Movimentos doam mil marmitas em Curitiba e cobram combate aos agrotóxicos e à fome
Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR
Da Página do MST
Desde a dupla tradicional arroz e feijão, até os ingredientes como a carne, mais rara no prato de quem passa por dificuldade financeira, todo o cardápio das mil marmitas distribuídas gratuitamente nesta quarta-feira (22), em Curitiba (PR), veio do trabalho de agricultores e agricultoras familiares e da reforma agrária.
A ação foi realizada em homenagem ao Dia Internacional do Agricultor e da Agricultora Familiar, comemorado no sábado (25), e cobra o avanço de políticas públicas de combate à fome e de incentivo à Agricultura Familiar e à Reforma Agrária, e denuncia os efeitos nocivos dos agrotóxicos.
Quem recebeu as quentinhas foram pessoas em situação de rua do centro da capital, trabalhadores de aplicativos de entrega e moradores da vila Uberlândia, do bairro Portão. Em comum, elas enfrentam a angústia de não terem garantidas as três refeições básicas do dia, por consequência da pandemia da Covid-19 e das políticas públicas insuficientes por parte do Poder Público.
Daniel Vilanova é professor de Educação Física e, diante do desemprego, trabalha como entregador por aplicativos há três meses. As jornadas são de 8 a 12 horas por dia para “conseguir sobreviver e pagar as contas”, explica. “Disponibilizar o alimento para quem está na rua, dando a cara a tapa, se expondo, ajuda demais, porque não precisamos tirar dinheiro do bolso para suprir uma necessidade básica”, garante.
Na outra ponta, que produziu os alimentos que compuseram o cardápio de hoje enfrenta a falta de políticas públicas de apoio à produção e o congelamento da reforma agrária. Somente quatro meses após o início da pandemia, a Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 753/2020 nesta segunda (20), com a previsão de medidas para socorrer agricultores familiares enquanto durar a crise da Covid-19. Agora a matéria ainda depende da análise no Senado Federal e, se aprovada, da sanção presidencial.
Parte da produção das refeições ocupou o Mercado Municipal de Curitiba. “Hoje é muito simbólico pra gente trazer o nosso projeto político da classe trabalhadora do campo para esse espaço”, explica Mirelle Gonçalves, integrante do MST que integrou a equipe que cozinhou no Municipal. Para além da produção sem agrotóxico, ela apresenta a agroecologia como opção do Movimento para a vida no campo. “É pensar a comunidade, pensar o campo, outras relações, e principalmente outras relações dos seres humanos com a natureza”.
Como parte da ação desta quarta-feira, o Viaduto do Capanema, no bairro Cristo Rei, em Curitiba, amanheceu com faixas girantes com as frases “Agrotóxico Mata”, “Agricultura Familiar pro Brasil não passar fome”, “Pelo Direito à Vida Fora Bolsonaro”. O governo Bolsonaro já liberou 701 agrotóxicos em pouco mais de um ano e meio de mandato,150 apenas durante a pandemia de coronavírus.
Direto do campo para as mãos de quem mais precisa
O arroz veio da Cooperativa da Reforma Agrária Coana, de Querência do Norte; o feijão da cooperativa Copacon, do assentamento Eli Vive, de Londrina; a batata doce, repolho e frutas da cooperativa Terra Livre e das famílias do assentamento Contestado, da Lapa; a batata salsa e repolho da produção familiar Colônia Marcelino, de São José dos Pinhais; a mandioca, do acampamento Che Guevara, localizado entre os municípios de Faxinal e Ortigueira; beterraba, abobrinha e cenoura, do produtor Alexandre Onishi, de São José dos Pinhais, e do Vale do Encanto, de Bocaiúva do Sul; a carne de porco e a banha, do Frigorífico Familiar Maccari, do Sudoeste do Paraná.
“Pra mim que sou agricultora e faço todo o processo de plantar, colher, preparar o alimento, é uma satisfação que não tem tamanho, é uma alegria”, resumiu Rudineia de Souza, agricultora Sem Terra acampada na comunidade Zilda Arns, em Florestópolis, que contribuiu com a produção das marmitas.
Junto de cada uma das marmitas, também foram entregues frascos com composto de mel com açafrão, produzidos no assentamento Contestado pelo Setor de Saúde do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), para melhora da imunidade; uma máscara, um frasco de álcool em gel, além de um copo de água da Sanepar, para atender especialmente a demanda das pessoas em situação de rua por acesso à água potável.
Ação conjunta
A produção das refeições já ocorre toda a semana por iniciativa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e organizações parceiras, com o nome Marmitas da Terra. Com a ação desta quarta-feira, o número de marmitas distribuídas até agora chega a 8.800 refeições.
Rudineia de Souza contribui com a produção das marmitas desde o início, há três meses, relembrando que os primeiros mutirões de produção começaram com 500 marmitas: “Está sendo uma experiência maravilhosa. Deu certo de fazer as mil marmitas. É um processo que começou lento e que a gente acabou conseguindo fazer ele crescer”.
Além dos assentamentos e acampamentos do MST e dos agricultores familiares, fazem parte da iniciativa as campanhas Periferia Viva e 1 Milhão e 1 Real, o Movimento Nacional da População de Rua (MNPR), a organização de direitos humanos Terra de Direitos, a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida, a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o mandato do deputado estadual Goura (PDT), a Liga Brasileira de Lésbicas (LBL-PR) e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM).
Doações de alimentos frescos e industrializados em áreas da reforma agrária do MST do Paraná têm acontecido toda semana, desde o início da pandemia. Até agora, 258 toneladas de alimentos foram partilhadas no estado. Neste sábado também haverá a doação de 200 toneladas de alimentos na região centro do estado, por famílias acampadas e assentadas do MST.
*Editado por Fernanda Alcântara