Famílias Sem Terra e posseiras preparam doação de 50 toneladas de alimentos neste sábado (30), no PR
Por Setor de Comunicação MST-PR
Da Página do MST
Milhares de famílias Sem Terra acampadas e assentadas, além de posseiros da região centro-sul do Paraná se uniram para a doação de aproximadamente 50 toneladas de alimentos para famílias moradoras da periferia de Guarapuava e Pinhão. A ação é em solidariedade às famílias urbanas que já enfrentam a falta de comida neste período de pandemia do novo coronavírus. A organização da atividade vem acontecendo há pelo menos duas semanas e a coleta dos alimentos ocorreu entre quarta e sexta-feira. A distribuição será ao longo deste sábado (30).
A diversidade das doações vai desde o feijão e arroz, que não podem faltar na mesa do povo brasileiro, até o pinhão e a erva-mate, típicos da cultura do sul do Brasil. Também será doado quirera, fubá, farinha de milho, batata-doce, mandioca, moranga, abóbora, derivados de leite, hortaliças, batata, limão, laranja, banana, sabão caseiro.
José Damaceno, integrante da coordenação estadual do MST, é um dos organizadores da ação. Para o agricultor, o período pelo qual o mundo atravessa é de crise humanitária estrutural, do ponto de vista econômico, social e ambiental, que já assolava os mais pobres e que agora se aprofunda com a pandemia da COVID-19. “Nós estamos vivendo um período de muita violência e disseminação do ódio. Neste contexto achamos que a ação de solidariedade tem um importante papel. É o exercício de um valor fundamental para a humanidade”.
O secretário-executivo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) – Regional Sul 2, Padre Valdecir Badzinski, realizou a benção dos alimentos nesta sexta-feira (29), no assentamento Nova Geração. Antes de assumir a secretaria da CNBB, o padre atuava como pároco na paróquia Divino Espírito Santo, em Pinhão. O religioso acompanhou e apoiou as famílias posseiras da comunidade do Alecrim quando houve o despejo violento em 2017.
“Esses alimentos são produzidos em propriedades da agricultura familiar, por irmãos nossos, dedicados, com sol, chuva, feriado, direto no serviço da agricultura para produzir alimentos aos seus, à sociedade e aos necessitados”, afirma padre Valdecir Badzinski.
O integrante da CNBB também irá acompanhar o início da entrega dos alimentos na manhã deste sábado em Guarapuava, ao lado do Padre Sebastião José Goulart, coordenador da Ação Evangelizadora da Diocese de Guarapuava.
A distribuição dos alimentos começará às 9h. Em Guarapuava, o início será pela Paróquia São Pedro e São Paulo, do bairro Xarquinho; passando pela paróquia São Luiz Gonzaga, no bairro Residencial 2000; no bairro Jardim das Américas, Paróquia Santa Terezinha; e no bairro Paz e Bem. Em Pinhão, os alimentos serão distribuídos nos bairros Colina Verde, Ouro Verde e Invernadinha.
Da destruição à fartura
Entre as comunidades que vão doar alimentos está o Alecrim, de Pinhão. A vila de posseiros ficou conhecida no Paraná e no Brasil após a repercussão do despejo violento e repentino ocorrido em 1º de dezembro de 2017. Naquele dia, máquinas destruíram uma igreja, casas, um posto de saúde, uma padaria comunitária e outras estruturas comunitárias construídas ao longo de 23 anos de ocupação da terra.
As 20 famílias do local viveram dias de desespero, sem terem tido tempo de tirar seus pertences das casas ou de colher a produção da roça. Uma semana depois, realizaram um protesto na rodovia PR-170, em articulação com famílias assentadas. No dia 14 de dezembro, decidiram voltar a ocupar a área e iniciaram a reconstrução da comunidade. Em fevereiro de 2018, a Justiça determinou a suspensão da reintegração de posse. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) já manifestou interesse em comprar a área.
Assim como a comunidade do Alecrim, cerca de metade dos 30 mil habitantes de Pinhão vivem em terras tomadas pela família Zattar desde 1940. Desde os anos 1990, o Estado reconhece a existência de conflitos que demandam a regularização fundiária das áreas na região, porém, a demora na efetivação coloca milhares de famílias e situação de ameaça de despejo. Estudos acadêmicos apontam a obtenção ilegal de terras por parte dos Zattar, donos de uma madeireira, bem como os malefícios que suas práticas geram à sociedade brasileira, inclusive com altas dívidas fiscais.
O artigo acadêmico “Madeira sem lei: memória de um conflito fundiário no Paraná”, publicado em 2010 pela pesquisadora Dibe Salua Ayoub, da UFPR, aponta que a empresa comprava madeira dos posseiros e faxinalenses entre as décadas de 1950 e 1980. Na época, a maior parte da população rural era analfabeta, e a madeireira ficou conhecida por aproveitar-se disso para enganar as famílias moradoras da região. Enquanto imaginavam estar assinando contratos para a venda da madeira, na verdade, formalizam a venda dos próprios terrenos, situação que dá origem a parte dos conflitos por terra na região.
Doações do MST
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra de todo o Brasil está em campanha permanente de solidariedade e já doou mais de 1.200 toneladas de alimentos. No Paraná, 28 acampamento e 36 assentamentos doaram cerca de 100 toneladas de comida saudável desde o início da pandemia até o dia 21 de maio. Também foram produzidas 2.200 marmitas agroecológicas e 400 máscaras de tecido.
*Editado por Luciana G. Console