Parceria entre MST e Expressão Popular incentiva leitura nos assentamentos
Por Luciana G. Console
Da Página do MST
O esforço para fomentar a cultura e a educação na base social Sem Terra é presente desde a fundação do MST e várias conquistas em torno do tema aconteceram, é o que conta Edgar Kolling, da direção nacional do Movimento. “Em 1998 conquistamos o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). Em 1999, junto com outras organizações populares, constituímos a Editora Expressão Popular e em 2005 emplacamos a frase: Todas e todos Sem Terra estudando! Recentemente, batizamos a Biblioteca da ENFF (Escola Nacional Florestan Fernandes) com o nome de Antonio Candido, grande defensor do Direito à Literatura.”
A leitura como ferramenta de formação política ampliou ainda mais as forças dentro do Movimento no último ano. É o caso da iniciativa “Círculo de Literatura”, parceria do MST com a editora Expressão Popular, que tem como objetivo distribuir kits de livros para jovens assentados e acampados em todo o país.
Para Jailma Lopes, integrante do Coletivo Nacional de Juventude do MST, além de linguagem artística, a literatura é também um direito humano, assim como a terra, a moradia e a educação. Neste sentido, ela destaca a importância da formação humana pela literatura dentro do movimento. “Nossa principal referência é o Antonio Candido. No MST, foi se constituindo duas frentes de trabalho, a de ampliar e possibilitar acesso do povo Sem Terra às obras, mas também forjar escritoras e escritores de obras literárias. A literatura cumpre, portanto, um papel de humanização dos sentidos do sujeito Sem Terra.”
Ela conta também que a construção de um pensar e fazer literário na perspectiva da humanização e da transformação social se fortaleceu ainda mais com a realização do Seminário Nacional de Literatura nos Processos Formativos e Educativos do MST, que aconteceu em agosto de 2018, na ENFF.
Círculo de Literatura
Até outubro de 2019, foram enviados nove mil livros de literatura pela editora Expressão Popular para os estados. O Coletivo de Juventude foi responsável por organizar e mapear os jovens que gostam de ler e que tem disposição de serem animadoras e organizadoras dos círculos nos acampamentos, assentamentos e escolas. “Estamos na fase da distribuição que, diga-se de passagem, está bem bonito de ver a alegria da Juventude Sem Terra com a chegada dos livros nos territórios. Com o recebimento, a tarefa é convidar e mobilizar amigos, vizinhos, conhecidos e parentes, para fazer parte da Círculos”, explica Jailma Lopes.
De acordo com a militante, a dinâmica dos círculos está sendo realizada de acordo com as particularidades de cada território, principalmente por conta do atual contexto de pandemia da COVID-19. Entre as ideias, ela cita a possibilidade de escrita de cartas para serem colocadas nos livros que serão passados para frente, a realização de vídeos, programas de rádio, podcast, crônicas, resenhas, além de encontros online, de forma a socializar as experiências e pensar metodologias para o avanço do direito à literatura nos territórios.
Pelo direito à Literatura nas Escolas do Campo!
O Círculo de Literatura é uma iniciativa que faz parte da campanha “Pelo direito à Literatura nas Escolas do Campo!”. Projeto que teve início em 2019 e tem como objetivo ampliar o trabalho com a literatura nas escolas dos assentamentos e acampamentos e na organização ao longo de dez anos. O MST tem aproximadamente 1.500 escolas públicas em assentamentos e acampamentos (são em torno de 120 de Ensino Médio), nas quais estudam mais de 100 mil crianças, adolescentes e jovens.
“Em 2017, a propósito do Centenário da Revolução de Outubro (Revolução Soviética), assumimos no conjunto das instâncias do MST o compromisso de semear livros e forjar milhares de leitoras e leitores em nossas áreas. É nesse bojo que construímos a proposta de uma Jornada Nacional Pelo Direito à Literatura nas Escolas do Campo”, explica Edgar.
Ele ainda reforça que, para que a empreitada se efetive, é necessário a participação da organização nas instâncias nacionais, estaduais, dos diferentes setores e coletivos, das escolas e centros de formação. “Não se trata de uma iniciativa específica, mas sim do esforço coletivo organizado de conectar múltiplas iniciativas em um processo de intencionalidade comum em relação ao acesso às obras, ao cultivo do gosto pela leitura e a humanização dos sentidos”, finaliza o dirigente.
Por meio da Campanha, já foram desenvolvidas diversas iniciativas como: Palavras Rebeldes, Boletim da Educação n. 14: Literatura, Sociedade e Formação Humana, Tertúlia Dialógica Literária, Curso Literatura e Questão Agrária, Blog Arte Literária Sem Terra, além de espaço nas Rádios Comunitárias reservados para declamação de poesias, entre muitas outras.
*Editado por Wesley Lima