Agrotóxicos e cerrado: da degradação da fauna silvestre à impactos na vida humana
Da Campanha permanente pelos agrotóxicos e pela vida
O cerrado brasileiro é um território onde nascem as principais bacias hidrográficas do país. O uso indiscriminado de agrotóxicos tem sido uma problemática agravante, uma vez que há estudos que estabelecem uma conexão bastante evidente entre os monocultivos, a pulverização aérea, os inseticidas e a contaminação ambiental.
Prosseguindo a série sobre os biomas brasileiros, a live da Campanha Contra os Agrotóxicos colou para debate o tema: Cerrado e agrotóxicos. O bate-papo on-line foi retransmitido nas do Facebook e YouTube nesta última quarta-feira, 08.
Considerado berço das águas, o bioma foi alvo central do agronegócio nas últimas décadas, que devastou sua fauna e flora originais e atingiu diretamente os seus povos e comunidades tradicionais. Para falar sobre este tema, convidamos Isolete Wichinieski, da Coordenação Nacional da Comissão Pastoral da Terra e da Campanha em Defesa do Cerrado, para dialogar com a mediação do professor e geógrafo Murilo Souza.
Segundo Isolete, a maioria do território brasileiro e a América do Sul, depende dessa região para as águas porque a Bacia do Prata nasce no Brasil e vai até Argentina e Uruguai. Porém, está ameaçada pelo avanço do capital sobre essas regiões na disputa extremamente desigual por esse bem comum.
“Esse é o avanço do capital sobre essas regiões, e aí a gente tem que colocar que não é só o capital do agronegócio, mas também o capital financeiro, que tem interesses enormes por essa região. Aí nós temos várias empresas e outros ramos do capital que interferem diretamente nesse território (…) É essa disputa pela água.”
O projeto operado por esse sistema em continentes como América Latina e África está atrelado ao modelo de desenvolvimento colocado para o campo, que tem como base o uso intensivo e abusivo de agrotóxicos, que carrega como uma característica importante de impacto social, que é a expulsão das comunidades de seus territórios.
Acentuado pelo que muitos chamam de “expansão da fronteira agrícola”, mas que os povos do cerrado chamam de invasão, esse processo de expulsão ameaça esse berço das águas. Até a década de 1960, o cerrado era ocupado basicamente pelas comunidades tradicionais e por elas preservado. Atualmente, temos menos 50% do bioma é preservado e é considerado por muitos o celeiro do mundo.
Nesse sentido, Isolete salienta o quanto essa política de violência para o campo na região tem impactos profundos. “Eu digo que têm muitas formas de ‘grilar terra’: ou é invadindo a própria comunidade, ou expulsando as famílias, ou não garantindo as políticas públicas necessárias pra essas comunidades se manterem no território, que é esse espaço que elas querem realmente viver”, afirmou.
Assim como diversos territórios e biomas brasileiros, não existe cerrado sem os povos. Pois estes povos e comunidades atuam como guardiões da riqueza e biodiversidade existente na região. Esse mesmos povos fazem do cerrado o seu lugar para viver, garantindo sua existência e dos seres que compartilham os mesmo habitat.
“A natureza é um conjunto. Discutir vida humana significa também discutir a manutenção dessa biodiversidade… riqueza não se mede pelo volume de lucro que se tem, mas se mede por aquilo que desenvolve o seu país e que isso fica com as pessoas. Uma riqueza cultural, ecológica e histórica do processo que a gente vive”, salientou Isolete.
Para quem perdeu o vídeo completo da nossa conversa sobre o Cerrado e agrotóxicos está disponível nas nossas redes!
E dando a sequência de série de lives da Campanha Contra os Agrotóxicos, nesta semana abordaremos o Pantanal. Considerada a maior planície inundada do mundo, o Pantanal tem sofrido com o avanço do agronegócio a tentativa de excluir sua porção seca dos limites do bioma.
*Editado por Fernanda Alcântara