Me recordo da minha mãe chegando em casa com o jornal. Ela tinha orgulho desse instrumento porque ela se reconhecia nele enquanto classe trabalhadora. Ainda ouço ela dizendo para minha avó: ‘Olha mãe, essa é uma fala minha no jornal’. Era bonito de ver pessoas simples, comuns, sendo a voz do jornal. Era uma riqueza muita grande para cada um de nós”, conta a militante.

Jornal Sem Terra é a memória viva do MST

  • Foto: Juliana Adriano
  • Foto: Luara Dal Chiavon
  • Foto: Juliana Adriano
  • Foto: Luara Dal Chiavon
  • Foto: Luara Dal Chiavon
  • Foto: Arquivo MST


O Jornal Sem Terra segue firme como ferramenta de luta e trabalho de base no MST, é a voz do povo nas linhas e páginas espalhadas pelo Brasil.

Viva o Jornal Sem Terra, viva a comunicação popular!

*Editado por Fernanda Alcântara