Nota de esclarecimento sobre as prisões no MST do estado do Pará

O Movimento Sem Terra no estado do Pará vem a público esclarecer sobre as prisões de Manoel Souza, Eliana Tavares e Marcos Ferreira ocorridas na manhã de terça-feira, 09 de junho, em decorrência das investigações do assassinato de Alfredo Filho Rodrigues Trindade, durante a ação de reocupação do Acampamento Helenira Rezende, em 16 de setembro
de 2018, onde ele era acampado.

As prisões foram realizadas pela Delegacia Especializadas de Conflitos Agrários (DECA), que investiga o caso. À época da reocupação da fazenda Cedro, as famílias foram surpreendidas com o assassinato de Alfredo, mais conhecido como “Grande”. Na ocasião as próprias famílias acionaram a polícia e se colocaram à disposição para esclarecimentos, sendo que três pessoas identificadas como Joabe, Marco Aurelio e Milena, foram apontados como suspeitos do crime e logo após fugiram do acampamento e nunca foram localizados pela polícia.

Dos presos pela polícia dois foram acampados em 2018 no Acampamento Helenira Rezende, e 01 é acampado no Acampamento Hugo Chávez. Marcos Ferreira dos Santos, e Eliana Tavares Moura estavam na cidade de Eldorado, no ato das prisões.

Eliana era viúva do dirigente do MST João Careta, morto em 21 de junho de 2018 no Acampamento Helenira Rezende de um suposto acidente de moto que tem fortes indícios de assassinato, mas que não chegou a ser investigado.

Marcos Ferreira dos Santos, já integrou a militância do movimento atuando no coletivo de juventude do Acampamento Helenira Rezende, e já foi acampado nesta área, é pai, marido e trabalhador rural.

Manoel Da Silva Souza é dirigente do MST, pai de 05 filhos, residente no Acampamento Hugo Chávez desde 08 de junho de 2014, defensor dos direitos humanos, integra a lista dos ameaçados de morte pelo latifúndio do estado do Pará. Manoel possui um histórico de atuação forte na luta pela terra na região, vivenciou a voracidade da violência do latifúndio, foi despejado da fazenda Santa Tereza junto com as famílias do Hugo Chaves.

Em junho de 2018, foi perseguido, ameaçado e teve junto com sua família todos os pertences queimados na ação de despejo promovido pela milícia armada a mando do latifúndio durante a reocupação da fazenda Santa Tereza. Foi preso nessa manhã em sua residência no acampamento Hugo Chávez na frente de seus filhos pequenos, e de sua esposa, o dirigente não resistiu à prisão, mesmo assim foi algemado na frente de sua família.

Manoel, Eliana e Marcos são presos em um contexto de pandemia que tem colocado em risco a integridade da vida humana, todos têm residência fixa e não apresentam nenhum empecilho para o seguimento das investigações e afirmam não ter qualquer participação na morte de Alfredo.

O Movimento dos trabalhadores Rurais Sem Terra afirma que foram prisões arbitrárias com forte conotação política para intimidar o Movimento; repudia as prisões realizadas pela DECA, reafirma o compromisso com a vida, com a defesa dos direitos humanos na Amazônia e de todos os defensores da Luta pela Terra que tem sido criminalizados nesse
país.

Coordenação Estadual do MST Pará.
Marabá, 09 de junho de 2020