A experiência da rede de viveiros florestais de Minas Gerais
Por Raquel Vieira da Costa e Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira
Da Página do MST
O programa Semeando Agroflorestas, desenvolvido pelo MST junto a famílias assentadas de Minas Gerais, reúne ações de restauração florestal aliadas à coleta de sementes e produção de mudas nativas, frutíferas e de hortaliças. O principal método é a implantação de sistemas agroflorestais na perspectiva agroecológica.
O desenvolvimento desta iniciativa, que norteia o Setor de Produção de Minas Gerais na estratégia de proteção da natureza, da água e da biodiversidade, tem como marco a construção e evolução da cadeia produtiva de mudas e sementes no estado. O impulso inicial foi dado em 2016 com a assinatura de um convênio com o governo estadual, quando foram construídos quatro viveiros nas regiões Norte (assentamento Estrela do Norte), Sul (assentamento Nova Conquista), Vale do Rio Doce (assentamento Liberdade) e Triângulo (assentamento Emiliano Zapata), no intuito de produzir mudas nativas para reflorestamento.
Extrapolando seu fim produtivo, os viveiros se tornaram centros de referência regionais, com grande mobilização de pessoas e animação de processos. Seminários, capacitações, visitas acadêmicas, coleta e beneficiamento de sementes e mutirões são exemplos de ações desenvolvidas.
A iniciativa foi ampliada em 2018, com o início de um novo projeto em parceria com a Companhia Energética de Minas Gerais, que possibilitou o estabelecimento de outros dois viveiros, nas regiões Metropolitana de Belo Horizonte (assentamento Ho Chi Minh) e Zona da Mata (assentamento Denis Gonçalves).
Enquanto as novas estruturas eram construídas e fortaleciam as dinâmicas regionais, um novo desafio se apresentava para as experiencias pioneiras: após o fim do convênio, como dar continuidade às atividades e tornar a produção de mudas um empreendimento viável. É nesse contexto que surge o Grupo Gestor dos Viveiros.
O momento coincide com reflexões sobre o fortalecimento do cooperativismo no estado, que culminou na fundação da Cooperativa Camponesa Central de Minas Gerais (CONCENTRA), em 2019. Ao fim do convênio com o governo do estado em 2018, as atividades dos viveiros se mantiveram sob a coordenação do setor de produção estadual, para construção de estratégias de viabilidade econômica e possibilitar a transição dos empreendimentos às cooperativas regionais.
Neste contexto, foi então criado o Grupo Gestor dos Viveiros, composto por coordenadores e coordenadoras dos viveiros, representantes das cooperativas regionais e dos setores de produção e finanças do estado. A coordenação do projeto recém iniciado também integrou o coletivo. O grupo Gestor dos Viveiros foi se consolidando enquanto ferramenta de gestão e hoje é responsável pelo desenvolvimento da cadeia produtiva de mudas e sementes da CONCENTRA. Tem por objetivo fortalecer e integrar os empreendimentos regionais, a partir das seguintes estratégias:Acesso conjunto aos mercados estaduais e nacionais e desenvolvimento de mercados locais;
– Horizontalização das orientações técnicas e compartilhamento de experiencias;
– Compartilhamento de custos e ganhos e promoção de apoio mútuo;
– Compartilhamento de ferramentas de gestão e planejamento;
– Aperfeiçoamento da coleta de sementes para uso na produção de mudas e comercialização.
Desta forma, a rede de viveiros em Minas Gerais se caracteriza como um empreendimento integrado e cooperativo, com capacidade de alcançar escala suficiente para atender aos mercados mais amplos, ao mesmo em que potencializa os processos regionais. A diversificação de mercados sempre foi um dos principais desafios da rede de viveiros, em especial no contexto de desmonte das instituições e políticas ambientais no país promovidas pelo atual governo.
Hoje, a região da bacia do Rio Doce é o destino da maior parte das mudas produzidas pela rede, contemplando ações desenvolvidas no âmbito do programa Semeando Agroflorestas, para reparação de danos ambientais causados pelo rompimento da barragem de rejeitos no município de Mariana. Entretanto, a rede tem buscado diversificar e desenvolver produtos potenciais para o mercado local, como produção de mudas e hortaliças e frutíferas enxertadas, além de parcerias com prefeituras e entidades de públicas, como empresas de saneamento e distribuição de energia.
Contando atualmente com sete viveiros e seis grupos de coleta de sementes em três biomas e com capacidade de produção de mais de 1 milhão de mudas por ano, a rede de viveiros de Minas Gerias representa uma importante ferramenta de proteção e restauração ambiental. Os desafios ainda são muitos, mas seguimos na certeza de que o trabalho coletivo é o carreiro que nos levará mais longe nessa caminhada.
*Editado por Luciana G. Console