Manifesto da Juventude Sem Terra pede adiamento do ENEM

Em meio à pandemia da COVID-19, muitos estudantes estão sem acesso às escolas e impossibilitados de realizar uma das mais importantes provas do ano
Juventude Sem Terra lança manifesta à favor do adiamento do ENEM . Foto: Matheus Alves

Da Página do MST

Frente à crise sanitária vivida pelo Brasil com o novo coronavírus, a área da educação é uma das grandes afetadas. Devido à necessária política de isolamento, escolas e faculdades tiveram que paralisar suas atividades, afetando, principalmente, alunos do sistema público de ensino. No entanto, mesmo com o calendário escolar conturbado, o governo federal abriu as inscrições para a realização do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) nesta segunda-feira (11), em meio a pedidos de adiamento por todo o país.

A decisão de se realizar a prova de forma online escancara a política excludente do governo do Brasil, país onde muitos estudantes não possuem acesso à internet, se quer computador. Neste contexto, a Juventude Sem Terra se posiciona frente às mobilizações em torno do #AdiaEnem, na Defesa da Educação e da Ciência! e lança o Manifesto da Juventude Sem Terra.

Confira o texto na íntegra:

MANIFESTO DA JUVENTUDE SEM TERRA:
NOSSA URGÊNCIA É SALVAR O POVO: ADIA ENEM, FORA BOLSONARO!
“E o que temos a dizer sobre a universidade?
Que a universidade se pinte de negro,
Se pinte de trabalhador
Se pinte de indígena e camponês,
Porque o conhecimento não é propriedade de
ninguém e pertence ao povo!”

Com a força presente de um ano de “Tsunami da Educação”, dia que a juventude brasileira tomou as ruas para lutar contra os ataques em forma de cortes na educação do governo Bolsonaro, nós, Juventude Sem Terra, dos acampamentos, assentamentos da reforma agrária do Brasil, que, mediante muita luta do nosso Movimento, tem ocupado os bancos das universidades, nos posicionamos pelo Adiamento do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio).

Vivemos um momento de aprofundamento da crise econômica, política, ambiental e social que, desde o golpe, temos visto ser tomado de “assalto” os direitos fundamentais da população do nosso país. As elites, mais uma vez na nossa história, tem atacado todas as formas de reprodução da vida que dê dignidade ao nosso povo. Nossos direitos básicos como saúde, educação, previdência social, moradia e demarcação dos territórios tem sido arrancados de nós para servir como moeda de troca na mesa de negociação do capitalismo.

A crise sanitária vivida pelo Brasil com o novo coronavírus, junto das mais de 13 mil mortes, do completo descaso com os milhares de Josés e Marias que continuam buscando formas de sobrevivência e da irresponsabilidade da posição do governo Bolsonaro e do Ministério da Educação, é mais uma medida de ataque e desmonte a Educação Pública, Gratuita e de Qualidade, e coloca a nu a política genocida do atual governo em cercear a vida da classe trabalhadora em todas as suas dimensões.

Por isso, convocamos a toda a Juventude Sem Terra a se posicionar nas mobilizações em torno do #AdiaEnem, na Defesa da Educação e da Ciência! Um vez que, tem se escancarado, ainda mais, o que já conhecemos: a desigualdade de condições na preparação das/os estudantes da classe da trabalhadora, negras/os, camponeses, indígenas do nosso país, que estão na rede pública de ensino e de quem está nas escolas privadas de acessar o ensino superior.

A suspensão das aulas das escolas e universidades é uma medida necessária para proteger as/os estudantes,professoras/es e demais trabalhadoras e impedir a propagação do vírus. O momento que vivemos é de zelar pelas vidas e salvar o povo, o que não é prioridade para esse governo. A decisão do governo Bolsonaro de manter o ENEM e as chantagens que condicionam a liberação do orçamento das universidades públicas à organização de aulas online é mais uma demonstração de autoritarismo e de exclusão aos mais de 2,3 milhões de estudantes que sequer têm computador ou acesso à internet.

Denunciamos as “falsas soluções” que o governo federal, estados e municípiostem proposto para “salvar o calendário escolar”, e não aceitamos:
1) a educação a distância (EaD) como alternativa, quando o objetivo central é transferir investimentos públicos para iniciativas privadas;
2) ataques ao Programa Nacional de Educação em Reforma Agrária (PRONERA), que permitiu que muitos jovens do campo, das águas e das florestas se formassem como agrônomos, médicos veterinárias, advogados, educadores e educadoras de diversas áreas;
3) o fechamento das Escolas do Campo;
4) a suspensão de contratos temporários dos educadores/as e trabalhadores/as da educação.

Nossa urgência é de salvar vidas! Por isso, exigimos a liberação de verbas para melhorar nossas frentes de combate ao novo coronavírus, para que nossas universidades possam produzir ciência, dando prosseguimento as suas pesquisas. Construam iniciativas para dá assistência as famílias sobre os cuidados que devem ser tomados neste período de isolamento social.  Transforme nossas escolas e universidades em hospitais de campanha, e garantam a distribuição dos gêneros alimentícios adquiridos com recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) as mães, pais e responsáveis pelos estudantes da educação básica, bem como os ensino superior.

Por isso, nos somamos na convocação das várias entidades estudantis, UNE, UBES, ANPG, no Adiamento do ENEM e de seguir em luta, rompendo as cercas do saber e na defesa e ampliação de uma Educação Pública, Gratuita e Popular. Não recuaremos nenhum passo da decisão de pintar a universidade de povo, de trabalhador, trabalhadora, indígena e camponês.  E esse governo já tem demonstrado que não é possível!

ADIA ENEM, FORA BOLSONARO!

JUVENTUDE EM LUTA, PELA VIDA E POR DIREITOS!

* Editado por Luciana Console