Sindipetro lança curta sobre rede de distribuição de alimentos orgânicos do MST
Por Guilherme Weimann
Da Página do Sindpetro
Na próxima terça-feira (28), no Dia do Agricultor, o Sindicato Unificado dos Petroleiros do Estado de São Paulo (Sindipetro Unificado-SP) lança um mini documentário denominado “O elo da semente”. O curta-metragem de nove minutos apresenta a parceria construída com integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), com o objetivo de contribuir com a venda e distribuição de alimentos orgânicos cultivados em assentamentos da região de Campinas (SP).
A partir do diagnóstico de que a distribuição era o gargalo da cadeia de produção da reforma agrária, petroleiros e voluntários decidiram criar um grupo de WhatsApp, desde agosto de 2017, para potencializar a venda de orgânicos da Cooperativa da Agricultura Familiar de Americana, Cosmópolis, Limeira e Piracicaba (Cooperflora).
Semanalmente, os participantes se inscrevem para comprar uma cesta com cinco quilos e uma variedade de sete verduras e legumes orgânicos, selecionados a partir da colheita, pelo valor de R$ 28. Os alimentos podem ser retiradas na sede do Sindipetro Unificado-SP ou recebidos em casa, por meio de um serviço de entrega.
Em todas as etapas (produção, distribuição e consumo) desse processo, destaca-se o papel das mulheres. Uma delas é a agricultora do Assentamento Milton Santos, Ariele Caroline Contrigiani, que explica o significado da frase “se o campo não planta, a cidade não janta”, comum de ser escutada nas marchas do MST.
“Eu defendo muito que o alimento tem um papel fundamental nessa batalha das ideias. Hoje a logística é difícil, não é uma coisa simples. As pessoas da cidade não entendem o quanto são importantes para todo esse processo. Isso é uma tarefa de todo mundo”, opina Ariele.
O início da etapa de distribuição, entretanto, não seria realizada sem o esforço de uma moradora urbana. Funcionária há mais de 20 anos do Sindipetro Unificado-SP, Ednéia Aparecida Vaz chama atenção para a parceria história entre a categoria e os trabalhadores sem-terra.
“Esse sindicato sempre teve uma parceria muito grande com os companheiros do MST. Já é uma parceria de longa data. Começou com o Assentamento I e II, de Sumaré. Inclusive, esses companheiros assentados em algum momento da história doaram cestas para os petroleiros durante uma greve”, recorda Néia, como é popularmente conhecida.
Outra peça fundamental para a manutenção desse projeto é a voluntária Raquel Arouca. “O pessoal do MST dá um toque: ‘agora vocês podem começar a pedir’. A partir daí começa circular uma lista. Eu me voluntariei para ficar dentro do grupo dos consumidores, organizando essa lista. Já que o sindicato tem essa capacidade de fazer essa ponte entre o campo e a cidade, por que não?!”, reflete Raquel.
Já as entregas ficam sob responsabilidade da integrante do Coletivo aos Brados, Lucia Castro. A militante, expulsa de casa devido a sua orientação sexual, tem sua história atrelada desde então com a reforma agrária.
“Quando eu saí de casa, o primeiro local que eu fui morar foi um acampamento urbano do MST, foi o abrigo que eu encontrei. Hoje eu participo, junto com o sindicato, como o elo dessa corrente, da produção do assentamento até chegar à mesa da população”, pontua Lucia.
Reforma Agrária
A história de ambos os assentamentos do MST é permeada por muita luta e resistência. O território do Assentamento Elizabeth Teixeira, regularizado em 2019, esteve envolvido em disputas por décadas.
As terras estão localizadas no Horto Florestal Tatu, em Limeira (SP), e pertenciam à Secretaria de Patrimônio da União (SPU), remanescentes da antiga Ferrovia Paulista (Fepasa). Com cerca de 700 hectares, a área está destinada à reforma agrária desde os anos 1980, mas sua oficialização ocorreu apenas em 2008, por meio de uma portaria do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, que a cedeu ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).
Entretanto, o local foi utilizado pela Prefeitura de Limeira durante todos esses anos para outros fins, como aterro sanitário, kartódromo, estande de tiro, pista de motocross, aeromodelismo, presídio e parque de lazer.
O MST ocupou a terra desde 2007 e, após uma série de despejos e ameaças, conseguiu uma área de 124 alqueires divididos entre 104 famílias. Entretanto, o movimento ainda luta para assentar outras centenas de pessoas sem-terras da região.
Já o Assentamento Milton Santos tem sua origem em 2006, quando 68 famílias foram assentadas pelo Incra. Entretanto, as tentativas de despejo do grupo econômico que reivindica as terras se estendem até os dias atuais.
A Usina Ester alega ter direito sobre a área arrendada do grupo Abdalla – fundado pelo falecido empresário José João Abdalla, que em vida respondeu a mais de 500 processos, segundo levantamento do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), da Fundação Getúlio Vargas. Um desses processos é justamente o que concedeu a área, hoje pertencente ao Assentamento Milton Santos, ao Incra, em 1976.
Os controladores da Usina Ester são os empresários Antônio Carlos Coutinho Nogueira e José Bonifácio Coutinho Nogueira Filho, donos da EPTV, afiliada da Rede Globo em Campinas.
Diante dessa disputa desigual pela terra, o que se coloca como bandeira central é a luta pela reforma agrária. “A reforma agrária solucionaria parte do déficit de moradia e alimentação. Reforma agrária é um sonho, possibilitaria a gente dialogar com todas as frentes da população humana”, sugere Lucia.
Em tempos de pandemia, nada melhor do que fortalecer a solidariedade de classe e empatia com o próximo. “Tudo foi feito para viver em harmonia. Quando se planta de tudo um pouco, de tudo dá. A natureza tem que se ajudar. Quando a gente está em coletivo, vive muito melhor”, provoca Ariele.
Confira abaixo o teaser: